Epitalâmio

Quem gosta de escrever fica inventando moda para chamar a atenção dos leitores. Por isso, botei esse título esquisito no texto, tentando fis...



Quem gosta de escrever fica inventando moda para chamar a atenção dos leitores. Por isso, botei esse título esquisito no texto, tentando fisgar você pela curiosidade. Se fisgou, então, deu certo! Epitalâmio quer dizer, canto de amor. Simples assim! Mas, se eu tivesse intitulado o texto desse jeito, talvez, você não teria começado a leitura. Agora, já que começou, continuemos! Aqui é assim: ajoelhou tem que rezar! Se você conseguir chegar ao fim da leitura e fizer um bom comentário farei um "epitalâmio" para você no dia do seu casório. Posso até escrever mas, ler eu não o farei nem morto.

Epitalâmio, também foi um jeito dos escritores pobres tirar dinheiro dos ricos para comprar o leitinho das crianças. Afinal, cada um joga com as ferramentas que possui. Assim, quando uma moça rica conseguia sair do atoleiro, um poeta aparecia com um texto de amor realçando a “beleza” da moça, as virtudes de seu pai, ou, pasmem, até a "beldade" da sogra, com objetivo de tirar alguma “plata” dos ricos. Acho que os responsáveis pelo colunismo social, de nossos jornais, modernizaram tal costume acrescentando fotos, nos textos e alguns adjetivos, do tipo: Borbulhantes... na Nigth... na ferveção...macérrima, com muito acento no “é”, etc...

Dizem que foi agindo assim, que o escritor mineiro Basílio da Gama (1741 – 1795) que, pelo visto, “tinha mais talento do que brio”, se livrou da prisão e da condenação ao degredo na África. Preso em Portugal, pelo Primeiro Ministro, Marquês de Pombal, acabou sendo solto depois de escrever um “epitálamo” sobre o casamento de sua filha a “Excelentíssima Senhora D. Maria Amália”. A seguir, mostro dois recortes da “bajulação”. O grifo onde realça o “bom exemplo” do pai, é meu:

Ninfas desta aspereza aos Céus vizinha, (1)

Cingi-me a frente do arrojado loiro:

Torne a correr a mão cansada minha

C'o plectro de marfim as cordas de oiro. (2)

Oiça dos sete montes a Rainha,

Oiça o Danúbio, o pátrio Tejo, e o Doiro.

Amor na minha cítara se esconda,

E Amália, Amália o Eco me responda.

 

Entra Esposa imortal de Amor no templo,

Dá à Pátria, que te ama, e se desvela,

Doces frutos de amor (eu os contemplo)

Sucessão numerosa, ilustre, e bela:

Que siga os passos, e o paterno exemplo,

E se deixe guiar da sua estrela.

Que de fortes leões leões se geram.

Nem os filhos das águias degeneram(3)

Vale dizer que Basílio da Gama foi Jesuíta, por algum tempo, mas, acabou saindo da Ordem, depois que Marquês de Pombal resolveu expulsar os Jesuítas do Brasil, sob o pretexto de modernização do país. Em Portugal ele foi preso mas, conseguiu, com seus elogios, aplacar o ódio do Primeiro Ministro, além de livrar-se da prisão.

No mesmo ano que publicou o “Epitalâmio” (1769) publicou também o seu livro mais famoso, “O Uraguai”, “poema que tem em suas entranhas um discurso e uma visão de mundo totalmente afinados com as diretrizes políticas de Pombal”. Sobre esse poema, ainda falaremos aqui. Mas, como se pode constatar, o “viralatismo” no Brasil começou mesmo antes de “raiar a liberdade no horizonte”. Valha-me Deus!

1- Aspereza: Cintra

2- Oiro: Timbre da Excelentíssima Casa de Oeiras.

3- Fonte: https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=30693

Imagem de talpeanu por Pixabay

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