A criança como modelo

Parece que não existem muitos especialistas em convivência humana. De fato, a boa convivência é sempre um desafio. Jesus deu-nos algumas dicas sobre o assunto. Tomo por base os capítulos 18 e 19  do Evangelho de São Mateus. Chamo a atenção sobre os três pontos que aparecem no capítulo 18: Humildade, correção fraterna e perdão. As palavras são curtinhas, mas o desafio para colocá-las em prática é enorme! Esse capítulo fala da necessidade de nossa conversão. No  capitulo seguinte (Mt 19, 13 - 15), Jesus irá dizer que o Reino de Deus pertence aos pequenos! Nesse caso, o tapa de luvas foi para os discípulos e para todos nós que gostamos de valorizar as pessoas grandes e influentes. 

Quando os discípulos discutiam sobre qual deles seria o maior, Jesus tomou uma criança, colocou-a, no meio deles, e a citou como exemplo (Mt 18,2ss). Com esse gesto, não quis infantilizar ninguém mas, dizer que,  diante de Deus, devemos ter uma inocência espiritual que nos leva a:  Entregar a ele o comando de nossas vidas; ter consciência que sem ele nada somos; ter uma confiança absoluta em seu amor por nós.

 As crianças confiam, não guardam mágoas, não se preocupam com caderneta de poupança e nem com diferenciações sociais. Com, apenas, um punhado de balas se faz uma festa para elas. A fome dos adultos, por outro lado, não é fácil de ser saciada. Queremos tudo! Nessa ambição desmedida, matamos e morremos. Nossos desejos de posse, fazem de nós, um saco sem fundos! A criança é o melhor símbolo da humildade e de simplicidade diante da vida. 

 Infelizmente, a sociedade de consumo tem alimentado a vaidade precoce nas crianças. Uma cabelereira me disse que algumas mães a procuram para fazer "alisamento progressivo" nos cabelos da criança sem perceber que isso  pode comprometer a saúde dela por causa do produtos químicos. No caso, a falta de juízo é da mãe. Esse tipo de preocupação ainda não faz parte do universo infantil.  Alguns pais querem comprar brinquedos caros para os filhos sem perceber que criança pode divertir, igualmente, com outros tipos de brinquedos.   O que faz tanta diferença para os adultos não importa muito às crianças. Elas são bem mais simples nos seus desejos.  

Outro ponto, sobre o qual, Jesus chama nossa atenção, nessa parte do Evangelho, é a correção fraterna (Mt 18, 15ss). Sobre esse ponto gostaria de ressaltar algo. Temos muitas dificuldades em corrigir os erros do outro e aceitar que ele nos corrija. Nossa autoestima costuma ser exagerada e, por isso, não admitimos críticas. Somos especialistas em revidar quando as observações do outro vão de encontro às nossas vaidades. Às vezes, comentamos com terceiros aquilo que deveríamos falar, diretamente, ao interessado. Falar pelas costas, além de ser falta de caridade, é injustiça, pois, quem age assim, não dá ao outro o direito à defesa. Jesus aconselhou: Se seu irmão pecar contra você, procure-o em particular e fale com ele. Se ele não lhe der ouvidos, converse com ele com testemunhas. Se ainda assim,  não funcionar, diga à Igreja. Só depois dessas etapas, é que você poderá deixá-lo de lado, sem nunca deixar de amá-lo. Desse dever não estamos livres! 

Não existe boa convivência humana onde não existe o perdão. Por isso, Jesus chama a atenção também sobre esse ponto ( Mt 18,21ss). A pergunta sai da boca de Pedro: Quantas vezes devo perdoar ao meu irmão? Pedro quis por  um limite. Olhe, que ele estava sendo até generoso ao falar sete vezes! Acho, que a maioria de nós, não seria capaz de perdoar sete vezes… Jesus não põe limites ao perdão. Setenta vezes sete, foi a resposta, isto é, sempre! Ele falou e deu o exemplo quando, do alto da cruz, foi capaz de perdoar até  quem o matou. Sem  perdão, nenhum casamento duraria e nenhum empreendimento humano iria para frente. O que melhor define o ser humano é sua condição de fraqueza. Somos fracos e erramos, ainda quando queremos acertar. Essa regra se estende a todos. Por isso, todos precisam aprender a perdoar. Hoje sou eu quem perdoa, amanhã eu serei perdoado.

Sem humildade, disposição para correção fraterna e sem perdão, a convivência humana seria impossível. Apesar de tão claros, nos derrapamos muito na hora de colocar em prática esses conselhos de Jesus. Que Deus nos ajude e nos ensine a conviver como irmãos! Que tenhamos um coração de criança conforme o desejo de Cristo. Amém!

Imagem de Hai Nguyen Tien por Pixabay