Santa Terezinha: Beijada por Deus!

Às vezes, ficamos parados e absortos no lado negativo das coisas como se contemplássemos tudo pelo avesso. Talvez, por isso, alguns leitores tenham estranhado o título desse texto. Soaria mais familiar, a alguns, certamente, se o texto fosse sobre “o beijo de Judas”! Esse beijo foi muito falado e, por isso, todos entendem o que ele significou: Traição, trevas e morte! Mas, quais seriam as realidades despertadas em nós, por um beijo de Jesus? Caso, você se sentisse beijado(a) por ele, isso não mudaria toda a sua vida e você não seria a mais feliz de todas as criaturas? Pois é. Foi assim que sentiu, um dia, Santa Terezinha após um momento de intimidade com Deus, junto à Celina, sua irmã. Conforme ela mesma nos disse, havia um mirante, próximo à sua casa, onde gostava de subir para rezar e contemplar o céu estrelado, ao cair da noite:

“Quão doces não eram as conversas que tínhamos todas as noites no mirante! Com o olhar absorto no longínquo contemplávamos a branca lua que se erguia suavemente por detrás das grandes árvores...As brilhantes estrelas que cintilavam no azul profundo do céu... O brando murmúrio da brisa vespertina que fazia flutuar as nuvens esbranquiçadas. Tudo elevava nossas almas ao céu, ainda que do mesmo não contemplássemos senão o puro reverso...”

Em momentos de pura contemplação como aqueles a santa confessou que sentia a alma expandida e, em virtude desse amor, encontrava na terra mesmo, Aquele a quem buscava no céu:

“O amor fazia-nos encontrar na terra Aquele quem procurávamos. Encontrando-o sozinho, deu-nos ele o seu ósculo (beijo), para que dali por diante ninguém tivesse motivo de desprezar-nos”

Esses encontros místicos de Santa Terezinha com Jesus fazia com que ela se sentisse uma habitante do céu. Essa sensação deveria ser mesmo indescritível a quem carregava o céu dentro do peito. Aliás, ao receber a comunhão ela tinha certeza que Jesus não desceu do céu para morar num sacrário, mas dentro de cada um dos corações humanos! O coração dela foi uma perfeita morada de Deus e sua intimidade com Cristo era tamanha que nem precisava de um diretor espiritual: Fazia contatos diretamente com Deus:

“Os diretores espirituais, eu os comparava a espelhos fiéis que refletem Jesus nas almas, achando que, no meu caso, o Bom Deus não se valia de nenhuma pessoa intermediária, mas aturava diretamente...”  

Também não deveria ser tarefa fácil ser diretor espiritual de um santo ou santa do porte de Santa Terezinha! O que me chama a atenção nela foi sua grande familiaridade com Deus. O seu jeito de rezar imitava uma conversa entre velhos amigos que se conheciam e se entendiam.  Mesmo sendo uma adolescente entendia de Deus e conhecia os seus segredos:

 “Por ser eu pequena e fraca, ele (Deus) rebaixou-se até mim, iniciou-me secretamente em assuntos de seu amor... Ah, se os entendidos que passaram a vida a estudar, viessem examinar-me, certamente ficariam admirados de verem uma menina de catorze anos, alcançar os segredos da perfeição, segredos que toda a sua ciência não lhes pode desvendar, pois que para possuir é preciso ser pobre de espírito!”

Após ler os escritos de Santa Terezinha sobre esse “beijo de Cristo” a imagem que me veio à mente foi a de um beija-flor. Ela, a mais linda rosa do jardim de Deus e Jesus representado pela mais graciosa das aves. É certo que Deus nos ama a todos com amor de mãe. Ele nos cerca de carinho e afeições. Qual a mãe não cobre o filho de beijos? Então, lhe pergunto: Você já sentiu-se beijado por Deus? O que isso mudou em sua vida?

Obs: As citações desse texto foram extraídas do livro: Histórias de uma Alma - Manuscritos autobiográficos, de Santa Terezinha do Menino Jesus - Manuscrito "A" - Cap V. São Pulo, Paulus, 1986

Imagem de tess por Pixabay