Não deixe o leite derramar!
São Lucas foi o evangelista que mostrou o maior número das parábolas de Jesus. Existem parábolas para falar sobre a caridade, sobre nossa ...
São Lucas foi o evangelista que mostrou o maior número das parábolas
de Jesus. Existem parábolas para falar sobre a caridade, sobre nossa relação
com os bens materiais e parábolas sobre a vigilância (Veja Lc 12,39-48). Nessas,
Jesus alerta aos seus, para que estejam vigilantes em sua volta. Mas, quanto
mais tempo uma pessoa demora em retornar mais relaxados ficamos quanto à vigilância.
Então, como deve ser a nossa espera por Jesus?
Existem duas maneiras de esperar. Quem espera um ônibus não
deve se ocupar com mais nada a não ser com a própria espera. A mãe que espera
um filho deve ajeitar muita coisa antes do nascimento da criança. A espera,
nesse caso, é uma espera inquieta. Quem vigia não deve cochilar nem dormir no
ponto. Caso contrário, poderá ser surpreendido pelo ladrão. O vigia deve agir
como quem ferve o leite. Você já ferveu leite? Qualquer descuido e ele se
derrama todo no fogão! Até parece que o leite no copo só fica esperando nossa
distração para se derramar todo... Por isso, nossa espera pela volta de Jesus, não
pode ser uma espera displicente. Deve ser inquieta e vigilante.
Existe um caso na mitologia grega que vai me servir para falar
desse tema. Trata-se de Argos, o cão de Odisseu. Conforme você já sabe, Odisseu
foi um herói grego que combateu na guerra contra Tróia. Após a guerra ele se indispôs
com posseidon, o deus do mar e esse criou-lhe toda forma de dificuldade no seu
retorno para casa. Por causa disso, ele demorou muito na viagem de volta e
enfrentou diversos obstáculos. Sua viagem transformou-se numa verdadeira “odisseia”.
Depois de muito tempo ausente de casa tudo se transformou: O seu filho cresceu,
o rebanho se modificou a até sua esposa Penélope andava as voltas contra as inúmeras
propostas de casamento recebidas. Todos supunham que seu marido estivesse morto.
Um dia Odisseu voltou e, grande parte, dos antigos moradores de Ítaca, sua
ilha, não o reconheceu. Argos, no entanto, seu antigo cachorro de estimação abanou,
alegremente, o rabo ao vê-lo chegar. Logo após esse cumprimento cordial o cão
faleceu, mas, não morreu sem antes ver o dono que tanto amava. Entre nós, no
entanto, as coisas são diferentes. Nem de longe temos a fidelidade de Argos ao
seu dono e, rapidamente, nos esquecemos das pessoas e dos compromissos
assumidos. Alguns se esquecem que juraram amor esterno em menos de trinta dias!
Além de Argos, Odisseu também não foi esquecido por Penélope.
Ela sempre acreditou que ele, um dia, voltaria. Até que esse dia se tornasse
realidade ela teve que driblar as inúmeras propostas de casamento que recebeu. As
propostas param nos desviar dos ensinamentos de Cristo são muitas e variadas.
Até que ponto nós conseguimos resisti-las? Não foram poucos os que se deixaram
seduzir pelo mundo... Até onde vai a nossa fidelidade a Deus? Alguns se embarcam
em canoas furadas em busca de aventuras e, só depois, percebem que antes eram
felizes e não sabiam.
Sabemos que Jesus vai voltar. Não sabemos a hora nem o dia.
Para mim, pode ser hoje e para você amanhã. Caso, ele venha hoje, será que
estamos preparados para esse encontro? A nossa espera por Jesus deve ser uma
espera vigilante como quem está de olho no peixe e no gato ao mesmo tempo. Não
esperamos o nada, esperamos uma pessoa, um rosto, e isso é o que dá sentido
para nossa caminhada. Caso contrário, iríamos nos parecer a um jogador que
chuta a bola em todas as direções sem saber onde estaria o gol do time
adversário. Pense nisso!
Imagem de Myriams-Fotos por Pixabay