O triste fim de Juvenal
Cabisbaixo e sombrio ele me procurou na manhã de um dia qualquer. Estranhei sua postura, antes tão cheia de vida, como se houvesse encontr...
Cabisbaixo e sombrio ele me procurou na manhã de um dia
qualquer. Estranhei sua postura, antes tão cheia de vida, como se houvesse
encontrado a fonte da juventude e agora daquele jeito. Juvenal, nome que acabei
de inventar, um bom nome para quem já passara dos oitenta, narrou-me sua odisseia:
Como eu estava enganado
com aquela mulher! Ela acabou convencendo-me a nos casarmos e só depois disso,
vi o tamanho do buraco em que fui entrar. Confiei nela cegamente e lhe passei
todos os meus cartões do banco. Depois que ela me teve nas mãos começou a
tratar-me com frieza e indiferença. Certo dia chegou mesmo a me ameaçar com uma
faca na mão. A coisa foi ficando cada vez mais insuportável. Graças a Deus hoje
ela foi se embora, não sem antes limpar, minha conta no banco. O carro, sem que
eu soubesse, ela passou para o nome dela e hoje só me restou uma égua baia e é
com ela que eu me viro para resolver tudo...
A voz de Juvenal era entrecortada de soluços. Sua dor estava
grande demais, pois, somente isso poderia fazer aquele homem machão se debulhar
em lágrimas diante de mim. Por um curto espaço de tempo, pensou ter acertado na
loteria. Afinal, já avançado em idade, conseguiu arranjar moça nova e poderia
até mesmo exibi-la como troféu aos amigos. Sorridente dizia: Burro velho gosta mesmo é de capim novo!
Bem que fora avisado por Totonho, seu irmão mais novo: Cuidado Juvenal, tem duas coisas que matam os velhos: mulher nova e
friagem na cacunda! Qual nada, aquele tipo de conversa brotava dos invejosos,
pensou Juvenal, enquanto vivia seu sonho colorido ao lado de Brenda. Brenda era
o nome da dita cuja, a “menina veneno” que dominou o coração de Sô Juju, o
Juvenal, para os íntimos.
Enquanto estava com a “Brendinha” Juju não queria dar mancada
e nem fazer feio, principalmente, na hora “H”. Era preciso muita água para
apagar a fogueira da moça. Mas, para quê
existe farmácia? E lá ia Seu Juvenal, toda semana comprar uns azuizinhos mesmo contra
as recomendações do seu médico. Todo homem tem que manter a sua dignidade,
assim pensava, enquanto passava no açougue para comprar lingüiça, para agradar
a princesa. - Lingüiça, sim senhor! Chegou a discutir com o açougueiro, certa
vez, que queria lhe empurrar outro embutido na ausência da lingüiça. Se não for
lingüiça, não levo nada, falou alterando a voz. Ele sabia que o prato predileto
de Brendinha era lingüiça com mandioca. Hoje, ô vida ingrata! Só tenho mandioca
cozida na panela, confidenciou-me entre soluços...
Depois da partida de Brendinha a vida de Seu Juvenal seguiu o
seu curso assim como a lua tem suas fases. Mas, a sensação que ele tinha era
que sua lua havia parado na minguante. Lá se foram os dias claros, lá se foram
as gargalhadas diante dos fartos pratos de linguiça! Hoje, a bem da verdade,
nem queria mais se alimentar. Brendinha foi uma espécie de veneno que ele tomou
em conta-gotas. Uma delícia de veneno!
O tempo passou e foram se os dias. No turbilhão dos
acontecimentos eu já nem me lembrava mais da conversa que tive com Seu Juju. E
agora, para meu espanto, vejo a notícia estampada no jornal: “Idoso encontrado morto já foi identificado”.
Na foto ao lado do morto, quem eu vejo aos prantos? – Ela mesma, Brendinha!
De óculos escuros parecia se esforçar muito para garantir um choro, ainda que
acanhado. Como viúva “inconsolável” a partir de agora ficaria com o resto dos
bens de Juvenal, inclusive, com a égua baia. Ô vida!
Coitado do moço gente!
ResponderExcluirKkkkkk. O Senhor teve a ousadia de contar um caso muito comum na vida de um simples mortal.
ResponderExcluirComo tem também o talento da escrita, expôs a vaidade do velho e a sua princesa de forma prazerosa de se ler com detalhes que torna o que era trágico em cômico.
O fim não podia ser outro. Ajeitou por completo a vida da Brendinha. Pois é! tudo tem um preço a pagar,
principalmente quando se quer mostrar um grande conquistador, mas esquecendo que seu tempo de validade estava vencido.
Os espertos costumam ter sempre seu troco, será qual o fim da tal Brendinha?
Quero ficar longe dessa Brendinha. Kkkkkk
ResponderExcluirA Brendinha tinha dinheiro
ResponderExcluirdeveria ter contratado uma mulheres carpideiras kkkkkkk
História triste, coitado do Juju, infelizmente mais uma realidade que está entre nós.
ResponderExcluirExiste aí nesta estória dois vaidosos , Juvenal que se achava conquistador de "princesinhas" devia ter tido o senso crítico , mas vaidoso!!! , Brendinha a esperta , egoísta também, é uma realidade , é um.preço que se paga por não querer viver seu próprio mundo e querer viver de fantasia.Mas é opção com preço de consequência .Tadinho do Juvenal.Que descanse em paz!!!
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