São Tomé esteve no Brasil.

  Não. Definitivamente o Brasil não é um país de fé. Em que pese a alcunha de “país mais católico do mundo” o que percebemos na prática não ...

 


Não. Definitivamente o Brasil não é um país de fé. Em que pese a alcunha de “país mais católico do mundo” o que percebemos na prática não confirma isso. Só agora entendo melhor esse “país tropical abençoado por Deus e lindo por natureza”. A falta de fé que norteia a vida de muita gente foi uma herança de origem. Vou lhe dar uma notícia em primeira mão, um “furo” de reportagem. São Tomé, o Apóstolo incrédulo de Jesus, esteve aqui, antes mesmo dos portugueses! Duvida? – Então leia o relato do famoso Padre Manuel da Nóbrega que morou no Brasil em 1549:

No Brasil os índios conhecem São Tomé e o chamam de Pay Zomé. Se acreditarmos na tradição legada por seus ancestrais, ele percorreu essa região e é possível perceber a marca de seus passos na margem de um rio. Fui ate lá pessoalmente e pude ver com meus próprios olhos quatro marcas de pés e de dedos humanos bastante profundas, que ficam cobertas quando da cheia do rio, e eles dizem que essas marcas ficaram impressas no solo quando quiseram matá-lo com flechas e que, no momento em que tentava escapar a seus agressores, o rio parou de correr para deixá-lo passar. Ele o atravessou sem molhar os pés e pôde retornar às Índias. Dizem também que as flechas lançadas contra ele pelos índios se voltaram contra eles, e que a vegetação se abriu diante dele para deixá-lo passar; Alguns dizem isso em tom de escárnio. Dizem também que ele prometeu retornar um dia. (1)

O Padre Manuel da Nóbrega não estava sozinho nessas “pesquisas”. Antonio Ruiz de Montoya, outro missionário e intelectual espanhol afirmou algo semelhante em seus escritos, “Conquista Espiritual realizada pelos religiosos da Companhia de Jesus” em 1639. Segundo ele “Tomé teria chegado à América em embarcações romanas que, partindo das costas africanas iam até a América, ou então chegou ali por milagre, o que é mais verossímil” Para ele os sinais de São Tomé poderiam ser percebidos na Ilha de São Vicente, perto de São Paulo e que ele mesmo teria descoberto o caminho que o apóstolo percorreu para chegar até a Ilha. Ele podia reconhecer os rastros de suas sandálias sobre um rochedo onde, supostamente, o Apóstolo teria pregado. Por causa da hostilidade dos índios à sua pregação, o Apóstolo rogou-lhes uma praga terrível: Alongou o tempo de amadurecimento da mandioca! (2) Só agora entendi, também, porque a Presidenta Dilma fez uma saudação à mandioca, há pouco tempo. Foi uma forma de ritual para expulsar um azar ancestral. Quando se trata de urucubaca é melhor partir para isso mesmo.

De posse dessa informação que irá mudar o seu dia, formulo, apenas, alguns questionamentos. Como os tais pesquisadores puderam conhecer os rastros de São Tomé?

Que razões os levaram a buscar o Apóstolo que, pelo visto, já estava ancorado na Índia lendo O Mahābhārata, para o Brasil espraguejando contra a mandioca?

O que teria levado o santo a deixar o oriente místico para embarcar numa odisseia com desfecho duvidoso?

Bom, ao que parece, as razões para afirmar esse mito são outras. Afirmando que os nativos do Brasil não se converteram nem às pregações de Tomé isso facilitaria a lógica da exploração, pois, sendo tão selvagens, dessa maneira, não eram humanos e só lhes restavam mesmo, os chicotes. É interessante observar que as narrativas justificam as posturas. Desqualificando os nativos ninguém poderia defendê-los... Além disso, a argumentação poderia ser útil à Igreja, pois se o Apóstolo chegou aqui, antes mesmo dos portugueses, a Igreja teria mais direito às novas terras do que a própria coroa. Vai entender!

Seja como for, acho que precisamos de novos exorcismos no Brasil. Além da mandioca, teríamos que saudar o côco ( é bom observar bem o acento!) o dendê e o pequi. O Pequi eu acrescento por minha conta e risco. Não vejo a hora de chegar  janeiro para saborear um prato de pequi com arroz. Não fique com inveja, pois inveja é pecado. E durma com um barulho desses!

 

1-     Nóbrega, Informação da terra do Brasil, 1549, em D´Olwer, p. 629 – Ob. Cit. no Livro “América Mágica” de Jorge Magasich- Airola/ Jean-Marc de Beer. São Paulo, Paz e Terra, 2000. Pg 74

2-     --------- Idem pg 75.

Imagem de NakNakNak por Pixabay

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  1. Um exorcismo em Brasília sairá muito demônio

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  2. Bom dia fico fascinado com a leveza com que o Sr aborda as questões e me encanto com a sua capacidade de colocar no papel histórias tão interessantes, obrigado padre valeu.

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  3. Desde que essas terras foram invadidas, o papel maior dos portugueses, foi extrair o máximo de nossas riquezas. A catequese ficou em segundo plano. Se tivesse sido o contrário, creio que nossa realidade seria outra. Aqui em casa ficou dividido certinho, Lívia e Luciana, gostam muito de pequi. Luan e eu não suportamos.

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