Uma só coisa é necessária

 

Uma só coisa é necessária, disse Jesus à Marta (Lc 10, 38 – 42), quando passou em sua casa em Betânia. Essa expressão de Jesus fica martelando em minha cabeça: - Uma só coisa é necessária! Que coisa seria essa, que uma vez conquistada, pode resolver todos os nossos dilemas? – Uma só coisa é necessária! –Seria isso verdade, num mundo que nos oferece tantas coisas onde cada uma parece brilhar mais do que a outra?

O Evangelho nos diz que Jesus ao passar pela Samaria não foi acolhido (Lc 9, 51 – 56) por seus habitantes. Logo em seguida, o texto mostra a boa acolhida que ele teve em Betânia. Nessa comunidade Jesus estava entre amigos e, por isso, ficava à vontade na casa deles, de Marta, Maria e Lázaro. Maria assentou-se aos pés dele para ouvi-lo com fazia um discípulo diante de seu mestre, como Paulo fez diante do Mestre Gamaliel (At 22, 3). Ela sabia que, naquele momento, era preciso aproveitar bem, a oportunidade, para saborear cada palavra que saia da boca de Jesus. Marta, no entanto, preocupada demais em arrumar a casa para as visitas nem prestou muita atenção nesse detalhe. Sentiu-se injustiçada pela irmã que a deixou sozinha no serviço da casa. Tomou coragem e reclamou com Jesus: O Senhor não se importa de me ver trabalhando sozinha enquanto minha irmã fica aí de tre-lê-lê com o Senhor? Jesus, a observou com ternura mas não deixou de lhe dar um puxãozinho de orelha: Marta, Marta, você esta estressada demais. Uma só coisa é necessária e Maria escolheu a melhor parte... Essa observação de Jesus deve ter lhe doído até a alma!

Voltando à pergunta inicial: O que seria essa “única coisa necessária”? Agora já podemos responder! É estar diante de Jesus para ouvi-lo com o coração!  Isso não quer dizer que devemos descuidar dos trabalhos para ficar o dia inteiro rezando o que  já seria um desequilíbrio. Deus não exige de nós o que está acima de nossas condições. Mas, essa “conversa intima” com Deus deve perpassar todos os trabalhos que teremos ao longo do dia. Seria como um fio que une as diversas contas do rosário. Por isso, é de fato, a única coisa necessária. Caso contrário, as múltiplas experiências do dia ficariam soltas e sem amarração. Nesse caso, seria melhor assentar-se aos pés de Jesus, na parte da manhã, quando o dia ainda nem começou.

Ao ler esse Evangelho temos que tomar o cuidado para não pender a balança só para um lado. Rezar é importante e trabalhar idem. Então, precisamos equilibrar as duas coisas. Não basta trabalhar o dia todo como formiga sem uma pausa para rezar e sintonizar-se com Deus. Também não basta ficar de joelhos o dia todo sem cuidar as inúmeras obrigações que temos. Infelizmente, grande maioria de nós se identifica mais com Marta do que com Maria. Alguns já não rezam mais ou, só buscam a espiritualidade, quando o caldo já entornou. Nesse caso, querem fazer em três dias o que não fizeram a vida toda!

Ao que parece, hoje já é comprovado, até mesmo pela ciência, que as pessoas que cultivam a espiritualidade têm mais qualidade de vida. Quem descobriu isso, não abre mão de ter um momento intimo com Deus ao longo do dia. 

Tenho o privilégio de celebrar a missa todo dia, pela manhã, e posso contar com um bom número de participantes na celebração. Trata-se de um público maduro na fé, pois ninguém se levantaria, de madrugada, para ir à Igreja rezar.  Como o público, quase sempre é o mesmo, isso nos possibilita uma continuidade muito salutar em nossas reflexões.  Quem participa dessas missas também trabalha e,  alguns, saem da Igreja, diretamente, para o emprego. Mas, penso que, nessas celebrações, buscaram o fio para unir as múltiplas vivências ao longo do dia. Eles aprenderam a conciliar Marta e Maria, pois, rezam e trabalham. Esse equilíbrio é fundamental. Em primeiro lugar buscam por Cristo, como o único necessário e o resto lhes vem por acréscimo.

Imagem de 🆓 Use at your Ease 👌🏼 por Pixabay