Ventos

Amanheci com uma grande vontade de escrever. Isso começou após a releitura do mito de Eros e Psique. Na estória, aparece um personagem, que ...


Amanheci com uma grande vontade de escrever. Isso começou após a releitura do mito de Eros e Psique. Na estória, aparece um personagem, que sempre me chamou a atenção. Trata-se do Zéfiro, o vento brando do oeste. Antes de qualquer coisa, gostaria de apresentar-lhe os principais ventos gregos:

Zéfiro (vento oeste) =  É o marido de Clóris, a deusa das flores e da primavera. Sem o marido, ela não seria ninguém. Voando sempre, o marido carrega para ela, o perfume e as sementes das flores.

Bóreas (vento norte) = Vento indelicado, de caráter devastador e capaz de grandes destruições. Assim como no caso de Zéfiro, ele também possuía uma legião de devotos, que anualmente, lhe prestavam culto. Raptou a noiva contra a vontade dela e lhe deu dois filhos (Zetes e Calais), que possuíam aparência humana, mas tinham um par de asas douradas sobre os ombros.

Euros (vento leste) = Vento que trazia chuvas e bom tempo.  Tomara que a moeda europeia, que leva seu nome, faça o mesmo, com relação à economia.

Notus (vento sul) = Trazia névoa e chuva. Sua mãe (Eos), era a deusa da manhã, que derramava o orvalho sobre as plantas.

Éolo = Deus, pai de todos os ventos. Vivia em Eólia, uma ilha flutuante, com seus seis filhos e seis filhas. Zeus dera-lhe o poder de acalmar e despertar os ventos. Com relação aos navegantes, ele se posicionava como aliado ou adversário.

No mundo grego, os ventos eram concebidos como divindades. Não se sabia ao certo, se tais divindades, eram masculinas ou femininas. Mas seguramente, todos(as) tinham asas potentes e podiam ajudar ou prejudicar os humanos.

No mundo judaico, ao que parece, os ventos jamais podiam ser concebidos como divindades. No entanto, poderiam ser mensageiros delas ou denunciar suas presenças. Como o judaísmo sempre foi uma religião monoteísta, então o mais correto não seria afirmar "as divindades", mas a divindade. Ao criar Adão, do barro da terra, Deus "sopra" sobre ele, para que o mesmo carregasse sua presença pela vida a fora. Todos se lembram da passagem bíblica onde o profeta Elias percebe a presença de Deus, no vento brando, na brisa (Cf: I Rs 19,9-14). Fugindo de Jezabel, com medo de tudo e de todos, Elias se esconde numa gruta do Monte Horeb. Deus, entretanto, convidou-o para fora da gruta, dizendo que ia passar por ali. Do lado de fora, Elias sente a presença de uma forte ventania ("um furacão que quebrava as rochas e rachava as montanhas"). Constatou que a presença de Deus não poderia ser anunciada por um vento daqueles. Depois que passou um fogo, passou também uma brisa suave. Ouvindo-a, Elias saiu com o rosto coberto em sinal de respeito. Finalmente, da brisa, veio a voz de Deus, que tranqüilizou e encorajou o profeta.

O vento, enquanto presença de Deus, encoraja e liberta. Na travessia do Mar Vermelho, Deus enviou o vento oriental, abrindo as águas, para que seu povo pudesse sair da escravidão rumo à liberdade(Cf: Ex 14,21). Jesus, no Novo testamento, acalma os ventos que ameaçavam virar a barca e amedrontava os discípulos. Após a ressurreição, manifesta-se aos apóstolos e "sopra" sobre eles.

Ouvir a voz do vento, talvez seja ainda hoje, uma condição de libertação pessoal e de encontro com a transcendência. Numa de suas canções, Pe. Zezinho diz: " O vento falou comigo, eu ouvi, ninguém ouviu. Ouvindo falar o vento, ergui o meu pensamento, e meu coração se abriu…". Numa outra música ele fala: "Nas asas do vento que vem. No dorso da nuvem que vai. Eu vou flutuando, no espaço infinito, pensando em meu Deus e meu Pai…" Flutuar, abrir o coração, respirar a liberdade, tudo isso experimenta quem é capaz de ouvir a voz do vento…

Tanto na tradição grega como na judaica, o vento possui muitas imagens e podem inspirar diversos comportamentos. Podem ajudar a voltar para casa (como Éolo fez com Ulisses, empurrando as velas de seu barco, rumo à Ítaca) ou sair da escravidão (como no caso da travessia do Mar Vermelho). Em qualquer situação, ele pode agir. É preciso, no entanto, que aprendamos a ouvir sua voz. Você consegue fazer isto? Os ventos ainda existem e sopram onde querem… Foram eles, ou ele, que me inspirou na escrita desse artigo. Agora, peço licença para terminá-lo. Alguém bate em minha janela. Talvez seja ele. Pelo tom da batida, deve ser Zéfiro. Quem sabe ele me traz um grande amor, que em meu caso já tem nome. Nele; eu sou, existo e movimento-me…

Imagem de Karl Oss Von Eeja por Pixabay

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