Aquela dona de dedo duro

  Sei lá, porque cargas d’água, ela deu para falar comigo, na fila, me cutucando sempre com o dedo indicador da mão direita. – Você sabe o q...

 


Sei lá, porque cargas d’água, ela deu para falar comigo, na fila, me cutucando sempre com o dedo indicador da mão direita. – Você sabe o que eu descobri, outro dia? – e lá vinha o dedo! – O fulano, irmão de cicrano, já foi casado com a irmã de minha tia... – Novamente, o dedo! – Pois é, essa fila não anda... O dedo mais uma vez!

Mesmo depois da fila pude sentir a textura lixenta daquele dedo inquieto que parecia ser feito de pele de jacaré. Pensei com meus botões: - Deve ser um problema de infância, talvez, explicado pela psicologia. Será que tem mesmo explicação psicológica, essa mania de alguns, de conversar e cutucar ao mesmo tempo? Teria lhe faltado algumas cutucadas na vida para ela agir assim? Matutei sobre isso, alguns instantes, enquanto a observava de longe. É melhor manter uma distância de segurança, nesses casos. Mesmo à distância dava para ver que ela procurava novas vítimas para o seu diálogo cutucante.

Deus, quando nos criou, deu uma função para cada dedo, mas, até onde sei, nenhum deles foi feito para cutucar os outros. Tem o dedo do “tinindo”, essa é uma gíria antiga que combina com minha idade; o dedo romântico que foi feito para o anel e aliança; o fura-bolo, que em hipótese alguma deve ser usado para isso, principalmente, se o bolo estiver quente; o dedo do meio, usado para as piores ofensas, mas que também não deve ser usado para isso. Quanto ao dedinho, bem ele também tem a sua função e não deve ser visto, apenas, como enfeite.

“Os dedos da mão não são iguais”. Esse é um jargão usual para se falar das diferenças. É claro que não! O fura-bolo, nem de longe, tem o porte elegante do dedo do anel. Foi, exatamente, com o fura-bolo que ela me tocava sem parar. Não que eu fosse um bolo ou um pão. Estou longe disso. Aquele dedo me lembrava uma vara de ferrão, um instrumento para me fazer reagir. Falar e cutucar ao mesmo tempo serve para testar a nossa serenidade. Caso contrário, se sai nos tapas! Valei-me Nossa Senhora dos aflitos! Mais um dedada e eu perderia a cabeça com aquela pobre mulher de dedo duro.

Imagem de Couleur por Pixabay

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  1. Boa noite Pe Geraldo Gabriel é muito engraçado mesmo! Meu Deus! Quanta criatividade nas funções dos dedos. Realmente a Psicologia explica que estas cutucadas são formas de receber atenção. Lembro-me da Irmã Dália só falava com cutucadas, no início eu ficava incomodada, nas com a convivência agente trocava as cutucadas. Saudades dela pessoa maravilhosa!

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  2. Adorei. Tem pessoas que realmente fazem isso sem sentir, mas incomoda.

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  3. Kkkkk. Muito legal esse seu observar.
    Conheço várias pessoas que pra falar o"A" te cutuca. Será porque? Kkkkk

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  4. Muito bom quando o Senhor usando do talento que tem na escrita manifesta suas observações neste conto, e consegue nos envolver na descrição com suas emoções.
    Gostei e fez das cutucadas do dedo duro um caso de bom humor admirável.

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  5. O texto é. Muito engraçado ! Também acho que a pessoa que fica cutucando é porque sente necessidade de chamar a atenção

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  6. Padre foi de humor este texto do Senhor e hoje estou lembrando de um cacoete que uma querida amiga tem e me incomoda muito.
    Esta amiga fala levando a mão à boca o tempo todo, o que dificulta o entendimento. Já comentei com ela sobre esta sua mania mas não adiantou, penso que faz sem sentir.
    Como pretendo convida-la a ir à missa na Mina do Padre Liberio em SJV, vou pedir lá esta intercessão porque parece que o tempo está é acentuando, e tem sido chato este cacoete!

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