Como vencer as tentações?
Em um sermão pronunciado na quaresma, em fevereiro de 1622, sobre a universalidade da tentação, São Francisco de Sales disse algo mais ou ...

Em um sermão pronunciado na quaresma, em fevereiro de 1622, sobre a universalidade da tentação, São Francisco de Sales disse algo mais ou menos assim:
A passagem bíblica de São Lucas (Lc 4,1-13) mostra que “Jesus foi levado ao deserto para ser tentado...” Dessa passagem podemos tirar muitos ensinamentos! Sabemos que ninguém está livre das tentações, mas, sabemos também, que ninguém deve buscá-las por vontade própria. Jesus foi ao deserto, não por vontade própria, mas, por ser obediente ao Pai. Submetido às tentações ele nos mostra como vencê-las. Podemos tirar da Sagrada Escritura dois exemplos diferentes para ilustrar isso:
O primeiro no vem do Rei Davi (2 Sm 11,1-4). Enquanto o seu exército guerreava ele passeava, ociosamente, sobre o terraço de sua casa. Foi quando viu Betsabéia, mulher de Urias, nua, a banhar-se, e caiu em tentação. Se ele não estivesse ocioso isso não lhe teria ocorrido. O desfecho desse episódio foi muito triste. Atualizando esse exemplo, podemos citar um dito popular: Mente vazia é oficina do diabo... Nesse caso, o Rei Davi, procurou e deu asas à tentação. Acabou tendo que pagar um alto preço pelo que fez.
O segundo exemplo vem de José, conhecido como “José do Egito”(Gn 39 ). Contra sua vontade, ele foi levado ao cativeiro egípcio quando adquirido por Putifar, eunuco do faraó. Por se tratar de um jovem muito bonito ele atraiu a atenção da esposa de seu senhor que procurou assediá-lo de todas as formas. Mas, ele resistiu às suas investidas e, por isso, mesmo sendo preso, foi protegido por Deus. José deu a volta por cima e acabou se tornando uma referência para o seu povo. Ele não procurou a tentação. Foi levado a isso mas, com a ajuda de Deus acabou superando-a.
Os dois exemplos nos ajudam a entender que, se formos levados à tentação, não devemos temer, pois Deus nos tornará vitoriosos. “Deus é fiel. Ele não permitirá que vocês sejam tentados além de suas próprias forças. Mas, com a tentação lhes dará os meio de sair dela e a força para suportá-la” (1 Cor 10,13). Os exemplos também nos ensinam que não devemos dar oportunidades ao tentador. O diabo é como um cão acorrentado; se não nos aproximarmos, não nos fará mal, embora tente nos assustar com seus latidos...
As tentações existem para todos, principalmente, para quem se dispõe ao serviço divino. Vejam, por exemplo, o que ocorreu com Ananias e Safira (Atos 5, 1-13) que, apesar de bem intencionados, acabaram pecando. Eles venderam a propriedade para dar o dinheiro aos apóstolos, mas na hora de entregar o dinheiro mentiram sobre o valor da venda. A gente pode enganar aos homens, mas não a Deus. Eles poderiam ficar com todo o dinheiro. O problema é que mentiram para Deus. Caíram na tentação de enganar o próprio Deus e acabaram pagando por isso.
Para vencermos as tentações nunca devemos confiar unicamente em nossas forças, mas na força divina. São Francisco de Sales chama nossa atenção para a oração do Salmo 91:
Quem habita ao abrigo do Altíssimo, e vive à sombra do Senhor
onipotente, diz ao Senhor: ‘Sois meu refúgio e proteção, sois o meu Deus, no
qual confio inteiramente’.
Do caçador e do seu laço ele te livra. Ele te salva da palavra que destrói.
Com suas asas haverá de proteger-te, com seu escudo e suas armas, defender-te.
Não temerás terror algum durante a noite, nem a flecha disparada em
pleno dia; nem a peste que caminha pelo escuro, nem a desgraça que devasta ao
meio-dia;
Podem cair muitos milhares a teu lado, podem cair até dez mil à tua
direita: nenhum mal há de chegar perto de ti.
Os teus olhos haverão de contemplar o castigo infligido aos pecadores;
pois fizeste do Senhor o teu refúgio, e no Altíssimo encontraste o teu abrigo.
Nenhum mal há de chegar perto de ti, nem a desgraça baterá à tua porta;
pois o Senhor deu uma ordem a seus anjos
para em todos os caminhos te guardarem.
Haverão de te levar em suas mãos, para o teu pé não se ferir nalguma
pedra. Passarás por sobre cobras e serpentes, pisarás sobre leões e outras
feras.
Desse salmo aprendemos algo maravilhoso! Como é feliz aquele ou aquela que é armado com a verdade de Deus. Ela lhe servirá de escudo contra as flechas dos inimigos e lhe garantirá a vitória. Vestidos com essa proteção divina não precisamos temer os terrores da noite nem as flechas que voam ao ar durante o dia. Foi por isso, que Jesus não caiu no papo do tentador. Ele estava protegido pela verdade, aliás, ele é a própria verdade, diante da qual, a mentira não tem vez. A especialidade do tentador é a mentira. Foi com base nela que fez cair nossos primeiros pais. O diabo é o pai da “fake news”!
A verdade de que fala o salmista é a fé. “Nós, que somos do dia, fiquemos sóbrios, revestindo a armadura da fé e do amor, e o capacete da esperança da salvação” (1Tes 5, 8). Quem está armado de fé não precisa temer nada; essa é a única armadura necessária para repelir e confundir nosso inimigo. Nada pode prejudicar aquele que reza o “Credo” e diz: Creio em Deus Pai todo poderoso...
São Bernardo, referindo-se a essas palavras do salmo citado disse que os terrores da noite de que fala o salmista são de três tipos: O primeiro é o medo é do das almas covardes e preguiçosas, O segundo é o das crianças e o terceiro é dos fracos.
O medo é a primeira tentação que o inimigo usa para desanimar aqueles que se propõem a um caminho de santidade. Diante da perfeição divina a pessoa teme nunca conseguir atingir a graça de ser santo. Assim, eles pensam: Esse caminho é muito alto para mim, jamais conseguirei percorrê-lo... A pessoa se esquece de que “Deus não dá a chuva maior que o capote”. Se Ele nos chama, também nos dará os meios para conseguir responder ao seu chamado divino.
A segunda tentação que pode levar a pessoa ao desanimo pode ser comparada ao “medo sentido pelas crianças”. Elas têm muito medo quando não estão nos braços da mãe. Quando ouvem um cachorro latindo começam a chorar até serem amparadas pelas mães. Nos braços maternos recuperam a força e a coragem. O salmista nos diz: Porque você teme, se está cercado com a verdade e armado com o forte escudo da fé. Segure na mão de Deus como fez São Pedro enquanto afundava ao caminhar sobre as águas. A mão de Deus jamais irá desamparar você!
A terceira tentação é o medo dos fracos. Por nada desse mundo eles querem que sua paz seja perturbada. Assemelham-se à Maria que, não queria ser perturbada por Marta, enquanto saboreava as palavras de Jesus estando postada a seus pés. Para esses tudo vai bem enquanto sentem as consolações de Deus. Caso contrário, ficam desesperados e dizem que Deus os abandonou. Ninguém consegue levar a vida sem um mínimo de perturbação. Isso, não significa que Deus o tenha abandonado. Nem todo dia podemos gozar das consolações de Deus.
Para finalizar nosso texto voltemos ao questionamento inicial: Como vencer a tentação? A resposta podemos obter rezando o salmo 91: Aquele que tem fé está armado com a verdade não temerá os terrores da noite; não terá o medo dos preguiçosos, nem o medo das crianças, ou o medo dos fracos. A catequese de São Francisco de Sales não termina aqui. Aqui termina o nosso texto. Ele servirá para você refletir e crescer em sua vida espiritual.
Obs: Esse texto foi inspirado no livro: Sermões de São Francisco de Sales para a Quaresma. São Paulo, Editora Imaculada, 2023
Imagem de Denis Doukhan por Pixabay
É preciso resistir ao demônio e suas tentações firmes na fé!
ResponderExcluirBia reflexão padre Geraldo. Hoje não existe resistência a quaisquer tipos de tentações o católico de hoje é fraco e cede fácil as tentações do diabo.
ResponderExcluirBeleza de texto! O Senhor acredito estava mesmo inspirado para passar tão boas reflexões recheada com citações dos salmos.
ResponderExcluirEstá muito apropriado falar das tentações que sempre nos atormentam, e foi bom lembrar que precisamos conjugar nossa resistência com a força da fé porque é nele que conseguiremos nos livrar do mal.
Parabenizo pelo texto, e ao final o capricho na escolha de um belo vídeo com boa música.