Oração pelas almas das abelhas
Assisti, faz algum tempo, a um documentário televisivo sobre qual gostaria de comentar com você. O programa mostrou alguns monges japonese...

Assisti, faz algum tempo, a um documentário televisivo sobre
qual gostaria de comentar com você. O programa mostrou alguns monges japoneses
que “rezavam” pelas “almas” das abelhas europeias que foram mortas pelas vespas
locais. À primeira vista, aquilo me pareceu absurdo. Por desconhecer a cultura
agi com ares de “superioridade” e como tantos outros, pensei: Que ridículo,
rezar pelas almas desses insetos! Parecia-me coisas de crianças, esse tipo de comportamento.
Assim que terminei de ver ao documentário, meditando sobre o assunto, percebi o
quanto estava errado. Vou explicar melhor:
Houve um tempo em que os japoneses daquela região, importaram
abelhas da Europa, visando melhorar a produção de mel local. Desacostumadas com
o novo ambiente, as abelhas foram vitimadas por suas rivais e, como eram muito
dóceis, não tiveram como se defender do pior. Um simples ataque das vespas
japonesas deixava o chão feito tapete com os corpos, sem vida, das abelhas
exportadas. De quem era a culpa por tamanha crueldade? Com certeza, não era das
abelhas. Aí é que entrou a necessidade da prece reparatória. O próprio homem,
vítima de sua ambição é que causara aquele desequilíbrio ecológico.
O exemplo dos monges me fez pensar bastante. Você tem ideia
de quantos indígenas mexicanos foram mortos pelos colonizadores espanhóis? De
25 milhões, antes da conquista, sobraram um milhão e meio após a mesma. Faço
questão de reproduzir o trecho de Hernán Cortês, ao rei da Espanha, em 1519, falando
de suas proezas no México:
“... E antes que fosse
dia, ataquei duas aldeias, nas quais matei muita gente. Não queimei as casas
para não ser apercebido com os incêndios pela aldeia vizinha. Ao amanhecer,
ataquei outra aldeia tão grande que, depois se contaram mais de vinte mil
casas. E, dado que ataquei, de surpresa, eles saíram para as ruas com as
mulheres e as crianças nuas... Vendo que não podiam resistir, os chefes vieram
procurar-me para me suplicar que lhes não fizesse maior mal; queriam ser
súditos de Sua Majestade e meus amigos e choram muito por ser culpados de não
me terem acreditado...” (Trecho da carta de Cortés ao Rei
espanhol de 1519, in Laurette Séjourné – História Universal: América
Pré-Colombiana, pág. 41)
Creio, que se os monges rezaram pela almas das abelhas que
morreram sem terem culpa, nós devemos rezar, muito mais, pelas almas dos povos
originários que foram e continuam sendo violentados e mortos em nosso
continente. A ambição dos colonizadores
marcou de sangue cada torrão da América. Mas, o pior é que a violência contra
esses povos ainda é uma realidade. Por onde andam os indígenas que habitaram
todo o nosso território brasileiro, no passado? O que foi feito das línguas que
eram faladas por aqui? O que sobrou da cultura africana trazida por escravizados
vindos de diversas partes da África? Alguém pagou pelos crimes recentes da
Ditadura Militar no Brasil? Quantos foram os desaparecidos cujos corpos ficaram
sem sepultura e sem direito ao velório?
Precisamos rezar, pois, muito sangue humano foi derramado por
aqui! A sensibilidade da mística oriental pode nos ensinar muita coisa. Se eles
rezam pelas abelhas, certamente, também rezam pelos crimes de outrora. Ninguém
melhor do que Ryunosuke Akutagawa, escritor japonês para falar da violência
cometida, no passado, naquela região do mundo. Os gritos abafados continuam
ecoando sobre nossas cabeças, e não podemos acertar o passo rumo ao futuro
enquanto não acertarmos as contas com o passado. É nosso dever honrar a memória
de nossos ancestrais injustiçados e não repetir os crimes dos culpados. Pense
nisso!
Muito bom... comovente!
ResponderExcluirQuando se estuda a verdadeira história do Brasil, se depara com esta atrocidade feita com índios e negros aqui, os índios pior ainda pq a terra era e continua deles, os negros os trouxeram pra cá pra mata-los , e hj ainda se vê isto aqui e em outros países da América.O colonizador é cruel, o ser humano é cruel.Rezar pela almas deles é muito pouco mas hj e o que resta fazer!!!
ResponderExcluirA vida é valiosa em toda a sua forma e em
ResponderExcluirtoda a sua extensão.
Texto interessante. Boa reflexão sobre nossos antepassados
ResponderExcluirCoitadinha das abelhas da Europa!
ResponderExcluirDeve ser por isso que chamam as abelhas de abelha Europa.
Meu pai falava Abeia Oropa kkk
Triste nosso passado. O ser humano é cruel
ResponderExcluirNão sabia desse episódio das abelhas, vamos rezar sim por todos que indignamente foram ceifados .
ResponderExcluirHistória triste e revoltante isto é fruto da ganância dos poderosos precisamos rezar bastante......
ResponderExcluirQue Deus nos livre de todo maldade contra nossos irmãos,animais e toda criatura de DEUS.Que saibamos obedecer a vontade de DEUS,e assim manifestar o nosso carinho, respeito e amor com todo o universo do Criador.
ResponderExcluirUfa! Seremos algum dia seres humanos mais evoluidos, para respeitar o outro irmão como seu igual? O texto faz uma amostra da triste história de dominação de povos e desrespeito ao direito de um convívio saudável, e tirando o direito natural da sua terra.
ResponderExcluirO paralelo com o universo das abelhas ficou interessante, afinal o ser humano tem muitos equívocos em suas ações, e tudo deve passar por respeitar o direito de existir onde for mais adequado.
A pessoa de bom coração sabe respeitar a todos desde o menor dos animais.
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