Ascenção do Senhor

 

Jesus esteve aqui, viveu conosco, morreu, ressuscitou e subiu ao céu. E agora José? O que fazer da vida sem a presença física dele? Como tocar o barco sem sentir sua companhia que trazia serenidade e paz nos momentos mais difíceis? Ele subiu ao céu e todos viram. Depois daquela cena memorável os discípulos não queriam arredar o pé do lugar. Permaneceram ali, feito estátuas, e só saíram em obediência aos anjos que disseram: - Homens da Galileia, porque ficais ai parados, olhando para o céu? Agora é hora de mexer o doce. O mexer o doce fica por minha conta...

Você já viu uma turma perdida quando morre o chefe da família? Pois é. Penso, que foi algo assim, que aconteceu aos discípulos após a volta de Jesus ao pai. E olha que nada aconteceu de repente. Após a sua ressurreição “durante quarenta dias” (At 1,3), Jesus apareceu-lhes falando do reino do céu. Após sua morte conviveu com eles e os instruiu sobre muitos assuntos. Fez com eles uma última refeição e depois disso os levou para as proximidades de Betânia (Lc 24, 50), e os abençoou. Enquanto os abençoava afastou-se deles e foi levado para o céu. Aos poucos, uma cortina de nuvens o encobriu (At 1, 9) de tal maneira que eles não o viram mais. A cortina de nuvens tirou Jesus do campo de visão deles mas não o tirou de seus corações.

Essa passagem bíblica lembrou-me um relato de Santa Terezinha do Menino Jesus que se via como um pequeno pássaro que se aquecia ao sol, ou seja, Deus. Quando a nuvem ocultava o sol de seus olhos, mesmo na sobra, ela tinha a certeza que o sol estava atrás da nuvem. Assim nunca perdia a confiança em Deus nas tribulações:

 “Nada a poderia amedrontar, nem o vento, nem a chuva. E quando nuvens carregadas vem encobrir o Astro do Amor, a avezinha não muda de lugar. Sabe que, além das nuvens, seu sol está sempre a brilhar, e seu esplendor não poderia eclipsar-se um instante sequer”. (História de uma alma – pp 217).

No tempo de Jesus, o sumo sacerdote, entrava no Templo, no Santo dos Santos, uma vez por ano e oferecia sacrifícios em expiação pelos seus pecados e pelos pecados do povo (Hb 9, 7). Jesus, qual sumo sacerdote dos novos tempos, sem pecado, adentrou ao céu uma única vez, após oferecer-se a si mesmo como vítima pelos nossos pecados. Vale destacar que nessa última visão que os apóstolos tiveram de Jesus “eles o adoraram”(Lc 24, 51). Confesso que daria tudo para registrar esse momento de adoração pois aquele foi um momento ímpar de despedida.

Uma vez, no céu, Jesus não separou-se de nós. Ele nos enviou e envia, continuamente, o Espírito Santo que nos guia e educa para recordarmos e colocarmos em prática seus ensinamentos. Um dia ele voltará glorioso para colocar um ponto final na história. Mas, só Deus sabe quando isso ocorrerá. Por ora, cabe a cada um de nós, plantar as sementes do Reino de Deus, pois o Reino começa aqui e agora.

Ao subir para o céu Jesus elevou nossa condição humana e revelou o que nos espera. Ele que desceu à nossa humilde condição, só o fez para nos elevar. O que nos espera é a glória de Deus e não um simples aniquilamento. Por isso, os apóstolos “voltaram para Jerusalém com grande alegria”. Dessa alegria todos partilhamos. Ela brota da certeza que nossa vida tem rumo certo, ou seja, os braços de Deus.  

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay