Osteoporose na alma
No Evangelho de Lucas, Jesus alerta os convidados de um banquete para que não disputem os primeiros lugares. Naquela refeição de conveniên...

No Evangelho de Lucas, Jesus alerta os convidados de um banquete para que não disputem os primeiros lugares. Naquela refeição de conveniência, o dono da casa, um chefe de fariseus, queria Jesus, por perto, para observá-lo. Mas, naquele dia, o caçador virou caça pois, quem os observou, de perto, foi Jesus. Observou como o comportamento da “galera” era movido pela vaidade. Todos disputavam os primeiros lugares (Lc 14, 1. 7-14). Fosse hoje, estariam disputando a imagem diante das câmeras feito papagaios de piratas que gostam de aparecer nos ombros alheios.
A vaidade é um pecado que nos acompanha desde a origem. O livro do Gênese já tratou do assunto quando a serpente disse à mulher: “Se você comer desse fruto ficará igual a Deus” (Gn 3, 5). Não deu outra! Ela comeu e ainda repartiu com o marido. A tentação foi forte demais! Quem não quer ser igual a Deus? Alguns, se pudessem, derrubariam Deus de sua cadeira e ocupariam o seu lugar. O outro nome disso é vaidade e, o seu contrário, é a humildade. Os humildes são amigos de Deus, pois, não competem com ele, pelo contrário, reconhecem seus lugares e procuram servi-lo. Diante de um grande favor de Deus, Maria disse: O Senhor lembrou-se da humildade de sua serva e, por isso, doravante hão de chamar-me de bendita (Lc 1, 48). Ela reconheceu sua pequenez e o grande favor que Deus lhe fez para o bem de seu povo.
O
Papa Francisco, disse, certa vez, que: “A vaidade é como a osteoporose da alma:
por fora os ossos parecem bons, mas dentro estão todos deteriorados."
(Santa Marta 22 de setembro de 2016). Adaptando sua fala ao Brasil poderíamos
citar o dito popular: “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”. A
vaidade é como uma bolha de sabão que, apesar do brilho intenso, não carrega
nada, dentro de si, além de um grande vazio e se esvai frente a menor brisa. Para
falar sobre esse tema, ainda poderia citar um trecho da música “A Banca do Distinto”
(1959), de Billy Blanco, cantada por Dolores Duran:
A vaidade é assim, põe o bobo no alto
E retira a escada
Mas fica por perto
Esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde
Ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro
Maior é o tombo do coco, afinal
Todo mundo é igual
Quando
o tombo termina
Com
terra por cima
E na horizontal
Mas voltemos ao texto bíblico. Todos devemos buscar a glória de Deus. O vaidoso, no entanto, busca a própria glória. Ele se vangloria. No segundo planeta mostrado em “O Pequeno Príncipe”, de Saint-Éxupery, morava, sozinho, um homem vaidoso. Ao ver a chegada do visitante ilustre, ele disse: - Que bom, você veio me admirar? Os vaidosos acham que todos os admiram! Em seguida ordenou que o principezinho batesse palmas para ele, em seguida ele agradecia tirando o chapéu. – E se o chapéu cair, interrogou o principezinho. Mas, ele não ouviu porque os vaidosos só ouvem o que lhes interessa. – É verdade que você me admira muito? - perguntou o vaidoso. Mas, em seu planeta só existe você, respondeu o Pequeno Príncipe. Não importa, retrucou o vaidoso. Admire-me, assim mesmo... Achando tudo aquilo muito estranho o Príncipe foi embora pois, aquele senhor estava com “osteoporose na alma”.
Nosso tempo é fortemente marcado pelo poder e pela sedução da imagem. Mas, a imagem pode não ter um correspondente na realidade. Pode ser apenas um simulacro, uma espécie de fantasma que desaparece ao acender a luz. Nessa cultura de representação, ninguém quer ter uma imagem borrada pois, ela conta mais que a própria realidade. Talvez, isso explique nosso desejo de sucesso e nossa sede do pódio. Ninguém quer ocupar o último lugar. Multiplicam-se os cursos que dão receitas de sucesso e na busca por isso, muitos embarcam em canoas furadas.
Certa vez, alguém que se propôs a seguir Jesus e perguntou-lhe, onde ele morava e ele disse: O Filho de Deus não tem onde reclinar a cabeça! (Mt 8, 20). Para nascer ele teve uma manjedoura, para morrer teve o lenho da cruz e sua sepultura foi emprestada. Isso nos diz muita coisa. Ele sempre ocupou os últimos lugares mas, para nós, esse lugar está fora de cogitação (*).
O
fariseu, dono da festa, mais interessado na “reciprocidade” convidou para a mesma,
apenas os seus pares. Talvez, a gente não seja muito diferente. Convidamos aqueles
que podem nos retribuir, afinal, “uma mão lava a outra”. Mas, Jesus deu-lhe uma
grande aula naquele dia: Quando deres um banquete convide, preferencialmente,
os pobres. Eles não tem como retribuir. Nesse caso, Deus “paga por eles” pois, “O
que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o
fizestes” (Mt 25, 40).
Seguir Jesus implica em “sair do próprio amo, querer e interesse ( Santo Inácio) e abrir-se ao outro, principalmente ao outro que nada pode nos retribuir. Afinal, esses são os prediletos de Deus.
Foto: Arquivo pessoal.
Humildade e simplicidade, eis o caminho da salvação!
ResponderExcluirDescer do salto, alto é algo de melhor, que podemos fazer durante nosso cotidiano. Reconhecer nossos defeitos, acolher o irmão necessitado, perdoar, podem parecer coisas impossíveis. Mas com oração e ajuda do Espírito Santo, são dons que se lapidam.
ResponderExcluirRealmente a vaidade estraga qualquer pessoa temos que tomar muito cuidado e a humildade precisa ser sempre trabalhada por nós, jesus é o nosso grande mestre, obrigado pela reflexão padre.
ResponderExcluirQue música verdadeira! Vaidade, orgulho, egoísmo estão infelizmente muito em evidencia. Que Deus nos ajude a ter o bom senso, ou melhor dizendo, a sabedoria de entender que os verdadeiros valores estão na contramão destes citados. Concluo que tem muita e boas reflexões a partir da leitura atenciosa deste texto evangelizador. Achei interessante a escolha de uma música para mesclar com as intenções da mensagens.
ResponderExcluirO que acho interessante na vaidade é ela não conseguir se esconder. Ela é escandalosa, boba mesmo! Ela se mostra inteira na sua roupa ridícula. A vaidade não tem pudor.
ResponderExcluirSenhor, fazei meu coração semelhante ao vosso!
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