Serenata de Amor
Imagino que, ao ler o título dessa crônica você pensou em algo doce. “Serenata de amor” fala de coisas boas do tipo, namoro, beijos e casa...

Imagino que, ao ler o título dessa crônica você pensou em algo
doce. “Serenata de amor” fala de coisas boas do tipo, namoro, beijos e
casamentos. Um casamento pode, muito bem, começar com uma grande serenata. Esse
nome sugestivo foi dado a um bombom que rivaliza com outro, de nome, igualmente,
sugestivo: “Sonho de Valsa”! Seria bom se juntassem as duas marcas. Assim a
coisa ficaria perfeita. Mas, vamos ao Sonho de Valsa: O referido produto constitui motivo para uma
eterna contenda entre eu e meu sobrinho Gilmar. Quando lhe afirmo que esse é o
único bombom, de verdade, ele nega dizendo que todos os bombons do universo, só
tem cheiro de cacau. Conscientização é um processo doloroso e, talvez, para
evitar isso os habitantes da Caverna de Platão prefiram viver nas sombras até hoje.
Sempre peço ao Gilmar para não tirar minha inocência a respeito dos bombons.
Prefiro sonhar com valsas saboreando um puro cacau ainda que meio “fake”. Na
falta da valsa, vai a serenata de amor mesmo, e está tudo certo.
Mas, não foi sobre bombons ou filosofia platônica a minha
intenção primeira, ao começar esse texto. Era sobre serenata mesmo. Serenata à
moda antiga, previno o leitor. Sou de um tempo, em que ainda se fazia serenata
com rádio. Sabia disso? Pois é. Então, devemos concordar que sou mesmo de outro
planeta.
O nome do moço era Zico, pelo menos, assim era conhecido por
todos. Só conheci uma pessoa que gosta mais de rádio do que ele. Euzinho aqui! Embora nada entendesse de eletrônica, assim
como eu, ele “fuçava” em tudo no aparelho. Até descobriu uma forma de ampliar a
vida útil das pilhas: fervendo-as em água morna! Funcionava? Naquele tempo onírico
tudo funcionava.
Na roça não tínhamos energia elétrica embora tivéssemos muita
energia para o trabalho pesado garantido pelas noites bem dormidas. As noites pareciam
mais longas pois, ninguém permanecia acordado após as nove da noite.
Tenho quatro irmãs que atraia os seresteiros, quando jovens.
Zico era um deles. O pobre coitado levava um pesado rádio, esticava suas
antenas e ainda corria risco de enfrentar Cartucheira, nossa cadela de
estimação. A cachorrada não lhe dava sossego para montar o aparelho no escuro.
Você já viu casa de pobre sem cachorro? A
gente desconfiava que toda aquela movimentação fosse de um seresteiro e, por isso,
nada fazíamos. Daí a pouco, começava lá fora, uma chiadeira danada. Era o rádio
de mesa do Zico, um “Semp,” bem criado, que “pegava” rádio até do Japão! Às
vezes, se ouvia música. Só às vezes. Depois que ligava o bicho saia de tudo:
Notícias, hora certa, placar esportivo... Era um prazer imenso! Acendíamos as lamparinas, as moças se
ajeitavam e abríamos a porta ao seresteiro. Ele adentrava a casa com rádio,
antena e tudo. Diante daquele aparelho, do outro mundo, o tempo passava rápido
demais. Mamãe servia café quente com bolinhos ou algo que estivesse guardado
para a ocasião. Pelo rádio, ouvíamos de tudo, menos serenata do amor ou sonho
de valsa. Depois de certo tempo o seresteiro partia com suas tranqueiras
debaixo do braço e a família voltava às camas. Antes de pegar no sono meu pai
dizia: Quanta modernidade, meu Deus!
Imagem de Daniel Friesenecker por Pixabay
Eu achava tão chique serenata. Podia ser de rádio à pilha, radiola sonata ou música ao vivo! Menos é sempre mais! Tudo tão simples e tão bonito! Não é saudosismo! É vida latente...
ResponderExcluirLembrei das histórias da minha mãe! Ela dizia que meu avô detestava as serenatas. Pra ele não tinha nada de doce e sim um motivo pra perder o sono kkkk
ResponderExcluirTempos bons que não voltam mais... Quantas vezes eu acordava,ao som de uma serenata... Quantas músicas lindas,diante de um sono perturbado! Serenata é coisa de romântico...de sonhador, de delicadeza, surpresa e coração acelerado.Força do coração,que atravessou gerações.Se funciona hoje,eu não sei,mas sempre uma Serenata de Amor ajudava os noivos subirem ao Altar Sagrado do Sim!❤️
ResponderExcluirAh, que leitura tão agradável.!!Fui lá nos meus vinte anos.! Ganhava serenatas. Achava o máximo! Custava a me embalar no sono novamente de tanta felicidade. Claro que era de alguém mto especial pra mim na época , serenata de amor ! Quantas saudades . Um tempo que não volta mais , mas deixou boas lembranças e tantas saudades.
ResponderExcluirAcho que só as moças bonitas ganhavam serenata kkkk
ResponderExcluirParabéns, texto gostoso de ler.
Padre que belezura de música! Não conhecia, portanto inicio meu comentário da crônica perguntando veio a lembrança da serenata com rádio a partir de ouvir a música? ou foi mesmo o registro de época tão distante, mas que na verdade não é. O avanço da tecnologia é que deu saltos mirabolantes.
ResponderExcluirGostei e digo que o romantismo imperava mesmo nesta época. Que bom a familia receber tão bem um rapaz corajoso e expressando a seu modo o amor. Tomara que tenham se casado.
Quanto ao Senhor, desde cedo já dava sinais da vocação que tinha, por isto é tão desenvolto no rádio para sorte nossa.