A semente da Igreja

 

Num pequeno trecho do Evangelho de São Lucas (Lc 8, 1-3) podemos aprender três coisas: A missão itinerante de Jesus; a presença dos doze apóstolos junto dele  e a companhia das mulheres, em pé de igualdade, com os apóstolos.

“Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa-nova do Reino de Deus...” A expressão “uma Igreja em saída”, usada pelo Papa Francisco, poderia encontrar apoio nessa passagem bíblica. Jesus percorria cidades e povoados... Ele não fazia isso, apenas, para aumentar seus adeptos e o grupo ganhasse mais visibilidade ou força política como costuma acontecer em nossos dias. Ele o fazia por amor, assim, como o noivo busca pela noiva ou o pastor busca pelas ovelhas. Sobre essa busca escreveu São João da Cruz:

Onde é que te escondeste Amado, e me deixaste com gemido? Como o cervo fugiste, havendo-me ferido; Saí, por ti clamando, e eras já ido...

Os apóstolos que o acompanhavam foram “feridos de amor” por ele e já não sabiam mais viver sem a sua companhia. Por isso, “iam com ele” por todos os povoados e cidades. Jesus era a presença luminosa em suas vidas. Quando foram questionados, certa vez, Pedro respondeu a Jesus: “A quem iremos, Senhor, só tu tens palavras de vida eterna”  Jo 6, 68.

É bom lembrar-se de que, em muitas passagens bíblicas Jesus se comparou ao noivo. Sendo ele o noivo que ofereceu o melhor vinho na festa de casamento, nós somos a noiva. Esse enlace amoroso de Deus conosco já é o início do Reino de Deus. Jesus andava por todos os caminhos falando do Reino, uma realidade nova onde Deus seria pleno junto ao seu povo:

“Darei a eles um coração capaz de me conhecer, pois eu sou Javé. Eles serão o meu povo e eu serei o Deus deles...” Jr 24, 7.  

Ao que parece, Jesus não gostava muito de “carreira solo”. Por isso, fez questão de chamar doze para estarem com ele e serem enviados em missão. Naquela missão, deveriam anunciar a proximidade do Reino de Deus. Essa ainda é a missão da Igreja, ou seja,  a nossa missão. O que devemos anunciar é o Reino de Deus! Nesse trabalho as mulheres não foram coadjuvantes:

“... Os doze iam com eles e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Suzana e várias outras mulheres que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam...”

A presença das mulheres foi muito marcante na Igreja primitiva como podemos perceber:

- Todos tinham os mesmos sentimentos e perseveraram em oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus... At 1, 14ss

- No sábado, saímos pela porta da cidade e fomos para a beira do rio, onde nos parecia haver um lugar de oração. Sentamo-nos e começamos a falar com as mulheres que aí estavam reunidas... At 16, 13ss

- Recomendo a vocês nossa irmã Febe, diaconisa da Igreja de Cencréia, para que a recebam no Senhor de modo digno, como convém a santos. Deem a ela toda a ajuda que necessitar, porque também ela protegeu a muitos, inclusive, a mim... Rm 16, 1ss.

A Igreja de Cristo sempre contou com a participação de todos: Ricos, pobres, homens, mulheres e crianças. Cada um, à sua maneira, e dentro de suas condições pode colaborar com sua missão. Dentro da Igreja é importante que cada um descubra o seu lugar. Você já descobriu o seu?

Imagem de Helmut H. Kroiss por Pixabay