Juju Pelota e o pau de sebo

  Pois é, eu falo do que vi e presenciei com esses olhos que a terra há de comer. Tudo aconteceu numa manhã fumacenta com restos de festa ju...

 


Pois é, eu falo do que vi e presenciei com esses olhos que a terra há de comer. Tudo aconteceu numa manhã fumacenta com restos de festa junina às margens do Paraopeba.

Fim de noite, fogueira apagada e dormida no lombo de muita cinza. O pau de sebo permanecia incólume, ao lado das cinzas, denunciando o fracasso geral dos caçadores de prêmios. Uma nota de cem, amarrada em mais duas, de igual valor, balançavam no alto do poste, assanhando as cobiças. O pau de sebo foi preparado por André Ribeiro, que tornou-se um especialista nesse ofício de diversão popular. Em torno do mastro, a festa prolongava-se noite adentro e muitos saiam do evento mais sujos do que os porcos. Diante do pau de sebo formaram-se muitas filas e cada participante desejava, mais que o outro, lançar a mão nos prêmios. Uns subiam nos ombros dos outros e pulavam feito macacos mas, ao final das contas, acabavam parando no chão, sujos de sebo e mal cheirosos.

O dia amanheceu mostrando o que sobrou da festança: Poeira por todos os lados, latinhas no chão e cinzas espalhadas na terra. Até o São João da bandeira com seus cabelos em caracóis, por pouco, não soltou o carneirinho ao ver a alegria da galera. Quando o sol ameaçava acordar eis que apareceu no pedaço a negra sarará, Juju Pelota. Naquelas paragens era conhecida por seus atributos físicos e sua boa disposição para o álcool. Diante da fogueira apagada Juju entabulou uma conversa com outros personagens remanescentes da boemia. Suas pernas roliças era o que mais chamava a atenção dos presentes. Mas, a morena não deixava por menos e ninguém punha cara com ela pois, tinha pavio curto e andava montada em lombo de onça.

Juju olhou para os lados e cuspiu no chão, mas quando olhou para cima seus olhos brilharam mirando as notas balançando no alto do pau de sebo.  Foi então, que tomou a fatídica decisão: Trepou nos ombros de dois companheiros, ajeitou o corpo para trás e, num salto único avançou contra o mastro. Uma torcida, imediatamente, formou-se ao pé do pau: Vai, Juju, vai Pelota, agarra tudo... A moça trajando um short apertado, subia um palmo e descia dois.  Quando ganhou certa altura, vencida pelo cansaço, veio abaixo de uma única vez caindo, feito jaca podre, sobre as cinzas. Ela desceu e as cinzas subiram. Como estava enlambuzada de sebo ficou parda por causa das cinzas.  Mas, Juju não perdeu a pose. Levantou-se, cuspiu no chão e disse em voz alta para que todo mundo escutasse: Eu não queria subir mesmo, só queria me divertir um pouco! Sacudiu a poeira e sumiu do mesmo jeito que apareceu. Um dos boêmios conhecido por Gardeu, com “u” mesmo, apenas, comentou: - Essa Juju Pelota é mesmo arretada! O outro piscou de lado  confirmando: É de mulher assim que o mundo precisa!

Confesso que conheci Juju Pelota, pessoalmente, e disso, tenho muito orgulho. O nome dela foi inventado para essa crônica. O seu nome de verdade? Podem me cortar o pescoço que não conto jamais!  Ô vida boa, sô!

Imagem de John Lee por Pixabay

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  1. Diversão e muito riso. Sebo no corpo e bolso vazio. Tudo é festa... festa é tudo!

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  2. Eis a força da mulher brasileira! Ser o que é! Essa Juju não foge de nada! Kkkkkkk

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  3. Eu estava aqui torcendo para a Juju conseguir o prêmio e ela não conseguiu kkkk
    Mas me diverti muito imaginando aquele cenário...
    Parabéns por nos trazer alegria de um jeito tão simples!
    Obrigada Padre.

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  4. Imagina aquele cenário?
    Imagina a cena da Juju caindo igual uma jaca podre !?kkkkk

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  5. As tradições antigas e tão bonitas, hoje se foram. A espiritualidade e devoção, também. Quando chegava o mês de maio, e as festas Marianas, e se prolongavam com festas juninas, etc... Eu ficava muito feliz. Rezar era muito importante, mas festejar era muito melhor.

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  6. Kkkk tem mesmo muitas juju Pelota e devemos é mesmo admirá-la, sao mulheres que simbolizam o que é ser livre. Fazem o que querem não importando o julgamento que delas fazem. Fracassar pode acontecer mas, "sacodem a poeira dão a volta por cima".
    Penso que pessoas como elas, não precisarão de psicólogos para ajudar a aceitar as pelejas da vida.

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