Natal: Festa de uma presença
Acho que estou na melhor fase de minha vida. Ninguém havia me falado o quanto é bom ser um sessentão. Agora posso namorar comigo mesmo e c...

Acho que estou na melhor fase de minha vida. Ninguém havia me
falado o quanto é bom ser um sessentão. Agora posso namorar comigo mesmo e
curtir, sem culpa, minha solitude. Solidão eu não sinto, aliás nunca me senti
só, graças a Deus! Sinto que o narciso morreu para dar lugar ao realismo. A
realidade, na sua punjãncia, invade meu templo, penetrando no seio de minha
alma. Gosto de ficar só, caminhar descalço pela casa ouvindo o eco dos meus
próprios passos. Assim, consigo ouvir a água pingando enquanto passa pelas
velas do filtro de barro e o relógio ecoando seu tic-tac perto de mim evocando
a transitoriedade do tempo. Desligo o rádio, coisa rara, e sinto a profusão de
ruídos, no silêncio da minha noite ou mesmo durante os dias.
Não vivo num mosteiro beneditino. Pelo contrário, vivo na
agitação de quem procura cercar inúmeros compromissos a tempo e a hora. Por
vezes, me sinto dentro de um liquidificador ligado, mas, de vez em quando me
refugio de tudo. O refúgio me faz falta, pois, necessito estar só comigo mesmo e
com minhas ideias. Na solitude consigo encarar os meus abismos. Esse “jardim de Epicuro” me dá paz e prazer e
é nele que namoro com meus autores e aprecio minhas leituras. Por isso gosto
muito de ficar em casa. Nossa casa é sagrada não importa que seja um castelo ou
um casebre. Esse último costuma ser ainda mais acolhedor.
Foi num simples casebre, estrebaria, que Jesus escolheu para
nascer. Bem que poderia ter escolhido o melhor castelo se ele quisesse. Mas,
preferiu a simplicidade. Deus é simples e por isso é tão bonito. Na gruta de
Belém, o menino, cercado de silêncio, pode ouvir a voz das estrelas... Este
acontecimento, é celebrado, atualmente, de forma muito estranha. Tudo virou um
corre-corre danado. Inventamos a roda, o carro, o avião e a internet, e nunca
trabalhamos tanto!
Para celebrar bem o natal, talvez, seja conveniente fugir um
pouco desse frenesi de final de ano. As pessoas estão correndo demais, correm
para comprar presentes, para encontrar o banco aberto, para entregar as cestas,
correm atrás do peru que assa sozinho com um termômetro debaixo da asa! Assim,
correm atrás de tudo e atrás de nada! Às
vezes, querem compensar com presentes uma ausência do ano inteiro.
Natal é presença. Presença discreta que chega sorrateiramente
à noite e quase ninguém vê. Somente uma estrela, no alto de sua discrição,
pisca um olho, envergonhada de seu lume reduzido ao ver o brilho do menino. O
céu participou desse evento e a terra acolheu o céu, tal qual Géia acolheu Urano,
num ritual de núpcias. Apesar de tanta volúpia, os homens continuam correndo.
Celebrar o Natal é celebrar uma grande presença. Ele veio até
nós, apesar de tudo. O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós. Diante
disso, fico completamente mudo. Só consigo balbuciar: Amém!
Imagem: Geralda a partir de IA
Realnente o tempo não trás apenas prejuizo com as perdas dos anos, mas o mais provável que com a idade vem a serenidade. Estruturação de vida, é uma fase de inquietude, porque temos que fazer conquistas em todo sentido o tempo todo. Depois entramos nesta idade de mais acomodação, de apreciar a tranquilidade, e o estar em paz com a gente mesmo. Solidão não! mas gostar de estar só, inclusive o Senhor cita que detalhes serão mais sentido como o tic tac de um relógio.
ResponderExcluirApreciar a própria companhia é um valor que deveria acontecer com todos, principalmente com o passar dos anos.
Podemos perceber, que a fé religiosa afasta muitos males do corpo e da alma, e também ajuda na boa administração da vida e seus relacionamentos ou não, em muitos momentos. O prazer de estar só é muito rico, já que se faz do tempo o que desejar sem precisar agradar.
Parece que este tempo natalino tem um ar melancólico, para quem quer preenchimento de pessoas e coisas, mas o ideal é sentir a grande presença do nosso Salvador que nasceu na simplicidade e alegremos com Boa Nova que Ele trouxe.
Desculpe por acrescentar opiniões, e não apenas comentar o bom texto.