O mundo meu é pequeno, Senhor
Todos carregamos dentro de nós múltiplas vivências que colecionamos ao longo do tempo. Algumas são doces outras amargas, mas cada uma, a s...

Todos carregamos dentro de nós múltiplas vivências que colecionamos ao longo do tempo. Algumas são doces outras amargas, mas cada uma, a seu modo, deixa suas marcas em nós. Uma das poesias que mais me representam foi escrita por Manoel de Barros, um poeta nada pequeno, do Pantanal do Mato Grosso. Veja o texto:
O mundo meu é pequeno, Senhor
O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e
um pouco de árvores.
Nossa casa
foi feita de costas para o rio.
Formigas
recortam roseiras da avó.
Nos fundos do
quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Seu olho
exagera o azul.
Todas as
coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o
horizonte enrubesce um pouco, os
besouros
pensam que estão no incêndio.
Quando o rio
está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me
árvore.
De tarde um
velho tocará sua flauta para inverter os
ocasos.
Comparado a Manoel de Barros meu mundo foi, ainda, menor do que o dele. Tinha uma casa de porão, com duas goiabeiras no quintal, um moinho d´dàgua, e um grande terreiro de terra iluminado, à noite, pelo luar. Não tinha viola nem lampião mas tinha livros e lamparinas. No quintal, havia um pé de sabugueiro que, feito noiva, se cobria de flores brancas e perfumava tudo o que havia por perto.
Só fui saber de minha pobreza depois de adulto a partir do que outros diziam de mim. Não troco minha infância de pobre por nenhuma infância Nutella. Desde cedo aprendi os segredos das árvores e a língua dos passarinhos. Fiz amizade com abelhas e muitas vezes, fui castigado por invadir o espaço delas. Aprendi a nadar usando duas cabaças debaixo dos braços, não sem antes, beber muita água. Meus dias foram iluminados pelas cigarras e cantos dos galos. Como era bom procurar o ninhos das galinhas em meio à pastagens secas! Era como descobrir um grande tesouro. Às vezes, elas nos enganavam e quando menos se esperava, chegavam com suas ninhadas. A vida é boa nas pequenas coisas. Ainda hoje, sou capaz de parar o que estou fazendo apenas para ver um pôr do sol. Estou com mais de sessenta mas, ainda não perdi a capacidade de encantamento que marca a vida de qualquer criança.
Com você também acontece o mesmo?
"Enquanto a gente puder sonhar é sinal de que não acabou. Que a velhice é uma mentira dos espelhos..."
(José Cãndido de Carvalho - Numa entrevista à Revista Veja)
Imagem: Imagem de Myriams-Fotos por Pixabay
Quem teve a infancia no interior, como o Senhor, carrega marcas inesquecíveis.
ResponderExcluirRural/urbano. (do livro troque de lugar com o outro)
A vida tem a cor dos nossos olhos e os valores que temos na alma. Quem prefere a vida rural põe seu olhar e seus sentimentos na riqueza da terra. A vida na cidade tem seus encantos também e com suas funções específicas. O importante é estar adaptado.
- O interessante vídeo ao final, despertou a vontade de ler Manoel de Barros, mas espero estar em bom nível de sensibilidade.