Templo: Uma instituição que ficou pesada!
Ao longo de sua história, o povo de Israel foi amadurecendo sua relação com Deus. Tal relação nem sempre foi tranquila. Muitas vezes, foi ma...
Ao longo de sua história, o povo de Israel foi amadurecendo sua relação com Deus. Tal relação nem sempre foi tranquila. Muitas vezes, foi marcada por fraquezas e infidelidades da parte do povo, pois “Deus é fiel”. Apesar das infidelidades do povo, Deus nunca o abandonou. Chegou a “habitar” debaixo de tendas, quando o povo só tinha tendas para morar...
Da tenda, ou barraca, Deus comunicava-se com seu povo através de Moisés. Assim, que o povo fixou-se, na Terra de Israel ele quis construir, uma casa, fixa para Deus. Estamos falando do Templo de Jerusalém. O Templo foi uma das instituições mais importantes em Israel, ao lado da Lei e dos Profetas. Ele deveria ser uma casa de vida, de onde brotasse um manancial de água viva para saciar a sede do povo (Ez 47, 1-2.8-9.12). Na visão de Ezequiel, do templo iria jorrar água fértil e curativa para saciar a sede e curar os males de todos. Árvores frutíferas e plantas medicinais cresceriam às margens desse rio da vida originado no templo. Mas, com o passar do tempo, essa instituição mudou-se, completamente, e tornou-se, pesada na vida do povo simples. O templo deixou de ter a leveza de uma tenda e passou a ser um verdadeiro “elefante branco” na vida do povo. Os “profissionais” da religião, embriagados com o poder, usavam a instituição para garantir os privilégios de uma elite, da qual faziam parte, em detrimento dos interesses da população.
Na época de Jesus, o templo era uma mega estrutura, com cerca de 1500 metros de perímetro, reformado por Herodes, o Grande. Em torno dele, girava-se, grande parte da vida social, econômica e religiosa do povo. Durante algumas festas, como a Festa da Páscoa, por exemplo, grande quantidade de bois, ovelhas e pombos eram sacrificadas no seu pátio. Os pobres, em geral, compravam as pombas no próprio templo para as oferecerem em sacrifício. Muitas delas voltavam às bancas para serem vendidas novamente. Flávio Josefo, um historiador judeu que passou para o lado dos romanos, afirmou que um mesmo casal de pombos chegava a ser vendido 150 vezes (*)!
Uma turma de cambistas estabeleceu-se no templo para que os peregrinos pudessem trocar suas moedas “impuras” pelas moedas “puras”, ou seja, a moeda de Tiro, menos inflacionada que a moeda nacional; uma espécie de dólar ou Euro da época. Assim, os peregrinos também eram explorados por esses cambistas que cobravam uma porcentagem deles nessa transação. Por causa de tudo isso, Jesus, certa vez, apanhou um chicote de cordas e botou todo mundo para correr. Isso está no Evangelho de São João (Jo 2, 13-22), cujo texto transcrevo abaixo:
Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. No templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. E disse aos que vendiam pombas: “Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”. Então os judeus perguntaram a Jesus: “Que sinal nos mostras para agir assim?” Ele respondeu: “Destruí este templo, e em três dias o levantarei”. Os judeus disseram: “Quarenta e seis anos foram precisos para a construção deste santuário, e tu o levantarás em três dias?” Mas Jesus estava falando do templo do seu corpo. Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra dele.
Essa é a única passagem da Bíblia que mostra Jesus bravo dessa maneira. Também pudera! O Templo havia se desviado de sua finalidade. Não atendia mais ao propósito divino. Era pura instituição a serviço dos interesses e vaidades humanas! Esse é um risco recorrente em todos os tempos.
Refletindo sobre essa passagem não há como deixar de pensar nas realidades de hoje. Todas as instituições correm o risco de se desviarem de seus propósitos originais. O Templo de Israel, que deveria encaminhar as pessoas para Deus acabou se tornando, ele mesmo, o centro de tudo. Nem Deus encontrava mais lugar naquele espaço que deveria ser sagrado. A Casa de Deus havia se transformado numa casa de comércio.
“Há pouco tempo, o Papa Francisco disse que a Igreja não pode ser uma Ong” (Organização não governamental)! Disse também, que ela deve estar voltada para fora e não apenas para dentro. Seria preferível que estivesse mais “enlameada que auto referenciada”... Talvez, o medo do papa seja com o enrijecimento demasiado da instituição. A Igreja também pode perder a leveza do Espírito para se tornar pesada e auto referenciada. Sendo “barco de Pedro” deve ter a leveza necessária para flutuar sobre as ondas em direção ao porto seguro. Pense nisso!
(*) O Pão da Palavra: Subsídio Litúrgico-Catequético Diário. Ano XX – Nº 239 – PP 35
Imagem: Imagem de Anna Sulencka por Pixabay




Casa de Deus deveria ser uma casa de fé, local onde deveríamos ir para rezar, em um paralelo, uma academia de ginástica se vai para exercitar o físico. Infelizmente existe como sempre existiu igreja biscateira. No texto cita a atitude de Jesus com o comércio que ali estava acontecendo, "Na casa de meu Pai". Chicoteou as barracas.
ResponderExcluirInfelizmente a instituição que denomina Igreja tem sido usada sem nenhum escrúpulo da boa fé de pessoas que procuram por ignorância religiosa, locais que dão shows com apresentação de milagres. Pessoas que sintonizam com os enganadores de bons discursos porque gostam de acreditar em um imediatismo, e os valorizam com grande doações já que foram bem convencidos e os consideram merecedores. É uma moderna exploração de comércio no espaço que se diz casa de Deus.
Com certeza torcemos para que Jesus faça acontecer um real milagre de por ordem diferenciando as falsas das verdadeiras Igrejas. Parece que virou um bom negócio criar uma Igreja. Puxa vida! em um bairro tem várias lojinhas alugadas com nome criativos como Igrejas de Jesus. Valha me Deus!