Eneida um livro para ser revisitado

  Passei um tempinho sem escrever porque, às vezes, temos que nos concentrar em outras atividades e atividades nunca faltam nessa vida agita...

 


Passei um tempinho sem escrever porque, às vezes, temos que nos concentrar em outras atividades e atividades nunca faltam nessa vida agitada que levamos. Mas, a qual tema fui dedicar nesse tempo de silencio da escrita? Pois bem, fui reler à Eneida, principalmente, o capítulo seis que conta a descida de Eneias, o herói sobrevivente da guerra de Tróia, à mansão dos mortos. E o que Enéias foi fazer nesse mundo? Talvez, tenha ido buscar as razões para seus empreendimentos mar à fora com intuito de fundar uma nova Tróia. E será que ele encontrou as respostas que buscava? Parece que sim. Mas, a própria descida já explicou muita coisa ao nosso herói.

Porque senti necessidade de reler esse capítulo da Eneida? Na verdade, fui motivado a isso quando li o conto “ônibus”, de Júlio Cortázar, escritor argentino. E o que uma coisa tem a ver com a outra? Explico: Cortázar em seu conto narra uma viagem bem estranha de dois jovens que tomaram um ônibus nas ruas de Buenos Aires. Esse ônibus passava perto do cemitério de Chacarita, mas, os jovens queriam seguir adiante. A viagem deles foi ameaçadora quando se viram em meio a tipos estranhos cujos olhares os amedrontavam, começando pelo motorista e o cobrador. Em Júlio Cortázar nada acontece de graça. Há sempre uma realidade subjacente ao que se leem como todos os contos marcados pelo realismo mágico. Então, por associação de ideias, acabei me lembrando do capítulo seis de Eneida e, por isso, pus mãos à obra. O resultado dessa releitura foi um novo vídeo para o meu canal e alguns textos novos para esse blog. Espero que você goste.

Eneias não foi o único herói da antiguidade a visitar o Hades ou Tártaro, o mundo dos mortos. Odisseu já o fizera, embora não tenha adentrado tão fundo nesse mundo quanto Eneias. Orfeu também desceu à mansão dos mortos na tentativa de buscar de volta o seu grande amor, Eurídice. Pólux e Teseu também chegaram a fazer tal empreendimento assombroso. Sem querer comparar os personagens, vale lembrar, que Jesus também desceu à mansão dos mortos e ressuscitou ao terceiro dia.

Descer ao mundo dos mortos não é difícil conforme afirmou Sibila a Eneias. Difícil é descer e sair vivo de lá. Para descer basta morrer, mas, quem seria capaz de retomar a própria vida depois? Sibila foi uma espécie de profetisa do deus Apolo que guiou Eneias nesse labirinto em busca de seu pai Anquises que já havia morrido naturalmente. A certa altura de sua Odisseia, Eneias sentiu necessidade de abraçar o seu pai e conversar com ele. Quem não gostaria de fazer isso? Apesar de ser o herói principal da história ele também tinha um pai que sabia orientá-lo nas encruzilhadas da vida e na vastidão dos oceanos. Boa parte da viagem de Eneias aconteceu no oceano. Ele saiu de casa derrotado, “sem lenço e sem documento,” levando, apenas, a esperança de fundar uma nova terra e um novo povo. Ao longo de sua viagem teve deuses e homens que lhe foram favoráveis e contrários. Sua viagem assemelha-se às nossas próprias vidas onde, muitas vezes, temos que matar um leão por dia na luta pela sobrevivência. Favorecido pela deusa Vênus, sua mãe, Eneias teve que enfrentar toda a fúria de Hera, ou Juno que sempre torceu pelo fracasso de Tróia e dos troianos.

O capítulo seis de Eneida é um ponto de virada na trajetória do herói. Ao final desse capítulo, pela primeira vez, ele foi chamado de “romano” por seu pai e não de “troiano” como era de se esperar. Até o capitulo seis ele buscava uma pátria. A partir de então, ele vai lutar para ter o direito a essa nova pátria, a Itália,  que já tinha dono. Mas, iluminado pelas revelações de seu pai não terá mais dúvidas que o seu destino estava se encaminhando na direção correta e que a nova Tróia, ou Roma já estava destinada a ele. Foi nesse capítulo que ele encontrou as respostas que buscava para não navegar às cegas como parecia estar fazendo até então.

A viagem de Eneias se assemelha com nossas vidas. Muitas vezes, só depois de descer à mansão dos mortos, passando por um período de desconstrução de supostas verdades e certezas, encontramos o essencial de nós mesmos. Vale a pena refletir sobre isso!

Imagem de Marcel LOACKER por Pixabay


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  1. Padre todo comentário de livro é sempre interessante, mesmo que o entendimento fique com alguma lacuna. Este que compartilhou, por ser mitologia, não demanda lógica mas um sentido e uma mensagem entendida conforme a percepção de cada um.
    O Senhor com certeza sai das pelejas do dia, mudando a chave para as abstrações das leituras, inclusive com releituras, e nos presentea com os comentários.
    O que tenho a dizer é que está tendo bons momentos na companhia de livros, e obrigada por também nos levar a boas leituras como este texto.

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