Fogo de Palha

Saul foi o primeiro rei de Israel. Ao final da vida foi acometido por delírios de ciúmes contra Davi, aquele que o sucederia no governo ...

Saul foi o primeiro rei de Israel. Ao final da vida foi acometido por delírios de ciúmes contra Davi, aquele que o sucederia no governo do país. Ele mesmo colocou-se à frente das tropas para perseguir, de forma injusta, o jovem Davi. Certa vez, quando o perseguia numa região montanhosa teve necessidade de “ir ao banheiro”. Afastou-se da tropa e, mantendo a necessária discrição real entrou na “casinha”, ou seja, uma das grutas daquela região…
Por ironia da sorte, era exatamente naquela gruta que Davi estava escondido com alguns companheiros -1ª Samuel, capítulo 24. Distraído ao fazer suas necessidades no escurinho da caverna, Saul nem viu quando Davi aproximou-se dele e cortou-lhe um pedaço do manto real. Ao sair da grutinha Davi gritou o seu nome e disse que não o matou porque não quis. Mostrou-lhe o pedaço do manto cortado e as mãos limpas de sangue. Ao ver isso, Saul se derreteu todo. Chamou-o de filho e pediu perdão pela perseguição injusta. Mas, esse fogo de palha passou depressa e logo depois Saul retomou a perseguição contra Davi. 
Todos nós somos meio parecidos com Saul. Às vezes juramos um amor eterno que dura literalmente três dias! Quantas vezes, após uma grande demonstração de amizade, a gente promete ser grato pelo resto da vida e, facilmente nos esquecemos de tudo voltando às costas ao amigo? Em nossa relação com Deus também não é diferente. Após alcançar a cura de uma doença grave ou experimentar fortemente a graça de Deus, a gente promete mudar de vida, mas nem sempre isso acontece. A rotina e o cansaço fazem tudo voltar ao normal e nossos propósitos de nobreza vão para o ralo.
Em outro contexto bíblico Jesus perguntou a Pedro se ele o amava Jo 21,15. Fez isso por três vezes seguidas. Na terceira vez, Pedro se entristeceu. A Bíblia não explica a razão dessa tristeza. É preciso lembrar, entretanto, que na noite da prisão, Pedro por três vezes havia negado conhecer Jesus. Nada mais lógico, portanto: – aquele que negou três vezes deveria afirmar triplamente esse amor. Jesus não queria que Pedro tivesse uma fé do tipo fogo de palha. Aquele que seria o chefe dos apóstolos deveria ter uma fé de pedra.
A fé do tipo fogo de palha é aquela que brilha muito e apaga rápido. Ela não tem consistência nem durabilidade. Acometidos por essa fé, muitos se propõem a desenvolver grandes projetos, mas não chegam sequer a esboçá-los. Sonham com mega eventos, mas se esquecem de realizar as pequenas coisas diárias. Nosso cotidiano não é feito de acontecimentos extraordinários. Ai de nós se não fosse o “feijão com arroz” do dia a dia!

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