Oratório: uma igreja dentro de casa!
Uma das marcas mais fortes de Minas Gerais , talvez, seja a religiosidade. Não se vai muito longe, sem antes ver um cruzeiro, ...

https://ggpadre.blogspot.com/2016/08/oratorio-uma-igreja-dentro-de-casa.html
Uma das marcas mais fortes de Minas Gerais , talvez, seja a religiosidade. Não se vai muito longe, sem antes ver um cruzeiro, "plantado" no alto de uma serra. Alguns, carregam histórias centenárias, verídicas ou imaginárias. Tal como o Cristo do Corcovado, os Cruzeiros abençoam as montanhas de Minas, com os braços sempre abertos. No passado, o ádrio da cruz serviu como cemitério para crianças inocentes. Na beira das estradas, a cruz em tamanho menor, demarcava o lugar onde alguém teria dado o último suspiro. Atualmente, acho que o governo proibiu de fincar cruzes nas margens das rodovias. Caso contrário, as estradas de Minas seriam semelhantes aos cemitérios. A cruz da estrada que povoou a imaginação do poeta Castro Alves, são seria hoje uma exceção nas estradas de Minas. O governo escondeu as cruzes para não mostrar a omissão. Vejam um trecho da poesia citada:
"Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão"
Outra tradição, que sempre marcou a vida dos mineiros foi a devoção para com os oratórios. O oratório foi o responsável por alimentar a fé na Igreja quando a mesma estava distante… A "caixinha sagrada" guardava os santos que guardavam a família. Em muitas casas, o oratório ainda é o local onde a família se reúne para rezar. Num cantinho da sala ou na varanda ele ainda não perdeu, totalmente, seu espaço para a televisão. Diante dele, ainda fazermos reverências. As crianças não entendem por que as avós rezam o terço diante dos oratórios, mas, como a fé em Minas, entra pelos poros, um dia elas farão o mesmo.
Como herdeiro da legitima cultura mineira, também sou devoto dos santos e gosto dos oratórios. Herdei isso de minha mãe. Quando viva, todo o dia rezava diante de seu oratório, que era pequeno, simples e pintado com Suvinil azul. Ao lado da imagem de N. S. Aparecida havia um santinho do Senhor Bom Jesus, de Congonhas, enfeitado com flores de plástico. Era lindo de "morrer"! Aquele oratório foi minha primeira igreja. A segunda foi o Cruzeiro que a gente enfeitava nas tardes de maio com bananeiras e "Belas Donas", uma flor branca com formato de corneta. Minha terceira igreja foi o rádio. Por isso, cuido do rádio com carinho. Herdei a fé "comendo pelas beiradas", mas agradeço a Deus por isso. Não gostaria de ter uma fé ilustrada como uma pseudo-ciência com a pretensão de explicar tudo. É bom deixar lugar para o mistério!
Alguns criticam duramente nosso tempo. Acho que nem tudo está perdido. Vejo muita gente que ainda "come a fé pelas beiradas". Ouço com freqüência o povo dizer: "Saúde, fé e paz, o resto à gente corre atrás"! Fico admirado com a grande verdade escondida nessa expressão. De fato, é preciso muita fé para agüentar os trancos dessa vida. "Fé em Deus e pé na tábua"! Sem a fé a tábua escorrega mais do que quiabo e "ora pro nóbis".
Em tempos de dificuldades, nada melhor do que cultivar a fé em família. Para muitos, nem sempre, é possível frequentar uma igreja. Em Minas, isso não serve de desculpa para não cultivar a fé. Em cada casa existe um oratório com um "Santinho" de devoção. Em minha região nenhum santo concorre com Pe. Libério que, ainda nem foi declarado santo, oficialmente. Não existe uma única casa que não tenha um quadro ou estampa do "Servo de Deus". Pe. Libério morou residiu em Pará de Minas e, por isso, conquistou o coração desse povo com sua simplicidade. As histórias sobre ele são inúmeras! Por aqui, muitas famílias possuem seus oratórios. Em algumas residências, vejo-os, incrustados nas varandas ou fachadas das mesmas. São discretos e bonitos. Guardam a família e os moradores. Para as crianças são as "casinhas" onde moram os santos protetores. Alguns, preferem colocá-los em jardins ou em pequenas grutinhas. Seja como for, eles assinalam o caminho para Deus. Além disso, preservam o que temos de mais bonito em Minas: a grande fé de nosso povo!
Em tempos de epidemia, quando não se pode ir à Igreja, o povo alimenta sua fé, diante dos oratórios domésticos. Muitos acompanham as missas, transmitidas pela Rádio Santa Cruz diante de seus oratórios. Sem prejuízo da fé, seguem suas vidas levando a certeza que Deus nunca os abandona. Não existe nada mais lindo do que isso!
Fotos: Maria Fernanda e altar doméstico de Sérgio Carvalho e Rosimeire. Publicação autorizada.