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  O Brasil foi construído, graças ao suor e sangue dos milhões de negros africanos, que aportaram por aqui na condição de escravos. Est...


 
O Brasil foi construído, graças ao suor e sangue dos milhões de negros africanos, que aportaram por aqui na condição de escravos. Estima-se que o país recebeu cerca de 40% dos quase 10 milhões de africanos que foram transportados para as Américas entre os séculos 16 e 19. Tratados como mercadoria, os negros não tinham voz e nem vez. A crença européia de que na África situada abaixo do Saara havia um povo identificado à natureza e incapaz de promover cultura foi um dos pilares que justificou a escravidão. Hegel, filósofo alemão, por exemplo, chegou a afirmar em sua obra, Filosofia da História Universal:  

“Os homens vivem ali na barbárie e na selvageria, sem fornecer nenhum elemento à civilização. Por mais que retrocedamos na história, acharemos que a África está sempre fechada no contato com o resto do mundo, é um eldorado recolhido em si mesmo, é o país-criança, envolvido na escuridão da noite, aquém da luz da história consciente (...) Nesta parte principal da África, não pode haver história”(Cf: Revista História Viva – Temas Brasileiros, Nº 03- 2006). 

 O negro que chegou ao Brasil era considerado uma simples mercadoria ou ferramenta usada para enriquecer os brancos. A cor da pele justificava uma suposta inferioridade racial. Enquanto peça necessária ao funcionamento da engrenagem social a escravidão deveria ser preservada. A terra brasileira foi irrigada com o sangue e suor dos africanos que por aqui chegaram. Obviamente, ninguém queria libertar os escravos. As leis que se criaram nesse sentido chegaram a ser engraçadas. 
    
Ao assinar o Tratado de Comércio e Navegação com a Inglaterra, D. João VI, rei de Portugal (1767-1826) compromete-se com o fim do comércio dos escravos. Durante quinze anos nada se fez nesse sentido, pois o rei era pressionado pelos grandes proprietários de terras. Em 1825, os ingleses exigem que o Brasil marque uma data para extinguir a escravidão. Por causa dessa pressão externa uma lei que proibia o comércio de escravos foi votada em 1831. Como nunca foi colocada em prática a lei originou a expressão “Para inglês ver”. Ainda pressionado pela Inglaterra, o Brasil vota a lei Eusébio de Queiroz, em 1950, proibindo o tráfico de escravos.
    
A Lei do Ventre Livre é tão bizarra quanto a Lei dos Sexagenários. A última concedia liberdade aos escravos após 60 anos. Como a maioria dos escravos morria antes, a lei caia no vazio. A primeira concedia a liberdade aos escravos nascidos após 1871. O detalhe é que eles deveriam ficar sob a tutela de seus senhores até completarem 21 anos... Por fim, a Lei áurea, foi assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888. Os escravos foram libertados com uma mão na frente e outra atrás.
    
Após mais de cem anos, desde a assinatura da Lei Áurea, o Brasil ainda convive com a mancha da escravidão. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), existem, atualmente no país cerca de 25 mil trabalhadores submetidos à condições semelhantes à escravidão. Essa violação aos direitos humanos representa uma vergonha nacional (CF: Revista Brasil Responsável, SP, 2006).
    
Refletir sobre a escravidão negra é buscar nas trevas do passado a experiência negativa que não deverá se repetir no futuro. Mas, ao que parece, nunca conseguimos nos libertar totalmente da escravidão. É uma pena! O futuro do país jamais deveria ser construído sobre as lágrimas e o sofrimento dos pobres. 

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