Rapadura

Alguém me perguntou de onde tiro “inspiração” para escrever. Não sei bem o significado de inspiração. Em minha vida tudo é muito concreto. Por isso, escrevo sobre fatos e realidades vividas ou experimentadas. Ontem, por exemplo, ao limpar o fundo do meu armário, deparei-me, com meia rapadura embolorada e carregada de formigas. Esquecida, ela permaneceu ali, um bom tempo, e acabou perdendo as qualidades. Tornou-se um problema. Passou a ser uma pedra no meu sapato, digo, no meu caminho. Não poderia, simplesmente, descartá-la no lixo.  Então, tive uma idéia luminosa, ou uma ins-“piração”.  Alguns problemas não podem ser resolvidos rapidamente. Às vezes, é preciso tempo e paciência. Pensando nisso, pus a rapadura de molho num balde com  água. O tempo se encarregou do resto. Hoje despejei a água no tanque, e vi que, do antigo problema, sobrara apenas, um caldo escuro e inofensivo.

Existem problemas que não podem ser enfrentados de uma única vez. Ninguém quer conviver com a água chegando ao pescoço. No entanto, é preciso calma e paciência. Nem tudo se resolve no grito ou na hora que desejamos. Como resolver, rapidamente, casos de separação conjugal, sobretudo, quando envolve crianças pequenas?  Como reatar, de forma rápida, os relacionamentos abalados?  Como perdoar, imediatamente, a quem nos causou grande dor?

Por mais dura e desajeitada que seja uma determinada situação não podemos duvidar da graça de Deus e da ação do tempo. Esses dois ingredientes costumam cicatrizar as feridas e fazer brotar novas situações, assim como a terra se recupera de estragos e faz surgir novos brotos na próxima primavera. Mas, na pressa de cicatrizar certas feridas remexemos tanto o local, que piora, ainda mais, o ferimento.

Hoje, agradeço à rapadura velha e embolorada que foi descartada, não sem antes, me provocar uma reflexão. Você está com alguma rapadura para dissolver? Então faça sua parte. Mas, deixe um lugar para o tempo e a Graça de Deus...

Imagem de IgorSuassuna por Pixabay