Estátua rara
Alguns monumentos públicos sempre chamaram minha atenção. Estátuas de pessoas eu as considero deprimentes. Lembro-me, quando criança, ...
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Alguns monumentos públicos sempre chamaram minha atenção.
Estátuas de pessoas eu as considero deprimentes. Lembro-me, quando criança, do
busto de um Monsenhor colocado na praça da cidade. Tinha pena do Monsenhor.
Via-o arder sob o sol escaldante completamente só. Algumas estátuas são tão
esquecidas que nem seus nomes sobraram! Outras
servem de poleiro aos pássaros que, sem a menor cortesia, fazem cocô sobre
elas. Outro dia, ao passar perto da estátua de um “figurão” do passado, lamentei
que estivesse todo lambuzado de cocô de andorinhas. Uma coruja piolhenta
observava tudo, sem esboçar nenhuma reação, aninhada no ombro, daquele que um
dia, já foi general de qualquer coisa...
Já vi estátuas e bustos de todo tipo de gente: Religiosos,
artistas, e, sobretudo, políticos. Mas, em conversa recente com um amigo
descobri que, brevemente, teremos uma nova categoria de estátuas: Estátuas dos
reprovados na escola pública. Ele, um pai zeloso, me desabafou em tom de
lamento. Padre, tenho três filhos. Uma é muito estudiosa e inclusive passou no vestibular
para um curso de medicina. O mais novo se contenta com o mínimo necessário para
ser aprovado ao final do ano. Mas, o do meio, esse é um gênio! O senhor
acredita que ele conseguiu ser reprovado numa escola pública? Acho que ele vai
entrar para o guines. Estou até pensando em fazer uma estátua para ele, ainda
em vida. De fato, conseguiu uma proeza: Foi re-pro-va-do, afirmava soletrando a
palavra.
O discurso desse pai me fez pensar muito sobre a realidade de
nossas escolas e sua aprovações automáticas. De fato, o cara tem que fazer
muito esforço para ser reprovado. Talvez, só consiga isso, quando excede o
limite de faltas registradas. Também não sou muito favorável à ideia de reprovação.
O ideal seria que todos aprendessem e pudessem crescer, no desempenho escolar.
Mas, tudo tem um limite. Acho que relaxamos demais! Essa certeza do “sucesso
garantido” parece que não ajuda muito. Na vida, somos avaliados o tempo todo e
precisamos mostrar um bom desempenho para garantir um lugar ao sol. Esse
paternalismo está fora de moda e em descompasso com a realidade. Precisamos
fazer estátuas para que sirvam de modelos e sejam eternizados enquanto tais.
Não pode servir de modelo quem brinca de aprender sem encarar com seriedade a
vida escolar.