Falando sobre a necessidade da
oração, do jejum e da esmola, Jesus nos ensina que não devemos nos preocupar
com o olhar alheio, mas com o olhar de Deus, ao colocarmos isso em prática. Ele
nos diz: - O teu pai que vê o que está oculto te dará a recompensa ((Mt 6, 4).
Esses três pilares da religião, a
oração, esmola e jejum, definem nossas relações. O jejum define nossa relação
com as coisas, a oração define nossa relação com Deus e a esmola a nossa
relação com o outro. Cada uma dessas práticas se relaciona com as demais. Ao
escolher Deus, acabo acolhendo o irmão e relativizando minha relação com as
coisas. A diferença está na escolha: Ou escolho Deus e me deixo em segundo
plano, ou escolho a mim mesmo e acabo deixando Deus em segundo plano. Alguns o
deixam em último lugar...
Jesus nos ensina a preocupar com
o olhar de Deus. O olhar de Deus é cheio de misericórdia. Ele nos olha como
pai. Conhece nossas limitações e nos julga com bondade. O nosso olhar é míope e
preso às aparências. Por isso, facilmente, cometemos injustiças nos nossos
relacionamentos. Aqui vale lembrar a frase do Pequeno Príncipe: O essencial é
invisível aos olhos...
Às vezes, penso que,
paradoxalmente, nossos olhos nos atrapalham a ver a realidade verdadeira das
coisas. Na mitologia grega o cego Tirésias costumava enxergar coisas que os
videntes não enxergavam. Foi ele quem ensinou Odisseu o caminho de volta para
casa quando o guerreiro, voltando da Guerra de Tróia, se encontrava perdido em
alto mar. O Apóstolo Paulo só começou a enxergar direito depois de uma
cegueira. Necessitou perder a visão para poder enxergar o essencial.
Nosso olhar é seletivo e viciado.
Às vezes, basta o uniforme para que a pessoa não seja vista. Certa vez, um
psicanalista, estudante de uma universidade famosa de São Paulo, fez uma
pesquisa sobre os invisíveis sociais. Alguns dias da semana ele vestia-se de
gari e se misturava aos demais garis espalhados no campus da universidade.
Quando estava nessa condição, percebia que, simplesmente, não era visto pelas pessoas
com quem se relacionava em sala de aula. Tornava-se invisível por causa do
uniforme de gari. Dessa experiência nasceu um livro chamado: Homens Invisíveis:
Relatos de uma humilhação social, do autor, Fernando Braga da Costa, publicado
em 2004.
É lamentável, que ainda hoje,
algumas pessoas ainda são invisíveis: Andarilhos, usuários de drogas,
mendigos... São pessoas sem nome, sem histórias, sem documentos... Quando
morrem, são recolhidos nas calçadas e sepultados como indigentes. Mas, antes da
morte física já estavam condenados e mortos socialmente.
Nosso passado escravocrata nos
ensinou a negar a identidade do outro. O escravo não era visto como gente e sim
como “peça”. Uma peça é, simplesmente, descartada quando perde a serventia. Os
anúncios de escravos no século XIX não deixam dúvidas quanto a isso:
...Vende-se uma escrava de 38 anos, com um filho de 03 anos, de cor
clara e compra-se uma negrinha de 10 a 12 anos. Para tratar, à Rua da Quitanda,
nº 20...
... Vende-se uma escrava parda, cozinheira, costureira, engomadeira e
rapariga. Quem a quiser comprar procure na Rua da Igreja nº 25, à direita, na
esquina dos Pecados Mortais (trecho da atual Bento Martins).
...Quem quiser comprar uma molequinha nova (escrava-criança) cozinha o
ordinário. Quem pretender comprar dirija-se a Rua do Arvoredo a casa nº 13 e
ali achará com quem tratar.
Fuga: – Uma escrava de nome Francisca de nação rebola, idade de 25
anos, estatura ordinária, beiços grossos e um sinal na testa como um círculo de
um vintém, fugiu em março. Quem a trouxer dirija-se a Rua do Cotovelo n º 70,
que ganhará boas alvíssaras.
Aluguel: – Quem tiver uma ama-de-leite que seja sadia e saiba tratar
crianças e queira alugar, anuncie a sua moradia para ser procurado (1)
A lâmpada do corpo é o olho.
Quando o olho é sadio, o corpo inteiro fica iluminado. Mas, se ele está doente,
o corpo também fica na escuridão (Lc 11, 34). Pense nisso!
Eu amo ler as reflexões a noite porque fico pensando será que ainda existe gente assim meu Deus
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