Amor da Prima Vera

  Aquele casamento foi o que podemos chamar de tragédia anunciada. Só Deus e a torcida do Corinthians sabia que aquilo não daria certo. Mas,...

 

Aquele casamento foi o que podemos chamar de tragédia anunciada. Só Deus e a torcida do Corinthians sabia que aquilo não daria certo. Mas, algumas mulheres acreditam, piamente, que podem mudar o coração dos barbudos com um grande amor. Depois, tem aquela coisa de cinderela, que sai beijando sapos para ver se algum deles vira príncipe... No caso, específico, havia um pouco disso tudo isso, aliado ao medo de ficar solteira. Seu desejo, inconsciente, era exibir o marido diante das outras como se dissesse: - Viu? Eu consegui!

O cara, quando não estava no mundo das drogas estava no mundo da lua. Trabalhar até que trabalhava. Mas, juntar dinheiro não era com ele. Em razão disso, após o casamento, o casal foi morar no quintal da sogra, no caso, a mãe dele. Aquilo foi uma espécie de purgatório antecipado. A velha murmurava o tempo todo. No começo foi bom. Chegou a dizer que havia arranjado uma “segunda filha” e não uma nora. Com o passar do tempo, “megera” era a alcunha mais delicada quando se referia à nora. Chamava o seu filho de “menino” e sempre o defendia. Quando a família estava reunida costuma reclamar: - Meu filho está tão magrinho! Mas, também com aquela comida... e deixava o resto no ar. Noutra ocasião, queixou-se, que o “filhinho” andava com a barra da calça sempre suja. As mulheres de hoje não sabem mais lavar roupas, completava. Com o tempo aquilo foi torrando a paciência da nora.

O enlace matrimonial foi ficando cada vez mais insuportável. Um dia, quando ele chegou em casa, após o trabalho,  só encontrou um bilhete onde estava escrito com letras garrafais: - FUI! E o pior, é que fora mesmo! E ainda levou as crianças. No fundo da alma surgiu-lhe uma dúvida cruel: - Deveria lamentar-se ou festejar? Em se tratando de lamentações ele não era lá grandes coisas. Mas, depois de uns tragos chorava até por uma barata morta. Festejar era seu estado natural. Parece que já dançava no ventre da mãe quando essa frequentava, assiduamente, ao Forró do Guarujá.

Na primeira noite, estando sozinho ele sentiu um pouco. Teve que esquentar um resto de comida e cuidar dos passarinhos na gaiola. No segundo dia a coisa foi mais tranquila. Sua mãe apareceu e deu uma ajeitada na casa. Como sempre acontecia, saiu “escandalizada” com a desorganização da nora ou ex-nora. Disse não saber como o seu filho, uma pessoa tão boa pudera “atolar a carroça” daquela maneira. Com o tempo a situação normalizou-se.

Ela por sua vez, deu um novo rumo em sua vida. Fez um corte no cabelo, arranjou serviço na padaria e pintou as unhas. Começou a ver o mundo cor de rosa e em forma de coração, ao sentir-se observada pelo moço da peixaria. Começou a comprar peixes “para os meninos” e, com o passar do tempo, pescou o dono da peixaria. De vez em quando, cruzava na rua, com o ex-marido. Soube, por terceiros, que ele já estava na quarta relação em menos de dois meses. Teve pena da próxima vítima, mas continuou sua vida. Enquanto ele afundava cada vez mais no mundo das drogas ela subia ao sétimo céu.  

O dono da peixaria sabia agradar uma mulher. De vez, em quando lhe trazia flores, compradas diretamente no caminhão. Chegou a comprar um carro usado para ela levar os meninos na escola. Ele não era nenhum príncipe. Mas, estava longe de ser sapo, apesar de roncar um pouco durante o sono. Mas, ninguém é prefeito, afirmou para si mesma. Agora os meninos estavam crescidos e a nova família vivia em paz. O primeiro casamento não passou de um amor de primavera. Aliás o seu nome era Vera e o antigo marido era seu primo primeiro. 

FUI!

Imagem de SplitShire por Pixabay 

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