Os trabalhadores da última hora

 

Para cerca de 12 milhões de brasileiros a melhor notícia seria um anúncio de emprego. Não existe nada pior, para um pai de família, que não trazer o sustento para os seus. Infelizmente, o quadro de desemprego no Brasil leva muitos ao desespero. O trabalho informal cresce e, cresce também, os “bicos”, ou seja, pequenos serviços temporários. Trabalhar menos, para muitos, significa ganhar menos. Não trabalhar é não ganhar nada. Isso nos parece óbvio.

No Evangelho de São Mateus (20,1-16), através de uma parábola, Jesus nos mostra a realidade de muitos, naquele tempo. Ao que parece, também havia desemprego. Alguém saiu para contratar trabalhadores e não teve dificuldades. Até às cinco horas da tarde havia gente, assentada, nos bancos das praças esperando uma chance de trabalho. A surpresa da parábola aconteceu na hora do pagamento da diária. Todos receberam o mesmo pagamento! Mas, como foi isso? Qual foi o critério adotado pelo patrão para pagar todos igualmente? Não teria sido injusto com os primeiros contratados?

É preciso esclarecer que a justiça divina é diferente da nossa. Apesar de alguns, terem sido contratados ao final do dia, possuíam as mesmas necessidades daqueles, que foram contratados, inicialmente. O “patrão” pagou o que foi combinado com os primeiros. Mas, ao ver a necessidade dos últimos, pagou-os, igualmente. Não foi injusto com ninguém! Mas, foi generoso com os últimos. É isso que nos causa estranheza na história. Nosso conceito de justiça pode ser claro. Mas, nosso conceito de generosidade é meio embaçado.

Saindo da história para a vida podemos concluir que Deus chama todos nós para estarmos perto dele. Alguns recebem esse privilégio na aurora da existência. Santa Terezinha do Menino Jesus foi uma dessas. Desde criança, quis servir a Deus, na vida religiosa. Outros são chamados na metade da vida. Existem, ainda, aqueles que são chamados com idade mais avançada. Para Deus, isso não importa muito. Importa mais, a maneira como respondemos a esse chamamento. Não adianta viver muito e viver mal. Importa viver bem. E viver bem é viver perto de Deus. Melhor seria viver muito e viver bem. Foi o que aconteceu com São Vicente de Paulo, que viveu longos anos sem nunca deixar de servir a Deus, na pessoa dos pobres.

Deus não conta o tempo como nós. Para Ele a idade da pessoa não importa muito. Por isso, qualquer tempo é tempo de conversão, de mudança de vida. Essa chance só termina com a morte. Mas, até no último segundo de nossa vida podemos nos arrepender e suplicar pela misericórdia divina. Não foi isso que aconteceu ao bom ladrão? Ele já estava em agonia para morrer e, mesmo assim, foi salvo pela bondade de Jesus. Fo bem esperto. Conseguiu a salvação no último segundo de vida. Esse foi um dos trabalhadores contratados na última hora, ou melhor, no último minuto. Na verdade, nem teve tempo de trabalhar para Deus. E, no entanto, o seu pagamento foi generoso, pois nenhuma moeda desse mundo é capaz de pagar o ingresso para o céu.

Eu não sei se você já sentiu o chamado de Deus. Talvez, não quis ouvir para não ter que mudar de vida. Mas, é bom se lembrar de que a vida passa e a sua batata está assando. Não deixe para depois a resposta que você pode dar hoje mesmo. E só você pode responder a um chamado pessoal. “Se ouvires a voz do vento” diga sim, enquanto há tempo!

Imagem de Antonios Ntoumas por Pixabay