Começo, meio e fim. Isso existe?

A história de hoje não tem fechamento. Cheguei à conclusão que é bobagem se preocupar com isso. Na vida alguma coisa se fecha? Viver é abrir caminhos sem saber onde vão chegar. Por acaso, você é capaz de me explicar o que acontecerá com seus filhos amanhã? Mas, a gente aprendeu, que tudo tem começo meio e fim. Não nos ensinaram que o fim, ao mesmo tempo pode ser começo e que o meio, pressupõe o conhecimento do princípio e do fim. Confuso, né? A vida, às vezes, é confusa. Sobretudo, em tempos de pandemia!

Em nossa vida, as coisas costumam não funcionar do jeito que planejamos. Traçamos objetivos e sonhamos com um final feliz que nem sempre acontece. Você conhece a mãe do engenheiro? Engenheiro é o apelido do cobrador de ônibus. Sua mãe queria que ele fosse engenheiro, mas a coisa não pegou. O que pegou mesmo foi o apelido. O Engenheiro hoje sonha em ter sua própria frota de ônibus... E o padeiro solitário você o viu hoje? Sabia que ele sonhou em se casar-se, com  Tereza, uma empresária de sucesso e, além disso, muito bonita? O sonho do padeiro deixou de ser sonho e foi realidade durante dez anos, até o dia em que ele apanhou a esposa no colo do presidente do sindicato. Hoje, ele mora com Dolores, que ostenta no currículo, a profissão de "desocupada".  Paciência, nem tudo sai dentro dos conformes! O Zé das couves desejou ser piloto de avião, mas acabou plantando hortas. Hoje  inveja das joaninhas que não precisaram fazer cursos e voam como ninguém...

Somos filhos da cultura ocidental e herdamos dos antepassados a ideia de que tudo teve um começo e que vai ter um fim. Trazemos essa lógica para a nossa existência. Gostamos da ideia de um começo. Quem não gosta de inauguração! Cortar a fita e receber os aplausos dá-nos uma sensação de que somos importantes fazemos coisas, igualmente, importantes! A mãe anseia pela vinda do bebê e se frustra quando seus planos dão errado. Ninguém quer parecer velho. Pela lógica o velho está mais perto do fim da vida. Como não sabemos onde está situado o “meio da vida”  temos dificuldades em precisar o seu fim. Alguns,  pensam que ele seja uma possibilidade remota. A morte nos assusta porque não imaginamos ser “premiados” com ela algum dia. Sabemos de sua existência somente para os vizinhos... 

Nosso raciocínio é muito linear e pouco dialético. Na dialética as realidades se misturam e se confundem. Por exemplo: a noite já esconde, em seu bojo, as sementes do novo dia. Pronto! Fiz dialética de forma poética. O patrão somente é patrão porque existe um empregado e vice-versa. Falando de forma linear posso afirmar que o dia é o oposto da noite e não o lugar de sua germinação. Ficou difícil? Então digo de forma diferente. Dia é dia, noite é noite. Patrão é patrão, empregado é empregado. É tão mais simples assim, não é? Mas, será que a realidade funciona assim mesmo? Esse era o pensamento  de Jorge Bush,  ex-presidente dos Estados Unidos: De um lado estava o mal e do seu lado o bem. Ele acabava sendo o porta-voz desse sumo bem, uma espécie de “Anjo Gabriel”. Será que é tão fácil “apartar” essas realidades? Mas, nesse ponto Jorge Bush não fica só. Muita gente pensa como ele. Para essa turma no mundo só existem dois lados e duas cores: Preto e branco. Que pena! Parece que já provaram que existem pelo menos 50 tons de cinza! 

Na mitologia indiana Shiva é uma divindade que representa a dialética da existência. Com sua dança ela cria e descria, constantemente, a realidade. A dança tem por tema a transformação, constante, do universo. Shiva é representada com o pé direito esmagando o demônio e o pé esquerdo no ar representando o equilíbrio e a ascensão. Seus quatro braços são necessários para destruir o velho mundo e criar o novo. No Cristianismo, a missão de renovar foi confiada ao Espírito Santo. S. Paulo afirma que devemos morrer para o velho, para o pecado, e renascer, constantemente, para o novo, para a graça. O Espírito Santo renova todas as coisas! Ele nos ensina a extrair lições de bem até mesmo das desgraças! Que Ele venha nos ajudar e traga uma nova realidade mais colorida do que essa. Nessa pandemia está tudo muito acinzentado! 

Agora chego ao final do meu texto. Para não perder o costume ele teve começo meio e fim. Mas, espero que esse fim, seja apenas o começo de sua reflexão. Um abraço.

Imagem de Enrique Meseguer por Pixabay