São José, rogai por nós!

 

Não é fácil falar sobre São José. Nas últimas pregações que fiz sobre ele fiquei muito emocionado.  Tentei me transportar para o seu tempo imaginando  um pouco de sua vida. Isso foi o bastante para que a palavra ficasse embargada e por pouco eu não chorei diante da assembléia. Veja se não tenho razão: José não era um homem de leis como os fariseus nem de escrita como os escribas ou sacerdotes. Era homem de trabalho, um carpinteiro! Não contava com a insegurança dos pastores e pescadores. Tinha uma profissão fixa. 

O carpinteiro daquele tempo, certamente, era muito diferente dos de hoje. José devia ser um “mestre de obra” e fazer um pouco de tudo. Quando conheceu Maria ela devia ser uma  jovenzinha e ele um homem maduro.  Essa era a lógica daquele tempo. O casamento era um acerto de família. Coisa bem diferente acontece nos tempos atuais. Da oficina, José deveria observar as moças que passavam pelas estradas sempre acompanhadas dos pais. Seu olhar pousou um dia sobre aquela menina e gostou dela. “Acertou” com a família e tornaram-se noivos. Da oficina, José começou a preparar os móveis e a casa para morar com sua futura esposa. O lugar não era grande coisa. Nazaré não tinha importância alguma. Aliás, um dos significados desse nome, quer dizer: escondido. Algo como, um lugar “onde o Judas perdeu as botas”, se Judas já existisse naquele tempo. Ainda assim, José preparou tudo com amor.

O grande problema aconteceu quando aquela menina apareceu grávida. José era um homem santo. Não quis duvidar de Maria. Mas, também não conseguia entender tudo o que se passava. Ficou num beco sem saída. Se renunciasse ao noivado, teria que apontar os motivos. Nesse caso, Maria poderia ser apedrejada. Se assumisse o casamento, o nascimento do menino “antes da hora” o acusaria de ter ficado com a noiva antes do casamento. Nesse caso, ele mesmo seria acusado de desonra diante de todos. Preferiu “sair de fininho” sem fazer escândalo. Talvez, pensasse que o problema seria, discretamente, resolvido pela família da noiva. Quantas noites de insônia não teria lhe custado essa difícil decisão? Nesse instante, Deus entra em ação e, através de seu anjo, avisa-lhe que o que está acontecendo é obra do Espírito Divino. José é um homem do trabalho pesado. Mas, isso não roubou dele a capacidade de sonhar. Assumiu Maria como esposa e a partir de então a guardou como ninguém. Seguramente, não entendeu tudo o que estava acontecendo, mas não teve coragem de duvidar de Deus e nem de Maria. Ah, como eu tinha vontade de permanecer pelo menos um dia na casa daquela família sagrada! Quantas conversas tiveram, quantos sonhos compartilharam, quantos amores vivenciaram durante a espera do menino prometido por Deus!

Numa das tantas noites frias da palestina, o Menino Jesus nasceu. Nasceu numa gruta e teve o universo inteiro como testemunha da grandiosidade do fato. Nas casas dos homens não havia, e às vezes não há, lugar para ele. José foi o pai que adotou o companheiro fiel, o protetor incansável daquele menino. Vê a tudo e a tudo observa. Observa atento, a visita dos pastores e dos magos. Procura entender, mas, antes, contempla o rosto do “sol nascente que veio nos visitar”. Em sonho, é avisado mais uma vez pelo anjo. O menino corre perigo! Nessas horas, como um bom pai,  não conseguiu dormir. Foi ser retirante no Egito, uma “terra estranha de estanha gente”, conforme dizia o cantor Luiz Gonzaga, referindo aos nordestinos que migram para o sul do Brasil em busca de melhores condições de vida. José não podia entender como um menino tão frágil poderia ser uma grande ameaça aos poderes constituídos. Ainda assim, prefere seguir a intuição angelical fugindo com o menino e a mãe. Só retornou ao receber novamente um aviso do céu. Aliás, na vida de José o céu não era realidade distante. Ele convivia com o Menino-Deus e a Maria Santíssima. O céu estava dentro de casa; a casa que ele construiu com suas mãos. Seu trabalho ficou mais fácil. Se de um lado, ele segurava a madeira, do outro lado, quem a segurava, era o Menino Jesus! Que bom seria se nós também pudéssemos contar com essa ajuda. Tudo ficaria mais fácil se de um lado estivéssemos nós e do outro o Menino Jesus. Quantas vezes José não teve que parar o trabalho para dar atenção ao menino! Com que alegria não o fez? Seguramente interrompeu um trabalho sério na madeira para fazer um pião para o menino brincar. Quantas vezes não teria embalado o menino ao cair da noite para que ele pudesse pegar no sono? Quantas histórias não teria lhe contado ao ouvido?

Ao final da vida de Jesus São José já deveria ter morrido. Caso contrário ele estaria ao pé da cruz no alto do calvário. Qual pai abandonaria o filho num momento como esse? Deus quis poupá-lo dessa tristeza. Parece que ele não viu a morte de seu filho. O contrário deve ser verdadeiro. Jesus deve ter amparado José na hora de sua morte. Nesse caso, eu  lhe pergunto: - poderia haver felicidade maior do que morrer nos braços de Cristo?

Hoje invocamos São José como o padroeiro da família, dos seminários, dos trabalhadores... Quero invocá-lo como pai. Que ele tenha comigo um pouquinho só, da ternura que teve com o Menino Jesus. Ao contrário do Menino Jesus que não teve pecados, eu não consigo me livrar deles. Por isso, preciso tanto de  um pai nos moldes de São José. Que ele me abençoe e proteja!

Imagem de Jose Conejo Saenz por Pixabay