Filtrar uma formiga e engolir um elefante

 

É estranho constatar isso, mas aquela fala de Jesus dirigida aos escribas e fariseus foi, grandemente, ameaçadora! Ai, de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho, mas desprezais os mandamentos mais importantes da lei... (Mt 23, 23-26). 

Jesus era um “poço de ternura”, mas não tinha “sangue de barata”. Por isso, naquele dia, encantoou seus adversários que não se cansavam de tentar prejudicá-lo. Mais adiante, ele completou: Vocês coam um mosquito, mas engolem um camelo! Isso quer dizer, que eles ficavam presos a picuinhas e faziam vistas grossas às coisas grandes. Esse é um risco que corremos ainda hoje. Quantas vezes, nos desentendemos por causa de detalhes ou coisas sem importância? Nas igrejas isso acontece demais. Mas acontece em qualquer lugar. Santo Agostinho dizia, aos seus que: Nas coisas fundamentais deve prevalecer a unidade, nas menos importantes a liberdade. Em tudo, a caridade. Essa seria uma boa regra de convivência! O que desgasta um relacionamento conjugal, por exemplo, costuma ser uma sequencia, de coisas pequenas: Pequenos descuidos, desconfianças, ciúmes, indiferenças... Um dia a casa cai!

Pagar o dízimo, corretamente, sempre foi um mandamento bíblico. Para não incorrer a erros, os fariseus e escribas pagavam até daquilo que não precisava. O certo era pagar o dizimo daquilo que mais se produzia na época, como cereais, vinho, azeite... Hortelã, erva-doce e cominho, são plantas aromáticas. Não representavam muita coisa na economia daquele tempo. Cada família tinha, e ainda tem, alguma planta assim, no quintal. Acontece, que os fariseus e escribas, tinham uma ideia muito diferente da salvação. Pensavam, que cumprindo tudo “tim tim por titim” Deus seria quase obrigado a  salvá-los do inferno. Mas, isso era um engano. Ninguém pode comprar o “ingresso” para a salvação. Jesus nos ensinou que a salvação é de graça. Ele pagou, com seu sangue, o nosso “ingresso” para o céu. Depois disso, alguém poderia dizer: Obá! Então, se minha entrada ao céu está garantida, posso viver de qualquer maneira!  Não é bem assim. O amor de Deus por nós é de graça. Mas, requer de nossa parte, uma resposta. Não devo amar a Deus para que Ele me ame com se fosse uma moeda de troca. Ele já me amou primeiro. E é por isso que devo amá-lo. O que mais, Deus poderia fazer para provar que nos ama, se já nos deu o seu próprio filho? Seria muita ingratidão, de nossa parte, não retribuir a esse grande amor!

Os fariseus e escribas nos fazem lembrar aquele ditado popular: “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”. Em outras palavras, Jesus também expressou isso, sobre eles: Limpais o lado de fora do copo e do prato, mas o lado de dentro está cheio de sujeira... Dessa maneira, os acusava de hipocrisia, pois, o hipócrita, não vive aquilo que aparenta viver. Vende uma imagem de santo quando, na verdade, não o é, e nem se esforça por isso. Cristo não desaprovou o cumprimento da lei por parte deles, condenou-lhes o legalismo exagerado. O fanatismo é prejudicial em qualquer tempo ou situação. Não sei se você conseguiria viver  com uma pessoa fanática. De fato, não é fácil!

A hipocrisia é um risco que pode afetar a todos. Não deixa de ser hipócrita afirmar que o Brasil é o país "mais católico do mundo", com tanta coisa errada que acontece por aqui. Que tipo de catolicismo seria esse? Se fôssemos católicos, de verdade, será que haveria tanta corrupção, e lambança entre nós? Muitos que são responsáveis por essas situações se dizem católicos e, às vezes, frequentam as missas... Acho que a situação não mudaria nada, se fosse aplicada ao conjunto dos cristãos, pois o mau exemplo, em outras denominações cristãs também existe. E como!

No tempo de Jesus os fariseus, escribas e outros grupos, preocupavam, exageradamente, com a lei da pureza, a lei do sábado e outras normativas. Mas, esqueciam-se da pureza interior da prática da justiça, do amor fraterno. Além disso, punham a lei acima da vida. Era a lei pela lei.  Infelizmente, percebemos o quanto isso é atual. Alguns, ainda hoje, colocam as leis da economia acima da vida. Esquecem-se, de que é o homem que faz girar a economia. Com o homem morto não existiria vida econômica. Por isso, nenhuma lei deveria sobrepor à vida. Talvez, a vida humana e a vida do planeta nunca estiveram tão ameaçadas como atualmente. Fiquei triste com uma notícia, recente, dizendo que uma loja, em Recife, continuou funcionando, normalmente, com um corpo sem vida no seu interior. Durante bom tempo o corpo ficou ali, estirado no chão, apenas coberto por algumas sombrinhas. Enquanto isso, a loja girou normalmente. Isso é que chamo de falta de humanidade!  Atualmente, para que alguns ganhem muito dinheiro, não importa nem mesmo, a morte de um rio com toda sua biodiversidade! Essa realidade, infelizmente, nós a conhecemos de perto...

Imagem de Andar Moon por Pixabay