Natanael

Não se assuste se eu lhe disser que, nesse exato momento, Deus está de olho em você! Mas, não se preocupe. Deus não é um "cobrador" ou fiscal do governo. O seu olhar sobre nós é um olhar cheio de amor. Foi assim que "viu Natanael debaixo da figueira". Viu, gostou dele e o atraiu a si. Isso foi o mais importante. Tomara que Deus faça isso também comigo e com você!

No dia 24 de agosto celebramos São Bartolomeu, Apóstolo ou São Natanael. A tradição viu em Natanael o mesmo Bartolomeu, um homem "sem falsidade", nas palavras de Jesus. Natanael,  chamado para encontrar-se com Jesus através de Filipe. Isso pode ser conferido no início do Evangelho de S. João (Jo, 1,35-42).  Esse trecho bíblico trás muitas idéias interessantes. Ao chamar Natanael, nome quer dizer dom de Deus, Filipe demonstra grande entusiasmo: “Encontramos aquele que foi anunciado por Moisés e pelos profetas”! Em outras palavras: o que foi encontrado já foi anunciado pela lei e pelos profetas. Natanael não é de ir em conversa. Por isso, questiona se poderia sair coisa boa de Nazaré. Certamente, já sabia que aquele que fora encontrado era de origem humilde. Nazaré era um lugar muito pobre e simples.  Ainda relutante, resolveu acompanhar Filipe. Qual foi sua surpresa logo no primeiro encontro! Jesus o elogia como “israelita autêntico”, sem fingimento. De onde me conheces? – Pergunta Natanael. - Antes que Filipe te chamasse eu te vi sob a figueira, disse Jesus. Assustado com aquela revelação, Natanael exagera: chama Jesus de mestre, rei e Filho de Deus. “Mestre, tu és o Filho de Deus o rei de Israel”. Após o susto inicial Jesus lhe garante que ele ainda verá coisas maiores. Verá o céu aberto e os anjos subindo e descendo sobre o Filho do Homem.

De posse desse texto podemos refletir:

O que Natanael fazia sob a figueira? Parece que era um hábito, daquele tempo, refletir sobre a lei, e rezar debaixo das figueiras. Que bom se nós também tivéssemos nossas figueiras para rezar um pouquinho durante dia! Confesso que tenho minha figueira, ou seja, um cantinho, onde me coloco para rezar todos os dias. Esse cantinho pode ser o ponto do ônibus, um banco do jardim, uma árvore frondosa, ou mesmo a beira de um rio... Cada um, conforme suas possibilidades poderá encontrar um canto para conversar com Deus. Alguns motoristas fazem isso na cabine do caminhão...

A figueira também foi comparada, muitas vezes, ao povo de Israel, que, seco para Deus, era incapaz de produzir frutos. Deve ser muito triste para Deus essa constatação. Assim como o agricultor espera os frutos de sua lavoura, Deus também espera bons frutos de cada um de nós. 

No Evangelho me chama a atenção a fala do Apóstolo Filipe: Encontramos o Messias! Certamente, ele diz isso como alguém que encontrou um tesouro. A espera do Messias era uma espera milenar em Israel. Imagino que Filipe disse isso com grande brilho nos olhos. E um testemunho feito dessa maneira deve ser acatado. Filipe é portador daquela alegria única de quem já se encontrou com Deus e com o sentido maior de sua vida. O seu testemunho falou mais alto do que a descrença de Natanael. Acho que isso é uma boa lição para cada um de nós. De que maneira falamos de Cristo às pessoas? Será que ao falar de Jesus temos brilho no olhar? 

Ao final da conversa com Natanael Jesus lhe promete que ele ainda verá coisas maiores. Verá o céu aberto e os anjos subindo e descendo sobre o filho do homem como se ele fosse uma escada. Jesus, de fato é essa escada por meio da qual podemos subir ao céu. Mas, nós também devemos ser ponte de ligação entre o céu e a terra. Nosso amor a Deus e nosso testemunho cristão pode transportar as pessoas  para Deus ainda nos dias atuais. 

A visão da escada ligando a terra ao céu faz lembrar o sonho de Jacó (Gn 28,10) no Antigo Testamento. Mas, se Natanael era autêntico e sem fingimento, o mesmo, talvez, não pudesse afirmar com relação a Jacó. Este driblou o próprio irmão Esaú e, com ajuda de Rebeca, sua mãe, enganou Isac, seu pai, para roubar-lhe a bênção que deveria ser do irmão (Gn 27). A escada que ele viu, em sonhos, poderia ser uma "pálida" imagem do futuro messias. Se por um lado Jacó( que depois foi chamado de Israel) estava longe da escada, Natanael era autêntico e estava próximo dessa escada que era o próprio Cristo. Jesus parece não endossar o excesso de títulos (mestre, rei, Filho de Deus) que lhe foi atribuído por Natanael. Adota apenas o título de Filho do Homem. Enquanto Filho do Homem ele está bem próximo de nós. Aliás, “o Verbo se fez carne”, mostra que Ele se fez assim, exatamente, para ficar perto de nós. 

Para ser discípulo de Cristo é preciso libertar-se do fingimento. Essa ideia precisa ser reavivada em nós. Ela remete à reflexão sobre a qualidade dos cristãos. Não dá para seguir Jesus quem pretende continuar cheio de dobras. Natanael foi discípulo verdadeiro, sem dobras ou fingimento. Hoje  é citado como modelo de vida  para todos nós!

São Natanael, rogai por nós!

Imagem de Thomas Hoang por Pixabay