Sou Rico
Hoje sei o quanto sou rico e não tenho pudor em dizê-lo, pois nada pior do que um rico envergonhado. Rico sem vergonha, também não é legal...
Hoje sei o quanto sou rico e não tenho pudor em dizê-lo, pois nada pior do que um rico envergonhado. Rico sem vergonha, também não é legal. Então, economizemos as palavras: Sou rico e pronto!
Quem sabe de onde vim e conhece minha história há de concordar comigo. Hoje tenho casa para morar e as latas cheias de comida. Sei fazer um feijãozinho com arroz como ninguém! Em minha casa tem até biblioteca, pode? Esse sempre foi meu sonho de consumo! Na biblioteca tenho Guimarães Rosa, Adélia Prado, Luis Fernando Veríssimo e muitos outros... Por isso, nunca estou sozinho. Viajo o mundo sem sair do lugar. Sou um homem viajado. Solidão eu não conheço...
Moro em Pará de Minas, uma Cidade mais linda que Paris! Na verdade, não conheço Paris. E porque haveria de conhecer? Gosto de cada esquina dessa cidade e gosto também dos moradores. Veja se isso não é uma grande riqueza! Sempre digo que as próximas férias, que nunca chegam, pretendo passá-las, todinhas, em Pará de Minas. Nada melhor do que dar uma voltinha na Rua Direita, conversar com os amigos, comer biscoitos na casa da Vitória e pão de queijo com Dona Áurea.
Já fiz jubileu de prata sacerdotal. Essa é outra riqueza sem tamanho. Ninguém merece uma graça tão grande! Trabalho no rádio e assim realizo, todo dia, um sonho de criança. Vejam quantos privilégios para uma pessoa só! Minhas roupas, sapatos e panelas eu as compro em Pará de Minas mesmo. Fico orgulhoso com cada coisinha e nunca perco a oportunidade para um dedinho de prosa na loja. Tenho vizinhos tão maravilhosos que nem mereço. Atuo no Rádio todo dia e tem muita gente que me escuta. Às vezes, comentam comigo falas que tive na parte da manhã e, com isso, quase explodo de contentamento. Gosto de partilhar com as pessoas o que estou lendo e estudando.
Nos últimos meses andei viajando por dois continentes estudando a rota da escravidão. Brasil e África são dois grandes mundos. Nossos povos são irmãos separados por um oceano. Escrevi e falei sobre isso. Foi um jeito que encontrei de buscar as origens do racismo atual. Acho que deu certo. Tive umas dez visualizações em cada vídeo produzido e meia dúzia de leitores no blog. Quem perdeu foi quem não leu. Não ando a cata de “likes” e curtição. Não escrevo sob encomenda. Falo o que me dá na teia.
Agora, mais recentemente, aterrissei-me, no norte da França e recuei ao século XIX. Estou visitando Santa Terezinha do Menino Jesus. Já andei falando e escrevendo sobre a mesma. Empaquei um pouco ao ler as cartas da santa porque são muitas. Confesso que estou gostando dessa viagem. Mas, para a coisa não ficar muito pesada não dispenso uma boa literatura. Em se tratando de boa literatura o Brasil não fica atrás de ninguém. Sempre leio algo mais pesado e algo mais leve, pois ninguém é de ferro. As Obras Completas de Santa Terezinha pesam. Mas, as crônicas de Rubem Braga aliviam a carga e torna o caminho mais leve.
Nunca dispenso uma boa música. A boa música também mora em Pará de Minas. Você já ouviu o som de Urbano Medeiros, o violão do Rachid e a viola caipira do Fábio Méller e a voz de sereia das Irmãs Silva? Se já ouviu irá concordar comigo. Isso aqui é a oitava maravilha do mundo! Não me acuse de bairrista. Sou realista. Falo de uma realidade de fato e não de sonhos. Acho que muitos irão concordar comigo. Mas, tem sempre aqueles que, mesmo estando na barca, tentam perfurá-la, isso quando não remam ao contrário. Não sou desse time. Não tenho o hábito de afirmar que só a galinha do vizinho põe ovos de ouro... Reconheço a qualidade de outros galinheiros. Mas, não tenho inveja de ninguém. Isso aqui é quase um céu. O resto é desperdício! Espelho, espelho meu, existe alguém no mundo mais feliz do que eu?