O jovem rico

 

Aquela casa já abrigou sonhos, sorrisos e músicas. Hoje, serve de suporte aos cipós e insetos que crescem em suas ruínas. Que tristeza eu sinto  ao passar diante dela! Conheci seus antigos moradores e, na verdade, a história de cada um. No passado, saia daquela cozinha um cheiro gostoso de alho e manjericão. Hoje, só as lagartixas passeiam sobre as paredes abandonadas. Como tudo passa nesse mundo!

A antiga dona da casa, mulher de trabalho e lutas, junto ao marido criou uma família grande e, só não estudou, alguns filhos que foram resistentes à escola. O marido, homem religioso, não gastava dinheiro à toa. Não fosse o seu incontrolável interesse por um rabo de saia seria o marido perfeito. Ela, por outro lado, se descuidava muito do seu lado feminino a pretexto de zelar pelos filhos e até mesmo pelo marido. Cada um com suas virtudes e mazelas... Mas, numa coisa falharam bastante. E essa é a falha mais comum na vida de todos, pois não existe manual para educação de filhos. Na luta pela vida, nem viram o crescimento dos meninos. O mais velho tomou gosto pelo álcool e atrás dele foi o filho do meio. Ambos morreram pouco tempo após a morte dos pais. E assim, um a um, acabaram se distanciando do que se chama família. Na morte dos pais só pensaram na herança. Nisso, também não diferiram de grande parte dos homens.

A casa abandonada e coberta de matos serve de testemunha de que não ficou pedra sobre pedra naquela, que tinha tudo para ser uma família feliz. Problemas materiais não tiveram. Os pais trabalharam muito e deixaram cada filho em boa situação. Mas, a competição entre eles, foi dura! Cada um queria sobressair ao outro. Talvez, por isso, não conseguiram, até hoje, partilhar a herança. Coube aos morcegos e lagartixas tomarem conta da casa.

No Evangelho de São Mateus (19,16-22), um moço rico, chega perto de Jesus e lhe pergunta: - O que devo fazer para ter a vida eterna? Jesus o aconselhou a seguir os mandamentos. Mas, isso ele já fazia desde criança, conforme confessou. Pelo visto queria um algo mais. Jesus parece ter gostado de sua atitude. Então, o convidou para segui-lo. Mas, para isso precisava se desprender da própria riqueza. O jovem, após refletir um pouco, dispensou o convite. Mas, o Evangelho afirma que ele retornou à sua casa, cheio de tristeza. Isso, não me parece um detalhe. Afinal, trocou um bem eterno por algo passageiro. Nesse mundo tudo passa rápido. Lembra-se da “tapera” que ilustrou o início desse texto?

O jovem do Evangelho continuou com suas riquezas e tristezas... Mas, desse jeito, não vale! De que adianta ser um rico triste? Melhor seria um pobre alegre, não? Na verdade, o jovem não era dono de nada. Era escravo do que possuía. Vivia em função daquilo. Nesse ponto ele não é o único. Muita gente se parece com ele. Pensa que tem quando, na verdade, são escravos de suas propriedades...

Naquele dia o jovem rico perdeu a maior de todas as oportunidades: Ficar para sempre ao lado de Jesus! Trocou um chamado divino por meia dúzia de galinhas... O Evangelho não diz, mas outra pessoa deve ter ficado triste ao ser trocado por bois e vacas. Jesus, certamente, ficou decepcionado com o não recebido. Mas, Deus não nos obriga a nada. Por isso, respeitou a decisão do moço. Afinal, ele não foi o primeiro a trocar a liberdade por um prato de cebola com carne cozida...

Imagem de Dimitris Vetsikas por Pixabay