Lavando e dobrando as redes...

 

Na tentativa de explicar uma passagem do Evangelho ((Lc 5, 1-11), vou contar-lhe, três pequenas histórias: A do fazendeiro, do mecânico e da dona de casa.

O fazendeiro lidou com o gado e trabalhou o dia todo debaixo da chuva. Ficou “atolado” na lama, na maior parte do tempo e já não aquentava mais a friagem. Ao final do dia, tomou um banho quente, vestiu roupa limpa e, enquanto aguardava o jantar, alguém lhe gritou do curral. O boi de estimação estava passando mal e era preciso cuidar dele com urgência. O fazendeiro teve que entrar, de novo, debaixo da chuva, cansado e com fome, para cumprir sua obrigação...

O mecânico estava exausto ao final do dia. Movimentou-se prá lá e pra cá o tempo todo. Deitou-se debaixo de muitos veículos e sujou-se, completamente, de graça e óleo. Sonhava em chegar a casa para ver o final do campeonato. Seu time preferido iria jogar naquela noite. Mas, antes de começar o primeiro tempo, seu telefone tocou. Do outro lado da linha uma senhora desesperada, pedia-lhe socorro porque seu automóvel estava com problemas na estrada. O mecânico teve que sair, mesmo contra sua vontade, para não deixar a pobre senhora na mão...

A dona de casa aproveitou bem a parte da manhã para dar um trato na casa. Ajeitou os móveis, lavou as roupas e cuidou dos animais. Conseguiu fazer o almoço e despachar as crianças para a escola. Após o almoço, limpou as panelas, o fogão e deixou a cozinha brilhando! Nesse momento alguém toca a campainha. Eram dois andarilhos que lhe pediam um prato de comida. A dona de casa não lhes negou esse favor. Mas, inicialmente, teve vontade de morrer, não pela comida, mas por ter que sujar tudo de novo!

No Evangelho em questão, o que aconteceu foi algo parecido. Pedro e seus companheiros pescaram a noite toda. Não pegaram nem uma piaba. Foi uma noite perdida! Na cara da turma estava escrita a palavra “decepção”! Afinal, eram pescadores profissionais e conheciam os segredos do mar. Naquela noite, o mar não estava para peixes! Pela manhã, mortos de canseira e sono, lavavam e dobravam as redes. Não viam a hora de chegar a casa para “forrar o estômago” e tirar uma boa soneca!

Enquanto lavavam as redes, Jesus aproximou-se do grupo e subiu na barca de Pedro. Eles não se assustaram com aquilo. Sabiam que se tratava de um “mestre”, ou seja, uma pessoa que conhecia a Lei de Israel e, portanto, gozava de certo prestígio. Não custava nada deixá-lo usar a barca, para que dela dirigisse uma palavra aos populares. O povo estava de olho em Jesus e Jesus estava de olho em Pedro e seus companheiros. Depois de falar ao povo, Jesus pediu a Pedro que conduzisse a barca para “águas mais profundas”. Em seguida, ordenou-lhe que lançasse as redes na água. Nossa! Aquilo já seria demais! Pedro teve imenso trabalho a noite toda e nada havia pescado. Agora as redes estavam limpinhas e dobradas. Além do mais, o pescador ali era ele e não o mestre.

Demonstrando grande humildade Pedro disse a Jesus: - Mestre, nós pescamos a noite toda e nada apanhamos. Mas, em atenção à sua palavra vou lançar as redes de novo! Disse isso e foi logo estendendo as redes sobre as águas. Nesse momento, teve grande surpresa! Os peixes pareciam disputar um lugar nas malhas das redes. Pedro nunca vira coisa igual! Teve que chamar seus ajudantes para puxar as redes com os peixes. Assustado com o milagre exclamou: Senhor, é melhor o Senhor ficar longe de mim, pois eu sou um pecador!

Pedro estava enganado. Jesus sabia que ele era pecador. Mas, afirmou que não eram os sadios que precisavam de médico e sim os doentes. Ele não se encarnou para salvar os anjos. Mas, os pecadores! Naquela manhã, Pedro pescou muitos peixes e ele mesmo foi pescado por Jesus.

Você seria capaz de fazer o que Pedro fez, para atender um pedido de Jesus? Seria capaz de abrir mão das próprias convicções e certezas em obediência à Palavra de Deus? Pedro não se arrependeu do que fez. Deus nunca nos pede algo para a nossa infelicidade. Por isso, é melhor pensar duas vezes, antes de lhe negar um favor. Pense nisso!

Imagem de Quang Nguyen vinh por Pixabay