Lição dos Ipês

 Minha amiga Débora enviou-me, pelo Watssap, uma foto que tirou nas proximidades de sua casa. Era a foto de um ipê amarelo que contrastava com a paisagem ressecada de agosto. Gostei da foto e da sensibilidade de Débora que quis eternizar aquele momento de rara beleza. Na época da foto ela morava num lugar bem alto e, por isso, via o sol nascer primeiro. As manhãs são lindas quando vistas da montanha e o entardecer um verdadeiro deslumbramento! É preciso ser muito opaco para não ser fisgado por tanta beleza!

Não há nada mais lindo do que um ipê florido no mês de setembro. Ele me lembra das gemadas de ovos, que meu pai fazia para nós, quando éramos criança. O amarelo do ipê faz com que ele seja um verdadeiro destaque no meio do cerrado. De longe ele é bonito e de perto, mais ainda! Suas flores caídas  forram o chão seco com grande um lençol amarelo. Os passarinhos fazem festa em suas ramagens como se comemorassem alguma coisa. Ignorando a secura da terra e o embaçado do clima o ipê floresce por inteiro, sob o céu sem nuvens. Diante de tanta beleza é impossível não se lembrar de Deus.

Certa ocasião, eu e mais um grupo de pessoas plantamos diversas mudas de ipê margeando as escadarias que dão acesso ao monumento do Cristo Redentor, em Pará de Minas. As mudas que prosperaram hoje já estão crescidas e, brevemente, irão enfeitar mais ainda nosso cenário...

O ipê, mesmo sem saber nos transmite uma lição: É preciso florir apesar da terra seca e da falta de água! Pois é. Como somos diferentes dele! Quando os problemas se avolumam costumamos entrar em crise e reclamar de tudo. A fé desaparece e a gente tem dificuldades em perceber a presença de Deus em nossa vida. O ipê nos ensina que nesses momentos também precisamos florir e fazer diferença na paisagem. Não dá para viver sem dificuldades. Elas existem para todos. Deus não escolheu somente a mim para sofrer. Somos meio ingratos com Deus. Nas horas de provação reclamamos dele, mas nas horas de alegria nem sempre lhe agradecemos.

Diante do sofrimento a gente fica sem forças e incapaz de florescimentos. O mundo perde a graça para nós. Costumamos reclamar de tudo e até a felicidade dos outros passam a nos incomodar. Gostamos muito da experiência do Monte Tabor, mas não sabemos enfrentar Calvário... É uma pena! Deveríamos aproveitar tudo isso para nosso crescimento espiritual. Existe um tipo de crescimento que exige a dor como adubo. Dificilmente, a gente cresce na passarela em meio aos aplausos. Vale lembrar que os versos mais lindos do seu “Canto Espiritual”, foram escritos quando São João da Cruz estava na prisão... Ele foi como o ipê que, apesar da secura do meio, não deixou de florir e semear suas sementes. Mais do que poesia mística, João da Cruz deixou uma grande obra de arte para todos os tempos. Sua poesia é capaz de transformar vidas!

São João da Cruz é o padroeiro do Bairro Cecília Meireles, em Pará de Minas. Um santo poeta protege o bairro que leva o nome de uma das maiores poetas da língua portuguesa: Cecília Meireles! Imagino que ambos já tenham se encontrado no céu. Espero que ouçam o meu pedido: - Protejam esse Bairro que é muito sofrido e nos ensinem a florir apesar das securas de nosso tempo. Aliás, o que não faltam são ipês floridos pelas bandas do Cecília Meireles!

Imagem de carolalves por Pixabay