Pablo Neruda e o 11 de Setembro

 Ao ler o título desse texto, o leitor provavelmente, imagina que vou falar do aniversário do atentado às torres gêmeas do World Trade Cente...


 Ao ler o título desse texto, o leitor provavelmente, imagina que vou falar do aniversário do atentado às torres gêmeas do World Trade Center, na  Cidade de Nova York em 2001. De fato, esse atentado mudou o mundo e ficou para sempre registrado na memória dos povos. Mas, não é sobre ele que quero falar e sim, sobre um grande poeta que, morreu, segundo alguns, em consequência de um 11 de setembro.

No dia 11 de setembro de 1973,  aconteceu no Chile a derrubada do governo de Salvador Allende por um golpe de estado liderado por Augusto Pinochet.  Pablo Neruda, que era amigo de Allende e estava internado em Santiago, para tratamento de saúde morreu logo depois no dia 23.  Sua morte ainda continua um mistério. Sua casa , na Isla Negra, foi saqueada e seus livros, queimados. Alguns acreditam que ele não morreu por causa da próstata, mas por causa de Pinochet.

Neruda  nasceu à sombra da Cordilheira dos Andes no dia 12 de julho de 1904. Seu nome? – Nefatli Ricardo Reyes Basoalto. Esse foi o nome de nascimento de Pablo Neruda o poeta chileno ou poeta do mundo. A mudança de nome foi um jogo para enganar o pai que não queria um filho poeta. Seu pai achava que poesia não daria futuro.

Falar sobre Neruda é falar sobre um poeta completo que traz no sangue o cheiro da terra, o gosto pelas mulheres e um eterno inconformismo com um mundo dos homens.    Em sua poesia encontramos de tudo: Cores de crepúsculos, sabores da terra, revolução e múltiplos amores. Em sua casa próximo à Santiago, chamada  por ele de Isla Negra, até uma mulher esculpida na madeira chorava de vez em quando. Neruda deu nome para essa peça:  – Maria Celeste! Maria Celeste era a estátua de uma mulher usada como “carranca” de navios. De vez em quando, ela chorava com seus olhos de vidro. Também pudera! Ela morava na casa de Neruda!

No ano de 1927, começa sua carreira diplomática, após ser nomeado cônsul na Birmânia. Em seguida passa a exercer a função em Singapura, Buenos Aires, Barcelona e Madri. Ele foi também embaixador, senador e ganhador do nobel de literatura em 1971 quando ocupava o cargo de embaixador na França.  

Sua obra completa reúne mais de quarenta livros e teve fases distintas: lirismo, angústia, militância política… Em “Vinte Poemas de Amor e Uma canção desesperada” podemos saborear o lirismo do poeta. Em “Canto Geral” seus textos de cunho fortemente político. Em "Confesso que vivi" um conjunto de suas memórias...

Entre as mulheres de sua vida podemos destacar: Maria Antonieta Hagenaar, Delia de Carril, Em 1966, e Matilde Urrutia, além de “Maria Celeste,” é claro! Mas, por onde ele passava conseguia arrancar suspiros da mulherada apesar de nem ser fisicamente bonito.

O filme: “O carteiro e o poeta”, de 1994, conta sua  história em Isla Negra, no Chile, ao lado de sua terceira mulher Matilde. Na obra de ficção, a história foi narrada como se acontecesse na Itália, onde Neruda teria se exilado. Na ilha torna-se amigo de um carteiro a quem ensina escrever versos usando metáforas. O objetivo do carteiro ao aprender poesia é conquistar o coração de uma mulher chamada Beatrice Russo.

Dia 23 de setembro  de 2020 fez 47 anos que calou a voz desse poeta latino fazedor de metáforas. Deixo de presente para você, o poema Vento na Ilha. Em sua casa, hoje museu, próximo à capital chilena, além de Maria Celeste o visitante pode encontrar também a escultura de um cavalo. Esse cavalo parece ter a força do vento e, por isso, pode cavalgar com a poesia pelos quatro cantos do mundo.


O Vento na Ilha


O vento é um cavalo

Ouça como ele corre

Pelo mar, pelo céu.

Quer me levar: escuta

como recorre ao mundo

para me levar para longe.

Me esconde em teus braços

por somente esta noite,

enquanto a chuva rompe

contra o mar e a terra

sua boca inumerável.

Escuta como o vento

me chama galopando

para me levar para longe.

Com tua frente a minha frente,

com tua boca em minha boca,

atados nossos corpos

ao amor que nos queima,

deixa que o vento passe

sem que possa me levar.


Deixa que o vento corra

coroado de espuma,

que me chame e me busque

galopando na sombra,

entretanto eu, emergido

debaixo teus grandes olhos,

por somente esta noite

descansarei, amor meu.


Imagem de Patricio Hurtado por Pixabay  -  Foto: Vulcão, do Parque Nacional Conguillío - Chile

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  1. Belíssimo Poema de Pablo Neruda comparando a força do cavalo com a força do vento...Coisa de Deus! Emocionante!

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  2. Belíssima comparação entre o cavalo e o vento!

    ResponderExcluir

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