Vim trazer fogo e divisão

 

No Evangelho de Lucas (12, 49-53) Jesus fala que veio lançar fogo e divisão sobre a terra. Esse jeito de falar de Jesus pode parecer estranho para quem está acostumado com um “Jesus paz e amor”. Por isso, é preciso entender bem a questão. O fogo que Jesus fala é o fogo do amor, um sentimento tão luminoso capaz de incendiar o mundo inteiro! Não existe força maior do que a força do amor. Só ela é capaz de mudar o homem de dentro para fora.

Para entender a questão da divisão basta dar uma olhada para a própria história que, no ocidente, teve o nascimento de Jesus como divisor de águas. Nós a datamos como antes e depois de Cristo!  A sabedoria do velho Simeão apontou essa direção quando, no dia da apresentação do Menino Jesus ao templo, disse à Maria: Esse menino será causa de queda e de soerguimento para muitos; e uma espada de dor trespassará sua alma... Ainda quando criança, percebemos que Jesus já dividia os corações humanos! Essa divisão atinge até mesmo, o núcleo familiar, pois nele também sempre existirão os que são fechados ou abertos ao amor.

Às vezes, me pergunto por que ainda existe em muitos países do mundo um verdadeiro ódio a Cristo. Faço minha, a pergunta de Pilatos: - Que mal ele fez?  Como resposta, pareço ouvir afirmações de ódio: - Crucifica-o!

Em nosso país, de maioria cristã, também percebemos hostilidades a Jesus que, às vezes, se estende aos seus seguidores. Esse é um ódio que vem de dentro, uma espécie de “fogo amigo”, mas que não deixa de ser fogo... As maledicências contra Cristo partem dos próprios cristãos ou quem se define assim. Falam mal de Cristo, da Igreja, do Papa e de quem mais encontrarem pela frente.  Confesso, que às vezes, tenho dificuldades em entender a maneira como alguns vivem sua fé cristã. Ao que parece temos hoje um seguimento que se intitula "traficante evangélico". Diga-me a verdade: -Dá para entender isso?

Antes de olhar do lado de fora, entretanto, precisamos olhar para dentro de nós. Talvez, o fogo do amor ainda não esteja suficientemente aceso, em nossos corações. Há uma distancia entre o que aspiramos e o que vivenciamos. É um sentimento de agonia. Agonia quer dizer forças contrárias. O Apóstolo Paulo chegou a confessar-nos: Eu deixo de fazer o bem que quero e acabo fazendo o mal que não quero (Rm 7, 15). E em seguida completa: - Isso só acontece por causa do pecado habita em mim...

A raiz da escuridão que  cobre a humanidade é sempre a mesma: - O pecado! Ainda que possa ter outros nomes, mais palatáveis, continua a ser o pecado, o divisor dos homens. Por causa dele, deixamos de ver o outro como irmão e passamos a vê-lo, como lobo. O pecado nos desumaniza e nos reduz a uma verdadeira matilha de lobos onde todos agem contra todos. Essa força contrária à unidade é destrutiva. Ela divide e mata. Mata o planeta, os homens e destrói a vida...

Deixemos a luz que recebemos no batismo brilhar dentro de nós e espalhemos pelo mundo o suave odor de Cristo! Que os ventos do pecado não apaguem a chama da fé que brilha dentro de nós! Esse mundo tem jeito. Deus ainda confia em nós. Caso contrário, estaríamos perdidos.

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay