Jesus, o incendiário!

 

Deus prefere as lamparinas dos homens às suas estrelas imensas... (Tagore: Pássaros Perdidos, 194)

No Evangelho de São Lucas encontramos essa pérola de Jesus: Eu vim lançar um fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso! (Lc 12, 49-53)

Essa afirmação somada à outra sobre a espada e divisão, pode impactar aqueles que sempre pensaram num “Jesus paz e amor”. Mas, de que fogo e divisão Jesus estaria falando. Seria ele um incendiário e inimigo do mundo? Obviamente que não. Então, vamos devagar com o andor...

Quando criança eu olhava a imagem do Sagrado Coração de Jesus e não entendia bem aquela maneira de representação. Uma imagem com o coração incendiado exposto do lado de fora do peito. Às vezes, imaginava que aquilo pudesse ser flores em vez de fogo. Naquele tempo de inocência as flores me pareciam combinar melhor com tudo!

Após terem conversado com Jesus na estrada de Emaús, um dos discípulos disse: Você se lembra como o nosso coração ardia quando ele falava conosco e nos explicava as escrituras? Pois é. É desse fogo mesmo que nós estamos falando. Um fogo que arde por dentro e muda o coração do homem para melhor. Esse é o fogo que Cristo veio trazer ao mundo: O fogo do amor! Desse fogo divino os profetas e místicos provaram. Jeremias chegou a dizer:

Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir. Foste mais forte do que eu e venceste. Sirvo de piada o dia todo e todo mundo caçoa de mim. Quando falo, é aos gritos, clamando: Violência! Opressão! A palavra do Senhor ficou sendo para mim motivo de vergonha e gozação o dia todo. Eu me dizia: Não pensarei mais nele, não falarei mais no seu nome! Era como se houvesse no meu coração um fogo ardente, fechado em meus ossos...(Jer 20, 7-9)

Santa Tereza de Ávila confessou ter visto um anjo em suas experiências místicas  e que o mesmo anjo a teria ferido no coração com um dardo de fogo:

Quis o Senhor que eu tivesse algumas vezes essa visão:  eu via um anjo perto de mim, do lado esquerdo, em forma corporal, o que só acontece raramente (...) Vi que trazia nas mãos um comprido darde de ouro, em cuja ponta de ferro julguei que havia um pouco de fogo. Eu tinha a impressão de que ele me perfurava o coração com o dardo algumas vezes, atingindo-me as entranhas. Quando o tirava, parecia-me que as entranhas eram retiradas, e eu ficava toda abrasada num imenso amor de Deus (Livro da Vida, Cap 29)

Abrasar os corações com as chamas do seu amor! Esse parece ser um grande desejo de Cristo. Foi a esse respeito que disse: Como eu gostaria que o fogo já estivesse aceso! É uma pena que nossos corações andem tão fechados para Deus. Talvez, por isso, falte amor e sobra ódio. Aliás, semear o ódio é a principal função do inimigo de Deus. Ele não é preguiçoso e age no mundo dessa maneira: Semeando ódio e espalhando inimizades. Por causa disso, Cristo acaba sendo um fator de divisão, pois existem sempre aqueles que o odeiam na pessoas de seus seguidores. Em vão, as trevas querem engolir a luz, mas o dia acaba se impondo em cada amanhecer. A grande manha da ressurreição foi a vitória completa da luz sobre as trevas e da vida sobre a morte.

Jesus é um grande incendiário! Sua mensagem de amor e perdão quer ser realidade em todos os corações humanos. E como diz a epígrafe  que abre esse texto, Ele prefere  as lamparinas humanas às grandes estrelas que enfeitam o cosmo. Você pode ser uma dessas lamparinas se colocar em prática suas promessas batismais. No dia de nosso batismo uma vela acesa nos foi entregue. Ela representa a luz de Cristo. Não deixe, portanto, apagar as chamas da fé que um dia você teve a graça de receber!

Imagem de Rudy and Peter Skitterians por Pixabay