A oferta da viúva

 

No tempo de Jesus o Templo de Jerusalém devia ser muito movimentado. Os peregrinos chegavam de toda parte trazendo ofertas, doações e animais para o sacrifício. As ofertas eram depositadas no cofre do templo, parte dos frutos da terra era oferecida durante as celebrações como ação de graças pelas colheitas. Quanto aos animais esses eram destinados ao holocausto, ou seja, eram queimados em local próprio para isso. Isso era uma espécie de sacrifício perpétuo, pois se queimavam animais de manhã e de tarde. Acreditava-se, que esse tipo de sacrifício seria agradável a Deus.

O Evangelho de São Lucas (Lc 21,1-4) anota o comportamento de uma pobre viúva diante do cofre das ofertas. Ela ofereceu apenas duas moedinhas. E Jesus disse que ela ofereceu mais do que todos, pois ofereceu tudo o que tinha para viver. O tilintar das moedas no cofre não deixava a doação passar despercebida. Os ricos ofereciam muitas moedas que, certamente, faziam grande barulho ao caírem dentro do cofre. A viúva, provavelmente, ficou envergonhada, pois as duas moedinhas nem faziam barulho direito. Mas, diferente dos ricos que gostavam de chamar a atenção sobre si, a viúva não quis chamar a atenção de ninguém. Ela confiava em Deus mais do que todo mundo ali presente, pois deu tudo o que possuía...

Esse Evangelho nos dá uma grande lição. Dar o que nos sobra é fácil. Difícil é repartir aquilo que nos faz falta. Grande parte das coisas que possuímos não faz muita falta para nós! Às vezes, temos excesso de roupas, sapatos, e outras coisas que só servem para entulhar as nossas casas. Fazer uma “limpa” disso tudo, não é generosidade. É simplesmente, desvencilhar nossos armários de coisas velhas para entulharmos novamente, de coisas novas. Dar uma cesta básica no tempo do natal também é muito pouco diante de tudo o que Deus nos concedeu o ano inteiro! Além disso, os pobres não comem apenas no tempo do natal... Não basta fazer pequenos gestos apenas para desencargo de consciência. Deus quer de nós um compromisso maior com ele!

Talvez a oferta mais difícil de ser feita, seja a oferta de si mesmo. Não é fácil tirar parte do seu tempo nem para a família, quanto mais para os estranhos? Ofertar a si mesmo e fazer com que sua vida seja um presente para os outros. E isso não se faz de forma esporádica, mas sempre.

Deus não exige de nós gestos heroicos de doação ou sacrifício. Um único copo d’água, dado com amor não passa despercebido aos seus olhos. Mas, também não basta repartir copos d’água. É preciso que sejam dados com amor. O amor é o ingrediente que faz toda a diferença nos nossos relacionamentos. Ninguém paga por isso, pois o amor é dom, é de graça. Caso contrário não seria amor, seria comércio. A viúva deu tudo o que possuía. Mas, Deus não lhe pediu um sacrifício tão grande! Certamente, ela não ficou sem a recompensa divina...

Os ricos, no tempo de Jesus, davam do que lhes sobrava. Muitos, infelizmente, não dão nem as sobras! Preferem descartar e jogar fora a repassar a quem precisa.  Que pena! Às vezes, a pessoa já está com uma situação financeira estável e caminhando para o final da vida. Poderia fazer um grande gesto de doação, algo semelhante ao canto dos cisnes. Dizem que o canto mais lindo do cisne acontece na hora da morte... Mas, infelizmente, a morte chega e pessoa ainda não cantou! A herança deixada servirá apenas para brigas familiares... Pense nisso!

Imagem de smokefish por Pixabay