A primeira “Ave Maria” da história

 

O texto bíblico de São Lucas (Lc 1, 39-45) não conta detalhes sobre a visita de Maria a Isabel. Mas, por informações adicionais, sabemos que a distancia entre Nazaré e “Ain Karem”, Comunidade de Zacarias e Isabel era, de aproximadamente 150 quilômetros. Tal distancia era exigente para ser percorrida por uma mulher grávida, sobretudo, se considerarmos as condições das estradas naquele tempo. Desculpas não faltariam a Maria caso não quisesse ir. Poderia dizer que José estava muito ocupado e não poderia acompanhá-la; que não andava bem de saúde por causa da gravidez; que tinha medo dos perigos da estrada; que o burrinho era ruim de cela... No entanto, o texto afirma que ela dirigiu-se, apressadamente, para a região montanhosa, para ajudar Isabel.

Lucas, não dá detalhes da viagem. Mas, podemos imaginar muita coisa. Certamente, ela saiu bem cedo e, como qualquer dona de casa, ajeitou tudo, antes de partir. Fez recomendações aos vizinhos, regou as plantas, preparou a mala com roupinhas de recém-nascido... Certamente, José a acompanhou. Como bom marido que era jamais a deixaria partir só, para tão longe. Maria teve que ficar mais tempo com Isabel e José, certamente, voltou sozinho para casa. Aqueles dias devem ter sido os mais longos de sua vida! O que seria de sua casa sem Maria e o filho que esperavam? Mas, não reclamou de nada, pois sabia o quanto Maria era importante para Isabel naquela ocasião...

Chegando à casa de Zacarias algo estranho aconteceu. Ao ouvir a saudação de Maria Isabel sentiu que o seu filho ficou estremecido em seu ventre. Ela também ficou cheia de alegria. Como não ficar estremecido e alegre na presença de Deus? A presença de Maria fez toda a diferença, pois Deus estava com ela. Sem se conter, Isabel rezou a primeira “Ave Maria” da história quando disse: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!”  Cheia do  Espírito Santo ela proclamou: “Como posso merecer que a Mãe do meu Senhor,  me venha visitar?” Isabel era uma mulher de fé. Por isso, previu que todas as gerações iriam chamar Maria  de  "Bem-aventurada", ou seja, feliz. Mas, a bem-aventurança de Maria não foi só por ser a Mãe de Jesus, antes, foi porque acreditou. Antes de conceber Jesus em seu ventre já havia acolhido a Palavra de Deus. Maria, portanto, deve ser vista como modelo de fé. Uma fé a toda prova, pois não desistiu do seu sim nem mesmo nas horas mais difíceis.

O encontro de Maria com Isabel, mais do que o encontro de duas mulheres grávidas, foi o encontro entre a esperança e o esperado. Isabel encarnava e esperança milenar de Israel pelo Messias. Maria encarnava a realização dessa esperança. Curvando-se diante de Maria é como se, na pessoa de Isabel, o Antigo Testamento se curvasse diante do Novo.

As duas mães que aparecem no texto citado, tem em comum uma gravidez, humanamente, impossível.  Isabel era idosa e estéril, Maria era jovem e virgem. Apesar disso, ambas estão grávidas. Quando Deus quer Ele faz a obra independentemente de nossas condições! Nesse clima de fé e amizade precursor e anunciado se encontraram pela primeira vez. Ainda no ventre da mãe, João exultou de alegria pela presença daquele que seria o Cordeiro de Deus por ele anunciado.

A Igreja deve ser como Maria na missão de levar Jesus ao mundo. Mas, isso também depende de cada um de nós. De nada adiantaria Maria ter ido às pressas se Isabel a tivesse recebido com indiferença. Isabel foi modelo de acolhimento. Por isso, podemos nos questionar: Como acolhemos, hoje, àqueles que nos são enviados como portadores de Cristo?

Imagem de jacqueline macou por Pixabay