Magnificat: O canto revolucionário de Maria
Quando foi que os pobres, fracos e esquecidos da história humana tiveram algum protagonismo? Talvez nunca! Ou, quem sabe, em momentos muit...

Quando foi que os pobres, fracos e esquecidos da história
humana tiveram algum protagonismo? Talvez nunca! Ou, quem sabe, em momentos
muito específicos da história. Sonhar com essa realidade não seria utopia?
Quando os poderosos foram derrubados de seus tronos e os soberbos de corações foram
dispersos? Quando os famintos foram saciados e os ricos despedidos de mãos
vazias?
Mas, afinal, do quê estou falando? Seria o sonho de uma nova
ordem social e econômica? Bom, vamos esclarecer, em primeiro lugar, que tais
palavras não são minhas e sim de Maria, a Mãe de Jesus segundo o texto de São
Lucas (Lc 1,46-56). O “Magnificat”,
colocado nos lábios de Maria por São Lucas, certamente, é um hino pós-pascal. A
vitória de Cristo sobre a morte é a vitória de todos os humilhados e esquecidos
da história sobre um estado de coisas escravizantes e desumanas. Ele mesmo fez
parte do grupo dos humilhados. Nasceu na periferia da capital, junto aos pobres
e cresceu no anonimato de Nazaré. Durante a vida pública foi rejeitado pelos
poderosos e condenado, injustamente, à morte. Dessa maneira, Cristo se
solidarizou com todos os condenados e esquecidos da história. Sua ressurreição
foi a vitória definitiva sobre toda forma de morte e podridão.
Mas, de onde Lucas buscou as fontes para o hino de Maria? –
Em muitas passagens bíblicas do Antigo Testamento, mas, sobretudo no Cântico de
Ana (1 Sm 1, 24-28). Cansada de sofrer humilhações, por não ter filhos, Ana
rezou ao Senhor com tanta devoção que o Sacerdote Eli pensou que ela estivesse
embriagada. Em suas orações pedia para ser mãe de um filho. Além disso,
prometeu que se fosse atendida, em suas preces, o filho seria oferecido ao
serviço de Deus. Deus ouviu suas preces e lhe seu o seu filho que seria o
Profeta Samuel. Para agradecer a Deus ela voltou ao Templo levando consigo o
filho. Levou também um novilho e duas arrobas de farinha para oferecer em
sacrifício ao Senhor. Entre as palavras do seu hino de agradecimento
encontramos as seguintes (1 Sm 2, 1ss):
Exulta no Senhor meu
coração, e se eleva minha fronte no meu Deus... O arco dos poderosos é quebrado
e os fracos são fortalecidos... Minha boca desafia os meus rivais porque me
alegro com a vossa salvação... Ele ergue da poeira o fraco e tira do lixo o
indigente, fazendo sentar-se com os príncipes e herdar um trono glorioso...
O Cântico de Ana acena para uma utopia, ou seja, uma
sociedade mais justa e igualitária onde todos tenham o mesmo valor, onde os
pobres tenham vez e os fracos tenham voz...
Em seu “Magnífico”, Maria externaliza sentimentos semelhantes
aos de Ana. Assim como Ana, Maria pertencia aos excluídos de seu tempo. Era de
família pobre e morava em Nazaré, um lugar sem expressão. Ao ser visitada pelo
anjo alegrou-se, não por ter sido uma privilegiada, e sim pelo fato de ver a
realização das promessas de Deus. Deus “olhou para a humildade de sua serva”,
mostrou a força de seu braço, derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes,
saciou de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias... Como não se
exultar diante de tudo isso?
Maria, assim como Ana, certamente parecia “embriagada”, ou
seja, inebriada de Deus, nessa belíssima oração de agradecimento. Nela o
Messias tão esperado começava a se tornar realidade. Viria para curar os
doentes, expulsar o mal, libertar os cativos... A notícia era boa demais para
ser ignorada. Por isso Maria engrandece e “magnifica” o seu Deus. Daí vem a palavra
“Magnificat”. Magnificat é uma oração através da qual a Virgem Maria engrandece
as maravilhas de Deus em favor de seu povo. Mais do que uma ação de graças, o
hino de Maria é profético pois vislumbra um novo modelo de sociedade onde a igualdade
entre as pessoas não seja apenas um sonho. O Cristianismo é uma religião que
nos permite sonhar. Mas, sonhar apenas não basta. É preciso acreditar que boa
parte de nossos sonhos possam se transformar em realidade.
Imagem de Anja🤗#helpinghands #solidarity#stays healthy🙏 por Pixabay
Ahhhh Padre Gabriel, quantos sonhos meus se perderam porque eu depositei minha confiança a outros. Tenho tanto a aprender com Maria...
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