Ele se recusou a entrar no céu por não poder levar o seu cachorro

  A crônica de hoje, relata uma história aparentemente, muito simples. Mas, não se engane! Ela fala de coisas profundas. A “parábola” é o co...

 


A crônica de hoje, relata uma história aparentemente, muito simples. Mas, não se engane! Ela fala de coisas profundas. A “parábola” é o coroamento de “O Mahabharata”, um clássico da literatura mundial. Trata-se da entrada de Yudhishthira ao céu.

Yudhishthira era um dos cinco irmãos da família dos Pandavas. Mas era o mais virtuoso de todos. Depois de muitos anos de lutas para defender o reino da família todos os irmãos (Bhima, Sahadeva, Nakula e Arjuna) acabam morrendo, juntamente, com a esposa deles, chamada Draupadi.

Diferentemente de nossa realidade ocidental, na Índia, para cada idade da pessoa há um modelo ideal de comportamento. As leis morais que se aplicam aos jovens não se aplicam, necessariamente, aos idosos e vice-versa. Os códigos de condutas também variam de acordo com as “varnas” (castas). Sendo assim, as pessoas mais idosas, devem se voltar mais para a espiritualidade. Alguns, chegam a renunciar a quase tudo para se prepararem para a morte, que naquela cultura é considerada um novo nascimento... Por isso, ao final da vida, Yudhishthira e seus irmãos caminharam em direção ao Himalaia, mais precisamente ao Monte Meru,  considerado a morada dos deuses. Para essa última viagem não levaram comida nem agasalhos, pois estavam indo mesmo ao encontro da morte. Enquanto caminhavam concentrados um cão seguia-os, o tempo todo. Depois de certa caminhada Draupadi, caiu morta. Em seguida, um a um, os irmãos foram tombando sem vida. Somente Yudhishthira e o cão seguiam caminhando...

No alto da montanha Yudhishthira teve uma grande supresa. O próprio deus Indra, veio ao seu encontro num grande clarão de luz. A divindade comunicou-lhe, que ele entraria no céu sem passar pela morte. Mas, naquele momento, Yudhishthira afirmou que sem a companhia de seus irmãos se recusaria a entrar no céu. Mas, Indra garantiu-lhe que seus irmãos já estavam lá. As portas da carruagem de Indra se abriram para que ele pudesse entrar. Yudhishthira deu preferência para a entrada do cachorro que o acompanhou. Mas, Indra protestou: - Como podes fazer algo assim? Esse cão é impuro. Por isso, não pode entrar no céu! Yudhishthira retrucou: - Ele foi, absolutamente, fiel a mim. Deixou tudo para me seguir. Subiu a montanha gelada. Passou frio e fome. Como eu posso deixá-lo para trás? Sendo assim, prefiro não entrar no céu, afirmou!

Como homem virtuoso  Yudhishthira jamais abandonaria quem lhe foi tão fiel. Indra, “apelou” e lhe disse: - Eu deixarei o cão entrar. Mas, nesse caso, você fica de fora. Aceita? – Yudhishthira não pensou duas vezes. Aceito, afirmou.  Mas, o que ninguém esperava aconteceu naquele instante. Após as palavras de Yudhishthira o cão transformou-se no deus Yama, o senhor do Dharma, da Justiça e da Morte. Na verdade, aquele cão era uma divindade disfarçada para um último “teste” na lealdade de Yudhishthira. Com essa atitude Yudhishthira provou sua grande lealdade e compaixão por todas as criaturas. Tornou-se o mais digno descendente dos Bhâratas! Por isso, acabou entrando no céu, onde seus irmãos já se encontravam, sem passar pela morte. Circulando pelo reino num último ato de adoração, seguidos por um cão, os irmãos pandavas, escalaram o cume do Himalaia e subiram para ocuparem os seus últimos lugares, entre as estrelas...

Obs: Texto inpirado no livro: Mitos Hindus e Budistas, de Ananda K. Coomaraswamy e Irmã Nivedita. Landy Editora, São Paulo,  2002. Pp. 200.

Foto: Capa do Livro "O Mahabharata"

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