Genealogia de Jesus

 

Existem algumas passagens bíblicas que desafiam nossa inteligência. Apesar disso, quem prega todo dia, não pode fugir da raia e tem que encará-las, extraindo delas a mensagem possível. Uma dessas passagens (Mt1, 1-17) fala da genealogia de Jesus. À primeira vista parece uma lista interminável de nomes sem sentido algum: Abrãao, gerou Isac, Isac gerou Jacó, Jacó gerou Juda´... No caso, de Mateus, há uma lista de nomes dividida, artificialmente, em três séries de quatorze gerações cada uma: “Portanto, de Abraão até Davi são quatorze gerações, de Davi ao exílio da Babilônia são quatorze gerações e do exílio da Babilônia até Cristo são mais quatorze gerações...” 

Sua lista é descendente, começa em Abraão e termina em Jesus.

Lucas é mais universalista do que Mateus, ao desenhar a árvore genealógica de Jesus. Sua lista é ascendente. Parte de José, o pai “legal” de Jesus e vai até Adão (Lc 3, 23ss). Descendente de Adão e sem pai terreno como ele, Jesus é o verdadeiro “Filho do Homem”. Ele é o novo Adão, o homem novo, sem as marcas do pecado.

João vai ainda mais fundo ainda, quando fala da origem divina de Jesus (Jo 1, 1ss) : No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus... Para ele, a origem de Jesus deve ser buscada em Deus!

A árvore genealógica de Jesus contém passados ilustres e alguns nem tanto. Isso mostra que Jesus não veio para um grupinho exclusivo de pessoas. Ele veio para todos e abraçou toda a humanidade. Entre, os seus antepassados encontramos inclusive algumas mulheres (Rute e Rahab) estrangeiras. Algumas não foram muito santas não. Vejamos:

Tamar: Usando de trapaça engravidou do próprio sogro, Judá (Gn 38). É bom lembrar que seu sogro também não foi muito honesto com ela, pois não lhe deu o seu filho para que pudesse engravidá-la,  como havia prometido;

Raab: Foi prostituta na Cidade de Jericó (Js 2). Apesar disso foi a principal colaboradora com os espiões de Israel na véspera de ocuparem a cidade. Ela os salvou da perseguição e eles a salvaram juntamente com sua família posteriormente;

Rute: Era uma estrangeira, uma Moabita (Rt 4). Assim como fez Abraão, Rute deixou os seus parentes, sua segurança para pertencer ao “povo de Deus”;

Betsabé: Mulher de Urias que se adulterou com o Rei Davi (2 Sm 11). Enquanto o seu marido estava guerreando ela deitou-se com Davi e engravidou-se dele;

Ao mencionar tais figuras Mateus realça que Jesus abraçou toda a humanidade na sua condição real e pecadora. Em todos os tempos os homens fazem coisas certas e erradas. A Bíblia não esconde os erros humanos. É com essa humanidade frágil e pecadora que Deus faz e renova sua aliança.

Curiosa foi a maneira encontrada por Mateus para falar da condição divina de Jesus: -“Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo...”

Como ele fala da linha sucessória à partir dos homens o esperado seria: Jacó gerou José, José gerou Jesus! Mas, não assim que ele disse. Quando vai falar de Jesus ele não diz que ele foi gerado por José. Mas, que José foi o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo. Nesse caso, naturalmente o leitor pergunta: - Mas, então, quem é o pai de Jesus?

A resposta para tal pergunta nos parece óbvia. Jesus foi gerado divinamente no seio de Maria. O seu pai é o próprio Deus!

Como se pode ver, numa lista, aparentemente, enfadonha e insignificante podemos colher muitos ensinamentos. Da Palavra de Deus nada se perde. Ela se parece a uma árvore carregada de frutos. Alguns frutos dão mais trabalho para serem colhidos. Mas, quando a gente quer acaba se esforçando para saboreá-los!

Imagem de Hans Braxmeier por Pixabay