É preciso tirar as pedras do coração

 

Contando a parábola do semeador (Mc 4, 1-20), Jesus elencou quatro tipos de terrenos com os quais se assemelham os corações humanos: Terreno de chão batido, terreno pedregoso, terreno sufocado de espinheiros e terreno fértil. É quase impossível ler a parábola sem fazer uma autoanálise para diagnosticar as condições do próprio coração. Jesus fala que a semente é a Palavra de Deus que irá brotar crescer e frutificar conforme as condições do terreno.

Ao refletir sobre a parábola o terreno pedregoso foi o que chamou mais minha atenção. Lembrei-me de uma música chamada Piedra y Camino, do compositor argentino Atahualpa Yupanqui (Foto acima). A música fala de um “peregrino” que chega sem anunciar e parte sem ser notado carregando suas tristezas:

A veces soy como el rio, Llego cantando, Y sin que nadie lo sepa, viday ,Me voy llorando (Às vezes sou como um rio, Chego cantando; E sem que ninguém o saiba, vida, Sigo chorando.).

Pois é: As tristezas que carregamos pela vida a fora pesam mais do que um saco de pedras! Sei de pessoas que desistiram de caminhar, simplesmente, porque foram tomadas pelas tristezas. Feliz de Drumond que só encontrou uma pedra no caminho! Algumas pessoas são obrigadas a carregar um saco cheio delas e, às vezes não conseguem!

Conheci um casal que encarnou perfeitamente o ideal bíblico de ser uma só carne. Um não vivia sem o outro. Ela fazia de tudo para agradá-lo e ele, por sua vez, agia do mesmo modo. A pobreza do casal não impediu que ele tivesse muitos filhos. Aquela família era um verdadeiro ninho de felicidade! Mas, quando menos se esperava, ela foi vítima de um enfarto e teve morte fulminante. Depois desse fato o marido entristeceu, de tal maneira, que não viveu nem mais dois meses! Passou a não comer, não tinha expediente para ir ao trabalho e o sorriso desapareceu de seus lábios... Ele foi como o rio cantado na música. Chegou cantando e seguiu chorando...

O nosso coração não foi feito para guardar pedras. Apesar disso, a gente costuma ir colecionando-as pela vida a fora. São as tristezas, as frustrações, as decepções... Tudo isso vai pesando dentro da gente e impedindo a Palavra de Deus de crescer e roubando da gente a capacidade de sonhar...

Felizmente o canto de Atahualpa aponta para uma utopia. É essa utopia que anima o caminhante para enfrentar a dureza da estrada:

Es mi destino, Piedra y camino/ De un sueño lejano y bello, viday/ Soy peregrino ( É meu destino, pedra e caminho. De um sonho distante e belo Vida, sou peregrino).

Ser peregrino de um sonho belo, mesmo que distante é o que dá razão ao nosso caminhar. Sem esse horizonte utópico, a gente perde o gosto pela vida. Foi o que aconteceu com o viúvo de meu exemplo. Ele perdeu a razão de viver quando perdeu a esposa!  

Assim como no Antigo Testamento, foi o sonho da “terra prometida” que animou a caminhada do povo pelo deserto, nós também precisamos de alegria e esperança para viver. Peçamos ao Espírito Santo, doador da alegria e renovador de todas as coisas que nos dê novo alento para prosseguir nossa caminhada de todos os dias! 

Fonte: Wikipédia