Na sinagoga de Nazaré

  O comportamento humano costuma ser muito parecido mesmo em tempos e lugares diferentes. Às vezes, buscamos longe o que se encontra perto e...

 


O comportamento humano costuma ser muito parecido mesmo em tempos e lugares diferentes. Às vezes, buscamos longe o que se encontra perto e pensamos que só a galinha do vizinho bota ovos de ouro. O povo diz, com certo fundamento bíblico que “santo de casa não faz milagres...” Foi precisamente esse tipo de experiência que Jesus teve em Nazaré, cidade onde fora criado, de acordo como o texto de São Lucas (Lc 4, 14-22).

Depois de certo distanciamento Jesus retornou à sua terra “com a força do Espírito”. Em outras palavras, ele estava cheio de Deus. Tanto assim, que após o seu pronunciamento, na sinagoga de Nazaré, o povo ficou “admirado com as palavras cheias de encanto que saiam de sua boca...”. Apesar disso, seu discurso ali não deu muitos resultados. Ele acabou sendo desacreditado por ser “apenas” o filho do carpinteiro, ou seja, um “pé- rapado” a mais...

Mas, não é sobre esse desprezo que Jesus sofreu por parte de seus conterrâneos que gostaria de refletir hoje e sim sobre o seu “plano de governo” anunciado a partir da citação do Profeta Isaías (Is 61,1ss). Aplicando a si mesmo tal citação Jesus anunciou ter sido enviado pelo Espírito para:

Anunciar a boa nova aos pobres;

Dar a liberdade aos cativos;

Dar a vista aos cegos;

Dar liberdade aos oprimidos;

Anunciar o ano da Graça.

Essa missão resumida do seu ministério foi anunciada por ele mesmo após a leitura do Profeta Isaías, diante de todos os presentes. Cada item desses do seu “plano de governo” merece um longo comentário. Mas, vou comentar, resumidamente, apenas o último ponto, ou seja, o anúncio do ano jubilar. O que vem a ser isso?  Vamos entender por partes:

No entendimento bíblico Deus havia criado o mundo em seis dias e descansado no sétimo. O descanso semanal passou a ser algo sagrado, pois o próprio Deus descansou. Isso servia também, para lembrar os tempos da escravidão no Egito, pois escravos não tinham direito à folga semanal. Quem tem esse direito é um povo livre e é assim que Deus quer o seu povo. Esse pensamento se aplicava também à terra, pois como criatura de Deus ela devia “descansar” de sete em sete anos. Isso foi chamado de “ano sabático”. A passagem de Isaías refere-se ao “Ano Jubilar” que ocorria a cada 50 anos (7x7=49). Nesse ano todos os escravos hebreus, escravizados por dívidas deveriam ser libertados. A terra deveria ser revertida ao seu antigo proprietário (Levítico 25, 8-13). Por isso, o profeta fala da libertação dos cativos e oprimidos...

Proclamando essa citação Jesus quer anunciar um tempo de liberdade sem precedente inaugurado com sua presença. Um tempo em que a justiça deveria prevalecer sobre toda forma de injustiça e opressão. O ano da graça seria o ano da completa restauração do ser humano para que ele pudesse, livremente, adorar a Deus. Sua fala não deixa de ser revolucionária, pois aponta para um novo modelo de sociedade marcado pela partilha e fraternidade e sustenta a esperança no coração de todos.

Hoje, num mundo marcado por uma terrível pandemia, que oprime a todos nós, anunciar o ano da graça é proclamar a esperança de um novo tempo.  Que esse tempo venha logo para nos libertar das mordaças e permitir novos abraços. Estamos com saudades de abraçar... Esse jugo está pesado demais para nossa pobre condição!

Imagem de Pexels por Pixabay 

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  1. Bom dia Padre Geraldo Gabriel.
    Muito bacana sua reflexão, gosto de ouvi-lo e ler suas reflexões pois o Sr fala e escreve com muita clareza. Parabéns, que o Espírito Santo continue te iluminando. Abraços.

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  2. Verdade padre! É horrível chegar perto de quem gostamos e não lascar um abraço carinhoso neles.O abraço pra mim é como um laço. Abraços

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  3. Obrigado por compartilhar conosco a suas reflexões que nos enriquece muito!

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  4. ..."Hoje, num mundo marcado por uma terrível pandemia, que oprime a todos nós, anunciar o ano da graça é proclamar a esperança de um novo tempo. "..
    Deus nos abençõe!

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