Remendo novo em pano velho

 

Atualmente quase ninguém remenda suas roupas. O mundo mudou e o preço das roupas ficou mais acessível. Mas, em outros tempos era muito comum que as pessoas, sobretudo, as pessoas mais pobres, andassem com as roupas remendadas. Às vezes, uma camisa era tão remendada que ficava difícil saber as cores do tecido original. Remendar roupas era uma habilidade das mães e das costureiras. Alguns remendos, de tão bem feitos, quase nem eram percebidos. Outros, eram mal feitos e, por isso, acabavam se soltando, rapidamente, ou rasgando mais ainda, o tecido original. Esse universo dos remendos, ao que parece, não era estranho a  Jesus. No Evangelho de São Marcos (Mc 2, 18-22) ele nos dá um conselho: Não remendar roupas velhas com panos novos! Isso porque o pano novo encolhe. Sendo assim, irá repuxar o tecido velho que acabará rasgando-se ainda mais.

Jesus não quer dar uma aula às costureiras. Mas, usa a imagem para transmitir um ensinamento. Sua mensagem era nova demais para ser aceita pelo judaísmo da época. Este se parecia ao tecido velho enquanto sua mensagem era o pano novo. O cristianismo não é um judaísmo remedado. Ele é um novo movimento que nasce com novas orientações. De fato, Cristo não se empenhou em reformar a sinagoga ou o velho culto, mas fundou um novo grupo que mais tarde nós chamaremos “Igreja”. Mas, quais seriam as características desse novo grupo?  Vejamos:

- Uma nova base moral: O amor e a fraternidade frente ao ódio e a vingança;

- O espírito de serviço em lugar da simples busca ou disputa  pelo poder;

- Uma religião em espírito e verdade em lugar de uma religião puramente ritual e formalista;

- O templo de pedra dá lugar ao templo místico que é o Corpo de Cristo;

- Em vez de cultivar os antigos sacrifícios Cristo sacrifica-se, a si mesmo, de uma vez por todas e atualizar esse sacrifício em cada Eucaristia.

 

Como se pode ver, Cristo não veio para ser um reformador religioso. Ele criou o seu grupo sobre novas bases religiosas e morais. Às velhas estruturas não suportariam o “gás” desse novo vinho em fermentação, que era a mensagem cristã. Além disso, correria o risco de arrebentar os velhos odres incapazes de elasticidade por não suportarem a fermentação desse vinho. Nesse caso, se perderia o vinho e os odres.

Qual seria a atualidade desse trecho do Evangelho?

Precisamos entender que Evangelho é “boa nova”, boa notícia em todos os tempos. Por acomodação, corremos o risco de envelhecer a mensagem cristã e não acolher às novas inspirações vindas do Espírito Santo de Deus. É certo que nem toda “novidade” é boa e gerada pelo Espírito Santo. Mas, também não podemos “engessar” a compreensão da mensagem cristã. Jesus ainda fala para os homens de nosso tempo! Ele tem uma palavra de sentido para cada um de nós. Precisamos estar atentos aos sinais dos tempos que nos pedem uma renovação responsável da mensagem de Cristo. Não se trata aqui de simplesmente “embarcar” nas novidades. Mas, de não acomodar em esquemas antigos que não dizem mais nada para o nosso tempo. Que Deus nos ajude a achar sempre o ponto de equilíbrio entre o novo e o velho. Essa tarefa nem sempre é fácil para ninguém e para nenhuma organização. Por isso, precisamos contar com a ajuda do Espírito que é o renovador de todas as coisas!

Imagem de _Alicja_ por Pixabay