Deus trocou o arco de guerra pelo arco-íris

 

Uma das narrativas mais belas na Bíblia mostra-nos a disposição de Deus em criar um mundo novo após a tragédia do dilúvio (Gn 9,8-15). A história do dilúvio não pode ser tomada ao pé da letra. Muito provavelmente, ela fazia parte da cultura de diversos povos antigos. Não é de duvidar que os grandes rios do Oriente Médio, sobretudo, em épocas de cheias, ameaçassem aqueles povos.   O povo da Bíblia, também partilhava dessas narrativas antigas e procuram tirar delas os seus ensinamentos. Por isso, a história do dilúvio, assim como tantas outras, presentes na Bíblia, não podem ser vistas como narrativas jornalísticas.

Com a história do dilúvio, aprendemos que Deus não compactua com um mundo de erros e pecados. Mas, nem por isso, castiga o homem. O dilúvio foi consequência de uma natureza revoltada com os pecados humanos. Por isso, na hora certa a natureza cobrou o seu preço. Deus interviu para salvar os justos, no caso, Noé e sua família. Ele não costuma jogar o bebê fora, junto com a água suja da bacia. A água suja ele joga fora, mas antes, salva o bebê. Por isso, Noé e sua família foram aquele “resto” de humanidade que não se compactuou com os erros e os pecados do povo.

Uma vez salvo do dilúvio, Noé ergueu um altar para rezar e agradecer a Deus. E Deus naquele dia fez uma aliança com ele sem exigir nenhuma contrapartida. Esse pacto com aquela nova humanidade foi puro dom! Tal aliança envolveu também a natureza com tudo o que ela continha inclusive com os animais selvagens... Uma vez, restaurada a pureza original da criação, não haveria mais inimizades entre as criaturas de Deus. E naquele dia, Deus substituiu o seu arco de guerra pelo arco-íris que, desde então, passou a ser um sinal da aliança de Deus com aquela  nova humanidade.

A grande inimizade do homem com a natureza acontece sempre por causa do pecado humano. O desmatamento desenfreado, por exemplo, leva ao assoreamento de rios e nascentes. A ganância por ter cada vez mais com menor custo leva ao rompimento de grandes barragens arrasando tudo o que está pela frente... Essa realidade pecaminosa não é o que Deus quer para os seus filhos. No mundo de amor, diálogo e entendimento desejado por Deus tudo deveria acontecer de forma diferente. Quando um respeita o outro e todos respeitam os limites da natureza nem animais selvagens fazem mal ao homem. É bom se lembrar de que São Francisco de Assis, o santo da paz, entrava em entendimentos até com os lobos...

Atualmente, presenciamos uma natureza revoltada com o homem. Muitas tragédias ambientais, pandemias e pestes são consequências de nossos pecados. Isso não faz parte do plano de Deus. O novo mundo sonhado por Deus é um mundo de paz e harmonia dos homens entre si e com a natureza, o que para nós é um grande desafio. Temo que o arco Iris desapareça do céu por causa de nossa cultura de guerra. Estamos longe de substituir as balas dos revólveres pelas balas de caramelo... E isso tem levado muita gente à grandes  sofrimentos! Perguntem às mães que tiveram seus filhos mortos em consequências das balas perdidas.

A Campanha da Fraternidade de 2021 defende uma cultura de diálogo, tolerância e entendimento. Essa é uma campanha ecumênica, pois envolveu um conjunto de Igrejas Cristãs, tanto em sua feitura como em sua vivência. Não faz sentido dar ouvidos àquilo que nos desune, tendo em vista que, os objetivos da campanha vão, exatamente, em outra direção, ou seja, na direção do diálogo e do entendimento entre pessoas que pensam de forma diferente. Para uma adequada vivência quaresmal é preciso depor os arcos de guerra para contemplarmos, juntos, a beleza do arco-íris. Ele lembra-nos o quanto Deus nos ama e acredita em nós. Nunca devemos nos esquecer dessa aliança entre Deus e seu povo. Trair esse pacto poderá ser desastroso para todos nós. Pense nisso!

Imagem de sharonjoy17 por Pixabay