O rico sem nome

 

O mal do rico não era ser rico, mas, ser totalmente insensível e incapaz de partilhar qualquer coisa com o pobre. O Evangelho de São Lucas (Lc 16, 19-31), afirma com detalhes a ostentação na vida do rico: Ele “se vestia de púrpura e linho fino, e dava banquetes todos os dias...” O linho, era um tecido importado do Egito e a púrpura era uma vestimenta real (1Mc 8,14) colorida com tinta da Fenícia.

A situação de Lázaro era bem diferente. Com o corpo cheio de feridas ele permanecia caído à porta do rico. Faminto, desejava comer as migalhas que lhe caiam da mesa, mas nem isso conseguia. Os cachorros lhe davam mais atenção... Enquanto a língua do rico apreciava seus manjares, os cães  tentavam refrescar o corpo do pobre lambendo suas feridas. É bom se lembrar de que os judeus, naquele tempo, chamavam de cães aos pagãos. O pobre encontrou mais bondade entre os pagãos do que entre os filhos de Abraão! Numa outra situação, foi um samaritano quem usou de misericórdia para socorrer uma vítima de assaltos caída à beira do caminho (Lc 10, 25-37).

Após a morte a situação de ambos se inverteu. Enquanto Lázaro foi levado para junto de Abraão, o rico foi levado para debaixo da terra. Só então, ele chamou Abraão de pai e suplicou por sua misericórdia. Reconheceu, pela primeira vez, o pobre pelo nome. Precisou morrer para enxergar aquele que jazia, todos os dias, diante de sua porta. Mas, já era tarde. Apesar disso, teve um gesto de aparente solidariedade quando pediu a Abraão para retornar à terra e alertar seus irmãos para mudarem de vida. Abraão, no entanto, disse que para uma mudança de vida bastaria que eles dessem ouvidos à Lei e aos profetas.

Alguns ricos são tão presos às próprias riquezas que nem mesmo a ressurreição de alguém seria capaz de fazê-los mudarem de vida. Outros fazem de tudo para serem novos “Midas”. Midas é um personagem da mitologia grega. Ele pediu aos deuses para que tudo o que tocasse se transformasse em ouro. Conseguiu esse favor, mas acabou morrendo de fome. O primeiro fruto que tocou transformou-se em ouro. Sendo assim, não pode comê-lo. Dessa maneira acabou morrendo de inanição.

As riquezas costumam cegar àqueles que a possuem. Embriagados por ela deixam de serem os seus donos e passam, na verdade, a serem seus escravos. O rico, sem nome, do Evangelho parece um tipo assim. Vivia no luxo e nunca enxergou nada, além de seus próprios interesses. Tarde demais acordou daquele delírio. Que pena! Tudo poderia ter sido diferente. Ele nem precisava abrir mão de sua riqueza. Bastaria não ser tão insensível às necessidades dos outros.  

Hoje temos um Nov tipo de rico movido à ostentação. Para esse tipo não basta ter. É preciso ter e exibir. Em plena recessão econômica, há quem compre uma mansão por seis milhões de reais e publica suas fotos nas redes sociais ignorando, completamente, a grande dificuldade de milhões de brasileiros que, mal conseguem pagar as contas ao final do mês. Esse abismo social que presenciamos deveria escandalizar a todos nós!

Imagem de Tumisu por Pixabay