Um sonhador que salvou o seu povo

 

José era invejado pelos irmãos que o consideravam preferido do pai Jacó (Gn 37). Certo dia, quando José foi trabalhar com seus irmãos eles disseram: Lá vem o sonhador! Vamos matá-lo... José de fato, havia interpretado, com acerto, alguns sonhos. Isso foi o bastante, para que desencadeasse a inveja dos irmãos que planejaram matá-lo. Os invejosos costumam agir assim, à moda de Caim que também matou o irmão por causa desse mesmo sentimento. Mas, na última hora, os irmãos de José mudaram de planos e o venderam por vinte moedas aos mercadores egípcios. Vendido como escravo José mais tarde, irá salvar todo o seu povo da fome. Deus é assim: Pode tirar coisas boas até das maldades humanas! Por isso, o povo costuma dizer que Deus escreve certo por linhas tortas. As linhas tortas são os nossos pecados.

Assim como José salvou os seus irmãos, Jesus que também foi vendido por trinta moedas, salvou todos nós da morte eterna. José, portanto, prefigurou àquele que deu a sua vida por nossa salvação. Mas voltemos ao caso dos sonhadores.

Um sonhador, dificilmente, é entendido pelos seus pares. Sonhadora foi Santa Dulce que transformou um simples galinheiro em um dos maiores hospitais na Bahia. Sonhadora foi Santa Teresa de Calcutá que, mesmo sem pretensão, criou uma obra para o mundo inteiro! Os sonhadores têm dificuldades em serem aceitos porque suas medidas são outras. Eles pensam diferente da maioria. O próprio Jesus foi considerado louco por seus parentes (Mc 3, 21). Isso também aconteceu com São Francisco de Assis e tantos outros santos!

Como entender que Fernando Martins de Bulhões e Taveira de Azevedo (Nome de batismo de Santo Antônio), pudesse deixar as glórias de uma carreira mundana brilhante, seja como militar ou professor universitário, para desejar morrer como mártir no Marrocos? Isso não iria parecer loucura às pessoas consideradas normais, naquele tempo?

Onde estão os sonhadores de hoje? Nosso mundo parece árido demais com o peso da realidade nua e crua. Precisamos de sonhadores individuais e precisamos sonhar coletivamente. Uma sociedade sem utopias torna-se insuportável, sobretudo, aos jovens que, por natureza são sonhadores. Sem os sonhos nós nos envelhecemos. A realidade, às vezes, torna-se insuportável para nós.  Precisamos de novos “Mahatma Gandhi” e “Martin Luther King”, líderes que sonharam com um mundo humano mais fraterno e mais habitável... O mundo perdeu a capacidade de chorar, como disse, certa vez, o Papa Francisco. Perder a capacidade de chorar é tornar-se árido e sem compaixão. Assim deixamos de ser humanos e nos tornamos lobos uns dos outros.

José foi vendido pelos irmãos e Jesus por um dos seus discípulos. Gandhi e Luther King foram assassinados. O mundo parece não suportar os sonhadores... Por que será?

Imagem de Tumisu por Pixabay